Amo a China! Assim como muitas outras pessoas que têm oportunidade eu vim para cá com bastante receio, pois não conhecia nada, e a ideia de um país comunista me assustava bastante. Muito diferente de todo o preconceito que eu tinha antes de sair do Brasil, a China conquistou e continua conquistando meu coração.
Por aqui ampliei as minhas noções de mundo através de uma troca de experiência riquíssima. A maioria das zonas fabris da China tem um custo de vida baixo se você fala mandarim. Quando você só sabe inglês, pode cair nas armadilhas cuidadosamente arquitetadas pelos donos de estabelecimentos para atrair estrangeiros a turismo, e vai apenas contratar os serviços bilíngues, que são mais caros, ou não vai ler para pegar ônibus e trem. Fato! Eu gosto de achar as melhores ofertas e os lugares mais reservados da cidade, podendo ler chinês no ponto de ônibus, ou saber qual fila pegar na linha de trem. A independência linguística vai além da financeira e é chave de ouro para ter uma real liberdade de escolha na locomoção e compra de serviços. Aquele restaurante que para uns pode parecer capenga, pode ter uma comida mais saborosa ou melhor atendimento do que um restaurante renomado. E usar o aplicativo em chinês do KFC para pedir comida no escritório não tem preço!
Vim parar num país onde eu não sabia falar nada do idioma; mal conseguia compreender as coisas. O mais importante sempre foi saber voltar para casa e a hora de voltar pra casa. O toque de recolher funciona por aqui! É bem gostoso viver com um frio na barriga de se aventurar por aí sem saber se vai realmente chegar onde quer. Vida de expatriado é isso! Se eu tivesse ficado no Brasil ainda estaria com aquela resistência e ficaria frustrada por não ter conseguido chegar no restaurante X, mas o restaurante Y também não é tão ruim. Se só conseguiu reserva para as 10 h da noite, ótimo, quem sabe a vista daquela mesa é mais bonita? A lição aqui é improvisar com o que se tem e saber se alegrar com as pequenas conquistas diárias. É uma vida onde você absorve informações que, no mínimo, te tornam mais seguras do que você é capaz de administrar e de tudo aquilo a que você é capaz de dizer não.
Bom, se você for louco que nem eu e estiver pronto para alçar voo, quiser sair do Brasil e começar de novo em outro país, as dicas que eu poderia lhe dar, baseada em minha experiência pessoal, são:
Não dê muita bola para o que as pessoas mais próximas a você estão dizendo.
Nossos pais querem nos proteger; nossos tios querem rir da nossa cara; nossos avós querem que tenhamos o que eles não tiveram. Ouça o que eles têm a dizer, mas não dê muita bola. Faça a sua pesquisa de campo. Procure agências ou pessoas que já realizaram intercâmbios e não tenha medo de perguntar. Procure a melhor forma para você, seja através de universidade ou através de contatos diretos dentro dos setores de multinacionais. Por isso, tenha em mente os seus pontos fortes quando for em busca de um novo desafio. Mostre que habilidades você tem que eles nunca imaginariam. O que você sabe, e que tem certeza que eles desconhecem? As entrevistas de emprego mais sinistras que eu já passei foram na época em que eu mal entendia ou falava inglês; o que vale é a confiança. Cada um leva uma visão diferente de mundo e só amplia os horizontes quem quer. Eu tive que enfrentar tudo que me garantia um conforto, deixar muitas coisas boas para trás e me desafio até hoje. Cuide bem de seus joelhos, coloque o filtro solar na bolsa e vá!
Vá, mesmo que o salário não seja satisfatório
A maioria das pessoas que eu conheci por aí iniciou sua carreira assim, em empregos onde nem existem funções bem definidas para você e que parecem trabalhos bobos que subestimam sua inteligência, ou trabalhos voluntários, mas que enobrecem o currículo. O importante é fazer tudo de forma legalizada e encontrar uma empresa séria no ramo em que for a sua carreira é fundamental. Em países onde a densidade populacional é muito grande, estrangeiro só consegue emprego se tiver uma habilidade muito especial que um habitante local não tenha. Procure conhecer a empresa, quem pode te dar um suporte no início, pessoas que trabalham lá, atualmente e ex-funcionários, tire suas próprias conclusões e vá.
Sujeite-se a fazer o que você não faria no Brasil
Estamos saindo de nossa zona de conforto e nem todo dia as condições serão agradáveis. Os maiores exemplos de pessoas que eu conheço hoje são pessoas que batalharam muito e levam uma bagagem cultural riquíssima. Uma vez uma amiga me falou que “é melhor ser pobre na Suíça do que rica num país de terceiro mundo”. Tudo é tão relativo, e só as mentes fechadas é que saem perdendo. Se eu não vou ter um ganho financeiro satisfatório, mas poderei viver num país onde a criminalidade é quase zero, porque não? Se eu vou ter que empacotar sacolas, mas poderei viver perto de quem eu amo, porque não?
Faça o maior número de amigos que puder!
Crie uma rede de contatos na nova cidade. Isso será bom tanto para sua carreira quanto para sua vida social. Amigos são fundamentais para ter uma vida feliz em qualquer lugar do mundo. Ninguém vive sozinho e você irá se surpreender, quando estiver com aquele febrão, com quem irá aparecer pra te ajudar.
Fonte : arquivo pessoal.
Aprenda a combater o estresse
É difícil se desafiar tanto sem criar grandes expectativas. Mesmo sendo fundamental que você o faça, tenha cuidado: grandes expectativas atraem grandes frustrações. Trace objetivos fáceis de alcançar mas tenha em mente que estará satisfeito mesmo se não alcançá-los. Uma sequência de objetivos fáceis alcançados ao longo de um ano se torna mais valiosa do que um objetivo impossível que ficou só no sonho.
E você, pra onde deseja alçar voo?