Quando nos expatriamos, além dos novos colegas de trabalho que ganhamos, temos a necessidade evidente de construir laços sociais com pessoas locais. Às pessoas que estão tendo agora a oportunidade de se expatriar e recomeçar a vida em outro país, deixo algumas dicas sobre o que é importante inserir à sua rotina para obter um crescimento tanto pessoal quanto na empresa.
O conceito de networking já é bem difundido no Brasil, mas algumas pessoas, ao migrarem, se esquecem da receita básica para se adequar à nova rotina. Acredite, o efeito da mudança nos primeiros meses é cruel, pois haverá vários obstáculos, mas tenha certeza que todos são superáveis.
O truque mais legal é encontrar sempre uma brecha para visitar restaurantes locais, e até mesmo eventos de networking promovidos na cidade. Crie o hábito de jogar fora seus cartões. Não se prenda a eles, mesmo que você ainda não esteja completamente segura do título que lhe deram na porta de entrada da empresa. Dê a sua versão dos fatos. Tenha em mente a posição que você quer alcançar, e não a que acabou de conquistar.
Crie o hábito de falar. Falar qualquer coisa, mesmo que não tenha opinião alguma formada. Fale! Fale em outro idioma, tente. Mude de ideia e veja como as pessoas reagem. Recrie o evento, chame as pessoas de volta ao lugar do encontro; crie laços. Muitas vezes, as pessoas não ficarão na cidade o mesmo tempo que você. Eu mesma cansei de ir em festas de despedida; elas doem de verdade, mas são ossos do ofício. Ainda bem que hoje em dia temos mais ferramentas de acesso a mídias sociais para darmos conta de tantas amizades.
Cartões de visita. Quando estiver naquele dia de bobeira que acabou por encontrar um serviço ou lugar bacana, lembre-se de pedir um cartão na saída. Sim, você leu certo, peça um cartão antes de sair do estabelecimento. Guarde-o e adicione uma nota, se preferir, sobre o que gostou nesse lugar. Um dia você irá encontrar o cartão e se recordará daquele dia, facilmente relembrando a recomendação ou a referência àquele local.
Um cuidado plausível é não misturar a sua vida social com a vida na empresa. A hierarquia da empresa deve ser respeitada. Se você for convidado a um evento da empresa, você precisa comparecer. Mas nem sempre você será bem visto se convidar colegas de trabalho àquela patota que só você acha demais, ok?
Faço ainda um adendo. Aqui na China, é imprescindível que você leve os endereços anotados em algum lugar. Nós nem sempre saberemos falar com clareza o endereço em mandarim, tá bom, motorista?
O mais engraçado que acontece aqui, na maioria das vezes, é quando conseguimos, por fim, ter a segurança de começar a falar em mandarim para o taxista o endereço certinho, e ser surpreendida com frases do gênero:
– Você fala mandarim?
– O seu mandarim é muito bom. Sério!
– Há quantos anos mora aqui? Tem gente que mora aqui há muito mais tempo, mas não fala mandarim tão bem assim.
Lembro ainda das primeiras tentativas, e das caretas medonhas que eu tinha que fazer para forçar o idioma. Lógico que precisamos forçar o idioma. Não sou chinesa, mas se um chinês fala que somos fluentes no idioma, ok, a gente deixa. Hoje em dia, quem sabe as caretas não sejam mais tão medonhas, mas o som que aprendemos para pronunciar essas palavrinhas… Acho que está ficando cada vez mais estranho.
A minha rotina incluía diferentes hotéis e noites em aviões. Numa rotina corporativa, os voos noturnos são mais requisitados, pois além de, geralmente, serem mais baratos, a gente já pousa prontos pro batente. As minhas viagens eram de curta duração, e por isso, o planejamento e um calendário fixo eram importantes para serem cumpridos, na chegada a outra cidade ou país.
Durante as viagens de negócios, os tempos livres eram poucos. E quando tinha tempo livre, a minha opção era sempre fazer um jogging, combinando o reconhecimento de área com algo para aliviar o estresse corporal (isso me ajuda a me manter mais controlada). Na maioria das vezes, os hotéis não comportavam academia, mas quando tinham academia, eu podia até optar por fazer o cardio nas máquinas. Porém, sempre achei muito mais legal reconhecer a área e sentir o clima da cidade nova ao ar livre mesmo.
Finalizo com uma dica para quem gosta de linguística e de estudar novos idiomas. Claro que falar dois idiomas ajuda, para não dizer que é requisito básico para uma carreira internacional, mas aconselho: estude, aprenda quantos mais idiomas puder e não tenha medo de fazer testes para nivelamento do idioma. Não há como descrever a emoção que você irá sentir quando receber o resultado da avaliação. Quando o teste, ou até mesmo aquela cartinha de aprovação na Universidade aparecer, só há mais um pré-requisito: coragem.