Como decidi fazer mestrado na Alemanha.
Há sete meses, chegávamos na Alemanha com planos para ficar. Eu e meu marido com todas as malas que tivemos direito e o rosto ainda meio inchado por chorar nas despedidas e dormir mal no avião. Estava frio e a paisagem com neve que parecia tão bonita todas as vezes que vim passar férias aqui, certamente não estava me animando desta vez.
O meu nível de ansiedade estava alto ao pensar em tudo que eu encontraria nesta nova vida. Mas o que nos fez tomar essa decisão de nos mudarmos? Em uma resposta bem direta, a vontade de estudar fora do Brasil, e aqui vou compartilhar como decidi fazer mestrado na Alemanha.
Em 2012, eu vivi um ano na França e na Espanha estudando, mas precisei voltar ao Brasil para concluir o último ano da graduação. Neste ponto, surgiu o desejo de um dia fazer um mestrado. O tempo foi passando, muitas coisas aconteceram, mas a vontade continuou lá.
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A decisão pela Alemanha
Conheci meu marido (que é alemão, mas morava em São Paulo) e então comecei a pensar que se não fosse em breve não seria nunca, pois tinha também o sonho de começar uma família e sabia que me acomodaria cada vez mais no trabalho. Com certeza para mim, cada ano que passava ia se tornando mais difícil pensar em ”largar tudo“ e ir fazer um mestrado, em voltar a ser estudante.
Ele me apoiou quando comecei a falar deste desejo, pesquisamos alguns lugares, mas no fim chegamos a conclusão de que a Alemanha seria uma boa ideia porque é o país dele, teríamos a facilidade de ter a família dele por perto, em teoria seria mais fácil também para ele conseguir um trabalho, e eu já conhecia bem o país e gostava bastante.
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Eu estudava alemão há mais de um ano em São Paulo, mas certamente o meu nível de fluência no idioma não me permitiria fazer um mestrado, precisávamos de uma opção em inglês.
Pesquisamos bastante, eu assisti vários webinars de universidades alemãs, até que um dia achei uma opção que realmente englobava o que eu queria. É uma universidade privada de ciências aplicadas especializada em comunicação e negócios, e o mestrado que eu gostei era gerenciamento de comunicação e mídia.
Meu bacharelado foi em jornalismo, mas acabei trabalhando quase minha vida profissional inteira com relações públicas. Achei que um curso como esse poderia me acrescentar informações que não tive durante a graduação e abrir meus horizontes.
A faculdade tem campus em quatro cidades, mas escolhemos Munique por ser perto da vila de origem do meu marido. Poderíamos morar lá e eu ir de trem para a capital da Baviera facilmente.
Contatei a faculdade e agendamos uma entrevista por Skype para eu conhecer mais e tirar minhas dúvidas. Essa entrevista me convenceu de que era realmente o que eu queria, então em seguida forneci a documentação com tradução juramentada (diploma da graduação, histórico escolar do bacharelado, currículo, duas cartas de recomendação, uma carta de motivação e certificado de proficiência em inglês).
Pedi as cartas para um professor da graduação e para a minha ex-chefe. O exame de proficiência que eu tinha expirou dois meses antes (o prazo de validade é de dois anos), então tive que agendar um novo TOEFL. Fiquei muito aflita com relação aos prazos, pois era novembro e as aulas começariam em março.
Não queria ter que esperar mais um ano para começar. Estava preocupada se também teríamos tempo para fazer toda a documentação do nosso cachorro para a mudança. Não queria ir sem ele.
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Ao mesmo tempo, estávamos organizando nosso casamento, que foi em dezembro. Quase fiquei louca para gerenciar trabalho, casamento e mudança para outro país, mas sobrevivi.
Após a entrega da documentação, tive ainda uma entrevista por Skype com um professor do mestrado. Ele queria saber sobre minhas experiências profissionais e acadêmicas, motivações, o que me atraía como tópico de pesquisa e como eu me sentia em relação a estudar muitas disciplinas ligadas a matemática, ja que não era uma área com a qual eu demonstrasse ter familiaridade.
