Viver nos subúrbios ou nas cidades americanas? Grande questão!
Assim que me mudei para os EUA, fomos para o estado da Virginia, pertinho de Washington DC e seguindo recomendações de conhecidos, decidimos morar no subúrbio, a algumas milhas da capital.
Já escrevi um bocado sobre essa experiência aqui.
Depois de três anos, por motivos de emprego, nos mudamos para o extremo oposto do país: a cidade de Seattle, no estado de Washington.
Para quem não sabe, Washington é um dos últimos estados americanos, fazendo fronteira com o Canadá, na porção nordeste dos EUA. Estamos hoje, mais próximos da Ásia do que da Europa, e há cerca de 28 horas de distância do Brasil – não há voos diretos para São Paulo!
A primeira questão que surgiu quando soubemos da mudança foi: vamos viver no subúrbio ou na cidade?
Imediatamente, todos da minha família responderam sem pestanejar: cidade! E aqui estamos nós, vivendo dentro da cidade de Seattle, com vista para a Space Needle.
Por quê? Quem vive nos EUA e entende um pouco sobre a cultura americana pode estranhar essa decisão, afinal temos duas filhas e a escolha óbvia é sempre o subúrbio.
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No subúrbio poderíamos morar em uma casa duas vezes maior que a nossa, e mais luxuosa, pelo mesmo preço. Teríamos escolas públicas de excelente qualidade, além da ausência de trânsito e problemas comuns em cidades grandes, como o grande número de moradores de rua. Um dado importante: Seattle é uma das cidades com a maior população de moradores de rua do país.
Abrimos mão de tudo isso e vou explicar as razões:
- Gostamos de diversidade! A vida no subúrbio carece dessa característica. Claro, que por ser um país de imigrantes, há pessoas de diversas partes do mundo, mas o subúrbio pasteuriza isso. Apesar de diferenças culturais, o nível social e as expectativas de vida são muitíssimo parecidas. Quase todas as casas do subúrbio são de famílias com filhos em idade escolar, dentro de um bom nível sócio-econômico. Até as casas são parecidas, assim como os condomínios, variando claro, em tamanho e luxo, mas não em aparência e funcionalidade. Na minha opinião, carece de personalidade!
- Acreditamos que nossas filhas precisam ter uma experiência de vida real, expostas de verdade, a tudo que isso representa. Um grande exercício de diversidade é o uso de transporte coletivo. Nas escolas de Seattle, não existem os famosos ônibus amarelos depois da 5. Série, ou a Middle School. Assim, as crianças andam de ônibus regular, possuem cartão de transporte, etc. e aprendem desde cedo a conviverem com vários tipos diferentes de pessoas, além de entenderem a dinâmica de dar lugar a um idoso, ceder a passagem a uma mulher com criança de colo e principalmente aprenderem a caminhar sozinhos.
- A cidade tem uma vida cultural intensa e dinâmica, extremamente diferente do subúrbio e por mais que morássemos cerca de 25 minutos de Washington DC, não tem como se comparar a facilidade de decidir de última hora, ir andando até um dos inúmeros bares ao lado de casa, para tomarmos um drink. Além disso, quase toda cidade grande americana tem inúmeros parques e centros comunitários, que oferecem atividades gratuitas o ano todo. No verão, em Seattle, há concertos de música no Zoológico, passeios de barcos em todos os lagos, atividades esportivas na praia, etc. etc
- Por morarmos na cidade e utilizarmos muitas vezes transporte coletivo e bicicletas, sinto que nos exercitamos muito mais. Agora que a chuva e frio do inverno passaram, quase todos os dias pedalo no lago de bicicleta no final da tarde, além claro de ir ao supermercado e ao café, caminhando. Como mãe, me sobra mais tempo, porque minhas filhas conseguem se locomover com mais independência e não precisam tanto de mim, dirigindo-as para cima e para baixo.
- Acreditem se quiser, gosto de ruído e movimento. Moderado, claro! Moro em um bairro mais residencial, com ruas tranquilas e arborizadas, mas ainda assim, ouço e sinto o movimento dos ônibus, dos carros e dos inúmeros pedestres que passam pela rua. Sofria, e muito, com o sentimento de isolamento na minha antiga casa, que apesar de estar em condomínio no “centro” da cidadezinha onde morava, eu passava dias e dias ouvindo somente os meus próprios pensamentos. Claro, que isso é muito pessoal, e cada um sabe aquilo que melhor lhe agrada.
- Meu trabalho tem flexibilidade de horário e local e adquiri um hábito de cidade grande que gosto muito. Trabalho em cafés pela cidade, e não necessariamente isolada dentro de casa. Adoro essa liberdade, de carregar meu computador e escolher um dos inúmeros cafés da cidade, com internet e pessoas como eu, que estão trabalhando. Me sinto inspirada e escrevo, olhando o movimento da cidade pela janela, enquanto tomo meu cappuccino.
- Moradores de cidades americanas tendem a ser mais jovens e com a cabeça muito mais aberta a diálogos e diversidade. Senti isso na pele. No subúrbio não conseguia me encaixar no perfil comum, de mãe e dona de casa que participa ativamente de atividades escolares e esportivas. Sou uma grande fã dessas mulheres, mas nunca me senti realizada com esse tipo de atividade e senti dificuldade em encontrar pessoas com objetivos comuns aos meus. Eu que era a diferente! Em Seattle, em pouco tempo, já encontrei grupos de pessoas muito parecidas. Fica fácil organizar programas e atividades com interesses mútuos e a vida social está mais agradável.
Essa é uma questão absolutamente pessoal e não há certo ou errado. Cada família deve avaliar bem seu perfil, seus interesses e gostos e decidir pelo que for melhor. Tenho a sorte de ter um marido e filhas que pensam como eu, e assim, essa foi a melhor opção para o nosso perfil, pelo menos nesse momento de nossas vidas.
Um dado interessante: nas minhas infinitas pesquisas sobre o assunto, quando precisávamos tomar uma decisão, encontrei pouquíssimas referências ou relatos de famílias que optam por criarem seus filhos nas grandes cidades americanas. Para mim foi um alívio descobrir que não somos os únicos e que isso, além de possïvel, é extremamente agradável.
E você? Tem algo a compartilhar? Deixe seu comentário! Até mês que vem.