Como é morar em Toronto, a Babel do Canadá.
Todo mundo ouve falar que o Canadá é um país multicultural, com imigrantes de todos
os cantos do planeta, o que é verdade absoluta. Mas a gente só consegue dimensionar o
tamanho dessa diversidade cultural e linguística quando coloca os pés aqui.
Toronto, por ser a maior cidade Canadense, mais próxima dos EUA e repleta de escolas, faculdades e empresas, concentra uma grande parte dessa interessante mistura. A cidade em si tem cerca de 2,8 milhões de habitantes, mas se contarmos os moradores da GTA (Grand Toronto Area, que agrega as cidades próximas), chegamos a uns 6,1 milhões de moradores.
É aqui que estão as maiores empresas do país, bem como instituições culturais e artísticas, então é bem natural que seja o local mais procurado por novos moradores. Essa diversidade chega a números impressionantes: cerca de 49% da população nasceu fora do Canadá! Isso sem contar crianças que nasceram aqui, mas cujos pais chegaram há pouco e mantém suas tradições locais dentro de casa. Com isso, estima-se que dentro de duas décadas entre 77% e 81,4% da população de Toronto poderá ser de imigrantes ou de filhos de, pelo menos, um imigrante.
Nós chegamos no Canadá há pouco tempo, com muitos planos e sonhos como todos os
que estavam desembarcando conosco. E já na sala de imigração do aeroporto dava para ter uma ideia do que nos esperava. Orientais, ocidentais, casais, velhos, crianças, mulheres de burca e homens com aqueles chapéus típicos indianos se misturavam na fila de atendimento, aguardando pelo carimbo no passaporte e o caminho para realizar seus sonhos. Famílias inteiras, muitas vezes com apenas um dos integrantes falando (pouco) inglês, iam sendo atendidas, uma a uma, pelos oficiais de imigração, que pareciam já estar acostumados àquela mistura. E aparentemente existe espaço para todos.
De acordo com o Statistics Canada (espécie de instituto de pesquisas local), entre 2015 e 2016 o país recebeu cerca de 321 mil imigrantes, o que apesar de ser muito, ainda não é suficiente para suprir a demanda de mão de obra, visto que o Canadá é um país imenso, mas com população pequena em relação ao seu tamanho.
Voltando à Toronto, não importa onde você vá, é certo que irá cruzar seu caminho com línguas diferentes. Ruas, metrô, lojas, shoppings, não importa. A cidade tem diversas
áreas de concentração de etnias, como Little Italy, Little Portugal e Chinatown. Essa última,
aliás, é um caso à parte. Tem tantos imigrantes orientais na cidade, que dizem existir umas 4 Chinatowns diferentes aqui, sendo que a principal fica na altura da Spadina’s Bloor.
Visitá-las é uma imersão cultural à China, Coreia, Vietnã, Japão, Mongolia, etc. Tem lojinhas para todos os lados e a gente tem a real sensação de que não está no Canadá, pois o idioma oficial nas ruas, definitivamente, não é o inglês.
Mas não é necessário ir até Chinatown para apreciar a culinária oriental em Toronto.
Tenho a impressão de que a comida típica canadense não é o poutine (batatas fritas com
coalhada de cheddar e molho de carne), mas sim uma mistura de gostos orientais. Para onde se olha, seja em restaurantes modestos no meio da rua, em grandes cadeias de fastfood ou ainda em locais com cardápios mais refinados, é possível comer absolutamente de tudo.
Acredite, vejo mais restaurantes de comidas estrangeiras do que de hambúrguer e pizza, algo que logo se pensa quando falamos de Canadá e Estados Unidos. No quarteirão mesmo que eu moro, existem uns dez locais orientais para comer. E nenhum de hambúrguer.
A babel cultural de Toronto também é facilmente vista nas escolas. O número de
estrangeiros cursando faculdades e cursos de pós-graduação na cidade é imenso e, em parte, pode ser explicado por facilitar bastante o processo de entrada como residente permanente no país.
A primeira vez que entrei no meu College, onde vim estudar Design Gráfico por três anos, fiquei encantada com a quantidade de estrangeiros como eu. São tantos, que logo na entrada temos acesso ao “International Centre”, para facilitar a vida de quem chega cheio de dúvidas.
Já na escola dos meus filhos, por exemplo, fui informada que somente nesse ano letivo de 2017 /2018, 22 alunos estrangeiros, das mais diversas nacionalidades, foram ali matriculados. Algo que eu, mãe de dois meninos recém-chegados e cheios de expectativas, adorei saber. Confortou o coração saber que eles não seriam os únicos a ter dificuldades iniciais nas primeiras semanas e que teriam profissionais acostumados à essa diversidade ao redor deles. Aliás, me conforta também saber que eles conviverão, na real, desde cedo, com diversas nacionalidades e que esse mix ajudará a afastar cada vez mais os preconceitos raciais que encontramos em todo o mundo de hoje.
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O apartamento que alugamos era anteriormente ocupado por uma família de iranianos. No mesmo prédio convivem canadenses “da gema” com indianos, árabes, orientais, etc. Aliás, mais uma curiosidade relacionada aos orientais é que o Canadá tem diversos prédios
construídos por eles e, por algum motivo de superstição, esses prédios não têm o número 4 nos andares (parece que o som do “four” remete a palavras não muito agradáveis para eles), então, do 3º passa-se ao 5º. É curioso e engraçado, mas logo nos acostumamos. Também é comum não ter o número 13 nos prédios, para não dar azar.
Com tantos estrangeiros, acaba não sendo muito difícil encontrar alguns ingredientes
típicos para fazer uma comidinha em casa com gosto caseiro. Além dos mercados específicos, as grandes redes como o Loblaws, Walmart e No Frill’s reserva corredores para comidas internacionais, facilitando a vida de quem está com saudades de casa. Nós ficamos felizes em encontrar um mercado português que vende carnes com cortes mais parecidos com os nossos no Brasil, coxinha de galinha, guaraná e, principalmente, pão de queijo, lanche favorito dos meus meninos quando morávamos no Rio de Janeiro. Não é pertinho de onde moramos, mas vale a visita de vez em quando para abastecer o freezer e ver a carinha de contente deles.
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