A boa notícia
Por fim, recebi a notícia de que fui aprovada, em janeiro. Eu e meu marido não tínhamos contado para ninguém sobre todo o processo ainda, então foi o momento de falarmos para nossas famílias e amigos, em seguida para nossos chefes. Todos reagiram bem e nos apoiaram, o que definitivamente facilitou muito para nós. Era o momento de resolvermos as questões de ordem prática.
Primeiro de tudo, a documentação (um desafio adicional foi que mudei meu nome quando me casei, então tive que atualizar todos os documentos), começamos os procedimentos para o nosso cachorro vir (nesta parte tivemos vários percalços e para encurtar a história, ele só conseguiu vir em maio, mas agora está superfeliz por aqui).
Também fiz o teste de proficiência para o nível A1 em alemão porque o consulado me informou que era relevante para o visto aqui. Notificamos a imobiliária que devolveríamos o apartamento que era alugado, e aí começou a parte de decidir o que poderíamos trazer…
Eu sou desapegada, mas não é fácil decidir o que levar em uma mudança para outro país. Por outro lado, meu marido é super apegado às coisas dele. Precisamos alugar uma van aqui na Alemanha para irmos até a nossa cidade, pois as malas não caberiam em um carro comum.
Claro que não é fácil tomar essa decisão e qualquer escolha significa ganhar em alguns pontos e perder em outros. É duro dar adeus ao conhecido e se jogar em uma realidade completamente diferente da sua, por mais que você conte com a ajuda de outros.
O mestrado dura um ano e meio, mas certamente não voltaremos para o Brasil quando acabar em julho do ano que vem. Não sei se um dia voltaremos, mas tá tudo bem. Aos poucos vou me adaptando, aprendendo, gostando e me abrindo para novas possibilidades. Para mim, o maior aprendizado tem sido viver um dia de cada vez.
11 Comments
Larissa,
Eu li que pra conseguir o visto precisa de uma conta bloqueada com 8640 euros (720/mês pra 12 meses).
Se o mestrado for mais de 1 ano, eu preciso tem o correspondente ao tempo ? (15 meses de mestrado – 10800 euros).
Oi Fernanda, tudo bem?
Obrigada pelo interesse no post 🙂
Eu nao fiz o visto de estudante, acabei optando pelo de Reunião Familiar. Mas para o visto de estudante voce precisa ter o valor correspondente a um ano (720 euros por mes ou 8640 euros para o ano) mesmo que a duração do curso seja mais longa.
Talvez esse link do Consulado alemão te ajude: https://brasil.diplo.de/blob/1051460/ee39bdb6fea5e3fac7762948cf1d4deb/merkblatt-finanzierung-studienaufenthalt-pt-data.pdf
Espero ter ajudado.
Abraco!
Larissa, gostei bastante do seu depoimento! Poderia me falar como está sua experiência com o mestrado atualmente? Tenho medo de decidir ir e não dar conta… Ja morei na Alemanha por 7 meses e tive contato com estrangeiros que estavam fazendo o bacharelado em Berlim. Apesar de uma delas ter me dito que foi a melhor decisão que ela fez na vida dela (de estudar na TU Berlin), fico receoso de não conseguir acompanhar o ritmo.
Oi Frederico, tudo bem?
Muito obrigada pelo comentário. Fico feliz que você gostou do texto.
Para mim demorou um pouco para eu me acostumar com o ritmo do mestrado porque já fazia cinco anos que eu tinha terminado minha graduação no Brasil e é bem diferente da rotina de trabalho, né?
Eu tenho aula três vezes por semana, mas uma carga bem grande de textos para ler em casa e projetos para fazer. No primeiro e segundo semestre, tive cinco disciplinas em cada e agora no terceiro tenho duas e a tese. Todas as disciplinas tem provas (podem ser escrita ou oral) ou um projeto/paper para fazer em grupo. E claro, os alemães têm expectativas altas nos mestrandos (tanto os professores quanto os colegas).
Eu acho que é possível dar conta sim, mas sem duvidas exige bastante dedicação e tempo.
