Brasileira dá dicas de como conseguir Bolsa de estudos na Dinamarca.
Na Dinamarca, ensino superior é gratuito para estudantes da União Europeia, Suíça e para quem participa de programas de intercâmbio nas Universidades do país. Para os demais estudantes internacionais, estudar em universidades dinamarquesas custa em torno de 6 mil a 16 mil euros por ano.
No entanto, várias bolsas de estudo são disponibilizadas em esquemas públicos e financiados nas principais instituições de ensino do país.
Algumas bolsas são destinadas para áreas específicas, como é o caso da Future Cropping para estudantes de engenharia e tecnologia, e da Erasmus Mundus, que abrange programas específicos de mestrado, como o de Jornalismo internacional.
O BPM entrevistou a mineira Maria Fernanda Lopes, 26 anos, que é bolsista de mestrado em ciência política na Universidade de Aarhus. Ela foi contemplada com uma bolsa integral disponibilizada pelo governo dinamarquês The Danish State Scholarship for high qualified students.
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Por que escolheu a Dinamarca?
Eu vim à Dinamarca, pela primeira vez, em 2014 quando consegui um intercâmbio pela minha universidade no Brasil – a Universidade de Brasília – para poder estudar International Business em Aarhus. Esse intercâmbio eu consegui por meio de um convênio que a minha faculdade tinha com a Aarhus Universitet.
Com relação ao processo seletivo dentro da minha faculdade, foi algo simples, mas nem tanto. Durante minha graduação participei de diversos projetos de extensão, cursos, dei monitoria e tutoria para outros alunos. Tudo isso contou. Depois de ser aprovada, pude escolher para onde queria vir. Depois, me candidatei ao intercâmbio e fui aprovada!
Aperfeiçoei meu inglês e aprendi dinamarquês. Vi muitas pessoas desistindo de aprender a língua. Mas eu não desisti. Acredito que esse foi um diferencial!
Quando voltei para o Brasil já sabia que queria fazer o mestrado aqui.
Terminei a graduação em Relações Internacionais em agosto de 2016 e escrevi a minha monografia comparando os sistemas de bem-estar social dinamarquês e brasileiro.
Como é o processo seletivo?
Foram 4 meses de preparação. Era essencial que eu tivesse todas as ementas dos cursos que fiz na UnB traduzidas para o inglês, bem como meu histórico acadêmico e meu diploma.
Para as ementas, traduzi por conta própria e a minha universidade autorizou que eu usasse, validando o documento com o carimbo oficial. Para o diploma e o histórico escolar, paguei um tradutor juramentado. Isso porque me candidatei para outras faculdades que exigiam tradução juramentada dos documentos, então, para facilitar, usei esses papéis para Aarhus também!
Também enviei o teste oficial de inglês. Optei por fazer o TOEFL, apesar de que Aarhus também dava a opção de fazer o IELTS.
Também precisei mandar meu currículo, carta motivacional e cartas de referência. Acredito que um diferencial foi ter participado de diversos projetos de extensão e estágio, já que isso é realmente levado em conta. Também enviei cartas de referência de pessoas que trabalharam comigo, essencial para dar crédito à sua inscrição.
Em janeiro de 2017 enviei tudo. Sabia que as chances da bolsa seriam mínimas.
Em março recebi o email de aprovação para o mestrado em Ciência Política na Aarhus Universitet. Foi um dos melhores dias da minha vida. Bom, parcialmente. Também recebi outro papel falando que não havia possibilidades de bolsa. Logo, eu deveria pagar 4,500 euros por semestre (18 mil euros ao todo) apenas para a faculdade. Fora custos de vida, alimentação, moradia etc.
Era impossível para mim. Vim de família simples. Mesmo assim, não desisti e marquei que viria. Pensei: hoje, em março, não tenho dinheiro, mas quem sabe ganho na loteria ou arrumo um emprego bom? Talvez possa conseguir o dinheiro até o prazo final, que era junho.
Não ganhei na loteria nem arrumei um emprego milionário. Em abril, o coordenador do curso enviou um email para que eu escolhesse a matéria optativa que faria no primeiro semestre. Ignorei aquele e-mail. As chances já estavam perdidas e eu não tinha o que fazer.
