Escrevi anteriormente sobre aluguel de imóvel na Finlândia. Nesse artigo, escreverei sobre compra, porém deixo claro que falarei sobre minha experiência pessoal e sobre as informações que obtive referentes à minha situação. Pode ser que haja outras, portanto, se você que está lendo esse texto souber de mais dados que possam acrescentar, deixe um comentário dividindo sua experiência. Para quem tiver perguntas após a leitura, sinta-se a vontade para perguntar nos comentários também. Vamos lá!
Por conta de a maior parte de minha família ser finlandesa, minha experiência com o país – indo e vindo – já tem pouco mais de 20 anos. Me lembro como se fosse hoje, do quão impressionada fiquei quando, aos 19 anos de idade, fui a uma festa que um amigo de 21 deu, celebrando a compra de seu primeiro apartamento. Mais impressionante foi, nesta mesma festa, saber que quase todos os meus amigos daquela idade ou já haviam comprado ou estavam prestes a comprar seu imóvel.
Questionando sobre como aquilo era possível, sendo visível o fato de que ninguém alí era rico, descobri que todos compravam seus imóveis por meio de empréstimo bancário e que, por conta da baixa inflação e da estabilidade econômica, o valor não variava, os juros eram baixos e, mais impressionante: a prestação de um imóvel próprio muitas vezes era menor do que o custo de um aluguel.
O tempo passou, me mudei de vez, construí minha vida na Finlândia e, minha vez chegou!
Eu sempre escutava de amigos que já haviam comprado, que os bancos exigem que se tenha de 10% a 30% do valor do imóvel para dar de entrada para se conseguir o empréstimo. Essa informação me desmotivou um pouco, pois não tínhamos nem perto disso em nossa poupança mas, mesmo assim, achamos que valia a pena nos informarmos, nem que fosse para começarmos a nos preparar.
Algumas informações que obtive:
– nem todos os bancos exigem que você tenha dinheiro para dar de entrada e, mesmo dentre os que exigem, o valor vai depender do tipo de imóvel que você queira. Quanto mais caro, mais exigências, claro;
– muito mais importante do que ter dinheiro para dar de entrada é o tipo de garantia que você pode dar para demonstrar que terá como honrar sua dívida. Por exemplo: no caso de um casal, que pelo menos um dos dois tenha renda fixa e um contrato de trabalho permanente. O tipo de contrato de trabalho conta muito para que o banco considere confiável te dar o crédito. Também percebi que eles consideram mais seguro se a renda mensal da família for pelo menos 4 vezes o valor da prestação;
– ter um fiador pode substuir a necessidade da entrada: se algum familiar puder dar como garantia um imóvel, um terreno ou somente parte dele.
Todos os bancos finlandeses possuem departamentos específicos para prestar informação sobre o assunto. Alguns deles possuem um sistema muito legal em que você tem como fazer praticamente tudo online e por telefone. O banco que escolhemos disponibiliza uma calculadora de crédito em seu website. Nela, você preenche todas (e são todas mesmo) as informações sobre sua renda e custo de vida. Ao final, você recebe o resultado de sua chance de crédito com um valor aproximado. Isso nos ajudou muito porque nem precisamos perder tempo de falar com ninguém, usamos aquele valor como nossa “base de realidade”. Dalí em diante, fomos no site da oikotie, onde começamos a procurar por imóveis dentro daquela faixa de preço, nos bairros e municípios de nossa preferência. Esse site também disponibiliza uma calculadora que simula um valor aproximado da prestação que você pagará por mês, de acordo com a quantidade de anos, que fica a seu critério, sendo 25 anos o máximo possível.
Desde o início sabíamos que queríamos sair da área metropolitana da capital, mas por conta de trabalho e oportunidade, tínhamos que nos manter próximos. Escolhemos uma cidade que, apesar de estar fora de Helsinki, a viagem de trem dura apenas 40 minutos.
Não quizemos comprar um apartamento, mas sim uma casa. Nos decidimos por uma rivitalo; tipo de condomínio de casas geminadas com quintal cujo custo mensal da manutenção geral é dividido por todos os moradores.