E pode acontecer de algumas disciplinas você não ter muita afinidade e isso torna o aprendizado mais difícil. No meu caso, o mestrado é em comunicação, mas tive estatística e matemática para negócios e depois contabilidade e finanças. Essas exigiram uma dose extra de esforço.
De qualquer forma, eu acho que vale a pena sim. Você acaba conhecendo também como as pessoas de outras culturas trabalham, tendo ofertas de emprego e claro aprofundando seu conhecimento. Receio sempre vamos ter, mas se não tentarmos nunca vamos saber 🙂
Espero ter ajudado e qualquer dúvida estou por aqui.
Abraço!
Oii Larissa, adorei suas informações. Gostaria de saber pra quem tem cidadania de outro país da UE, o que precisa para poder residir na Alemanha?
Oi Nádia, tudo bem?
Muito obrigada pelo comentário <3
Que ótimo que você gostou do artigo.
Para quem tem cidadania de algum país da UE, não precisa visto. Então não tem exigências quanto a nível de proficiência no idioma, um certo valor em uma conta bancária aqui, etc…
Você vai ter que se registrar na cidade onde for morar, mas isso os alemães também precisam quando mudam de endereço. E também é obrigatório para quem mora aqui, independente da nacionalidade, ter um seguro de saúde.
A CNH brasileira é aceita por seis meses, mas depois disso você precisa transferir e esse procedimento exige provas teórica e prática aqui (porém, não tem a obrigatoriedade de fazer aulas. Apenas passar nos testes).
Com certeza ter cidadania facilita bastante para se mudar para cá, para poder permanecer por tempo indeterminado e para conseguir emprego 🙂
Espero ter ajudado.
Abraço!
Oi Larissa!
Estou pesquisando recentemente referente a mestrados na Alemanha e gostaria de saber, é possível trabalhar e estudar? Tipo, vi que pelo visto de estudante tu só poderias trabalhar 20 horas semanais, isso é valido para mestrado também? Ou se entrar com o visto de reunião familiar, como tu falou que fizeste, consigo trabalhar mais tempo e fazer mestrado também?
Oi Camila, tudo bem?
Muito obrigada pelo seu comentário 🙂
Sim, é possível estudar e trabalhar na Alemanha quando se faz um mestrado aqui. O visto de estudante só permite uma carga horária de trabalho de 20 horas semanais. É a mesma regra para o mestrado.
De qualquer forma, eu acho um pouco difícil conseguir trabalhar mais horas do que isso porque a demanda do curso é intensa (são muitas leituras, apresentações e todas as disciplinas tem avaliações no final do semestre. Sem contar as aulas, claro).
Há varias opções de trabalhos para estudantes de mestrado relacionadas a área de estudo, mas geralmente variam de 10 a 20 horas por semana e apenas no período de férias da universidade é possível fazer uma carga horária maior. No entanto, essas empresas são bem flexíveis quanto ao horário de trabalho.
Se você tiver um cônjuge alemão, pode fazer o visto de reunião familiar, que acabou sendo a minha opção. Esse permite fazer mestrado e trabalhar período integral (o único ponto negativo é que eventualmente pode ter a obrigatoriedade de fazer o Integrationkurs).
Tenho um outro artigo publicado aqui no BPM sobre vistos, talvez te ajude a entender melhor 🙂
Segue o link: https://brasileiraspelomundo.com/passo-a-passo-para-visto-de-reuniao-familiar-na-alemanha-0404106361
Mas qualquer coisa também estou a disposição para responder qualquer dúvida.
Abraço!
Obrigado pelo seu Post! estou me preparando para aplicar a um mestrado na alemanha e seu texto me inspirou muito!
Boa noite, Larissa.
Você poderia enviar o link do curso de mestrado que você escolheu fazer? Curso publicidade e propaganda e me interessei pelo mestrado em gerenciamento de comunicação e mídia.
Olá Vitória,
A Larissa não faz mais parte do nosso time de colunistas.
Agradecemos pela visita.
Equipe BPM