Em maio o professor manda outro lembrete para mim. “Enviei as matérias para o mestrado, você recebeu? Qual você vai fazer?”. Dessa vez, respondi. Disse que, apesar de ser o meu sonho, sonhos não são gratuitos. Precisava de dinheiro para realizar, o que não tinha. Disse que batalharia para consegui-lo e me candidataria para o próximo ano novamente. Pedi que ele não considerasse a minha ausência no curso uma falta de vontade de ir, mas, sim, falta de recursos.
Sete dias depois ele me enviou um email. Eu tinha acabado de chegar de uma entrevista de emprego mal-sucedida. “Oi, que pena! Então, durante essa semana estava procurando meios de trazer você para cá e descobri essa oportunidade de bolsa. Temos uma disponível, você aceita?”.
Era uma bolsa integral com manutenção de custos de vida por 22 meses na Dinamarca.
Dá para viver com a bolsa?
Comecei a receber a bolsa apenas em setembro. Tive que arcar com os custos do visto (uns 3 mil reais), passagem (outros 3 mil) e hospedagem para os primeiros dias.
No primeiro mês, a Universidade te dá uma bolsa dobrada, ou seja, eu recebi dois pagamentos no mês de setembro. Isso é para ajudar com os custos de instalação.
A bolsa é suficiente, mas depende de quão econômico você é. O meu objetivo era viver consideravelmente bem para um estudante, mas também queria guardar dinheiro, já que o meu próximo sonho é fazer um Ph.D aqui e eu sei que também será difícil conseguir.
Fora o auxílio financeiro, ainda tenho o curso pago pela faculdade.
A Universidade não dá acomodação, mas você pode morar em residências estudantis por um preço bem melhor do que o preço de mercado de imóveis dinamarquês. Para conseguir uma residência estudantil, você precisa se cadastrar no site e ganha pontos de fidelidade todos os meses. Quanto mais meses de cadastro, maiores suas chances de conseguir lugar para morar.
Como eu só fiquei sabendo da bolsa em junho, não tive muito tempo para procurar um local para morar e também não consegui ganhar meses de fidelidade suficientes para uma acomodação estudantil já em agosto. Então, morei num trailer – uma opção que a prefeitura de Aarhus em conjunto com a casa do estudante – de agosto a outubro. Morei na casa de um amigo de outubro a janeiro e só depois consegui ir para o meu apartamento estudantil.
Qual foi a maior dificuldade de adaptação no país?
O mais difícil foi usar o dinamarquês diariamente.
É possível estender o visto de estudante depois de formado?
Ao fazer o mestrado ou o Ph.D. na Dinamarca, você tem direito de ficar pelo menos seis meses a mais do seu estudo para procurar emprego. Isso já vem no visto. Então, em vez de ser um visto de 2 anos, é um visto de dois anos e meio.
A pessoa também tem o direito de se candidatar para o Establishment Card. É um visto apenas para quem fez o mestrado ou o Ph.D aqui e ele só pode ser requisitado uma vez e tem a duração de dois anos. Nesse tempo, você pode trabalhar full time sem precisar de um visto de trabalho. Para se candidatar, é necessário ter uma quantia em conta corrente pessoal ou ter um contrato de trabalho nos valores exigidos pelo governo dinamarquês.
Quais as dicas que você dá para quem quer tentar uma bolsa aqui?
Bolsa de estudos na Dinamarca é algo difícil e quase inexistente, mas não é impossível. Para conseguir, a pessoa tem que ir muito além de ter excelentes notas. Projetos de extensão, tutorias, estágio e intercâmbio são essenciais.
Sei que para quem vem para estudar Engenharia ou outras Ciências Exatas, o processo é diferente e há outras opções de bolsas. Mas não é o caso de Ciências Humanas.
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Sou grata por todas as oportunidades que o país tem me dado. O pós término de mestrado também não é fácil, caso você opte por morar aqui. Conseguir um emprego sem falar dinamarquês é difícil e as vagas para língua inglesa são sempre bem concorridas. Mas acredito que sempre dará certo, basta batalhar para isso.
1 Comment
Parabéns..fico feliz por vc! Eu consegui uma bolsa para fazer parte do meu doutorado em Copenhague e fiquei muito feliz! Consegui isenção dos custos da Universidade, “casa do estudante ” e um auxílio em dinheiro pago pelo governo dinamarquês..em setembro estarei lá. Em tempos de obscurantismo na carreira universitária no Brasil, as oportunidades via instituições dinamarquesas foram fundamentais para eu seguir em frente na carreira acadêmica!! Consigo imaginar o quanto vc deve estar feliz e orgulhosa!! Parabéns de coração.