Com essas informações em mãos, ligamos para vários bancos já com tudo pronto. Nos decidimos pelo banco cuja agência que nos deu o empréstimo fica no vilarejo onde meu marido nasceu; toda a família dele é correntista do banco há anos e isso ajudou muito. Essa é a minha outra dica: caso você esteja buscando por imóvel e seu cônjuge seja finlandês ou alguém que more aqui por muitos anos, tendo uma história num banco específico, vale a pena começar por ele.
Não tínhamos quase nada para dar de entrada, o que ficou como garantia foi 20% de um apartamento que a mãe do meu marido possui (ela aceitou ser nossa fiadora) e mais 80% de nossa própria casa, que por ter sido construída nos anos 80, é considerada nova e o banco aceitou como garantia. Pelo que entendi, eles não aceitam que se dê 100% da casa como garantia.
Com isso resolvido, buscamos pelo imóvel e, ao acharmos, entregamos ao banco todos os dados, incluindo um laudo sobre as condições do encanamento e condições gerais, que o proprietário normalmente tem em mãos. O banco aceitou a casa que escolhemos dentro das condições possíveis para nós e depois disso foi tudo muito tranquilo: uma reunião por telefone onde nos foram apresentadas três propostas de pagamento do empréstimo, uma reunião na agência para assinar os papéis e uma reunião em uma agência principal, em Helsinki, junto com o corretor e a proprietária, para a entrega das chaves e assinatura da escritura. Pronto!
Uma dica que considero preciosa é sobre o chamado imposto de transferência: caso o comprador ou compradores tenham menos de 40 anos de idade no momento da assinatura da escritura e estejam comprando sua primeira residência, terão isenção desse imposto. Este, se dá sobre as transferências de bens imóveis à alíquota de 4% do valor do imóvel, além dos valores mobiliários à taxa de 2%. Ele geralmente é pago pelo comprador. Leia mais sobre isso em inglês aqui.
Um conselho: tente fazer a simulação que fizemos para saber o valor aproximado do empréstimo que você conseguirá e procure pelo imóvel antes de ir ao banco, pois os procedimentos burocráticos são muito rápidos, muito mesmo. No meu caso, depois que encontrei a casa que queria demorou somente 10 dias para ter tudo 100% acertado. O mais difícil do processo todo, na minha opinião, foi encontrar a casa perfeita. Claro que isso depende de seu nível de exigência e de sua condição financeira. Se você tiver condições de comprar uma casa de 500 mil euros, por exemplo, vai conseguir opções bem melhores de casas novas, que possa só entrar e morar. Mas se seu orçamento for em trono de 200 mil euros e você quiser morar razoavelmente perto de Helsinki, pode ser mais difícil, pois as casas nessa faixa de preço geralmente precisam de uma boa quantidade de reforma. Comprar uma rivitalo foi mais fácil porque pelo fato de haver um condomínio e uma divisão de custos, as casas acabam por estar em condições melhores. Demos muita sorte com a que escolhemos, não precisamos fazer nada, nem pintar.
Espero ter ajudado e ficarei feliz em responder a possíveis dúvidas nos comentários. Leia mais sobre compra de propriedade na Finlândia aqui, em inglês.
3 Comments
Qual a faixa de preço de uma casa aí na Finlândia? (Casa/apartamento)
Prezada Emily,
Obrigada por seu comentário.
Não existe uma faixa de preços para a Finlândia como um todo. Os preços variam drasticamente de cidade para cidade, de município para município. Um exemplo: uma conhecida minha comprou um apartamento tipo estúdio, de apenas 20m2, numa área nobre de Helsinki e pagou 188 mil euros por ele. Este foi mais ou menos o preço que paguei pela minha casa, que tem 120m2, 3 quartos, 2 banheiros e um quintal grande, mas fica em Järvenpää, 40 minutos de trem de Helsinki. Abraços
Olá, muito legal suas orientações. Gostaria de informações sobre imóveis na área rural, 20.000 metros pelo menos.
Obrigsda