Como é trabalhar com atendimento ao público na Austrália
Desde que larguei meu emprego no Brasil e mudei para a Austrália, o que mais me perguntam é: “Com o que você está trabalhando aí?”. Então o que eu mais ouço como resposta: “Nossa, mas com atendimento ao público? Não tem nada a ver com a sua área de formação!”. Pois é, não tem a ver mesmo e eu vou contar para vocês um pouco do que é esse meu novo mundo do outro lado do mundo.
Quando decidi vir para cá, comecei a pensar nas opções que teria de emprego. É claro que o ideal seria continuar trabalhando com engenharia de alimentos, que é minha área de formação, mas minha ideia inicial era realmente começar do zero e tentar algo novo. As opções de emprego mais comuns para as recém-chegadas por aqui são: faxineira, babá, controlador de trânsito, garçonete. Entre todas essas, logo de cara decidi que queria ter contato com o público para aprimorar meu inglês, então a opção que me pareceu melhor foi ser garçonete.
No primeiro mês, fiz um curso de Business English, em Sydney, que me ajudou bastante nas tarefas de construir uma carta de apresentação e um currículo voltados para essa nova área. A parte mais difícil foi encontrar alguma experiência profissional que se encaixasse nessa área, é claro. Coloquei lá os buffets infantis onde trabalhei quando era mais nova, a loja no shopping onde ajudava meus pais nas férias, tudo que pudesse se aproximar da experiência de contato com o público e enriquecesse um pouco esse novo currículo. Antes de sair do Brasil, fiz um curso de barista e outro de bartender, que foram ótimos para abrirem a minha visão e me trazerem conhecimentos mais específicos sobre cafés e bebidas no geral. Finalizado então, imprimi algumas cópias e saí de porta em porta entregando. Sim, aqui valorizam muito o fato de você ir até o lugar e mostrar a sua cara logo no primeiro contato.
Resolvi ir para um lugar mais turístico e o meu escolhido foi a Darling Harbour, onde ficam muitos bares e restaurantes voltados para os turistas que sempre estão pela cidade. Pedi para falar com os gerentes e entreguei meu currículo em alguns restaurantes, no terceiro deles a gerente gostou de mim e pediu para voltar no final de semana para um trial, o chamado teste prático deles. Era meu último dia de aula, então saí correndo e fui para lá direto. Nesse teste, você faz de tudo um pouco, eles te explicam como funciona o restaurante e você tenta ajudar como puder, já desempenhando a função para a qual está concorrendo. Bom, gostaram de mim e eu fui contratada.
Esse era um restaurante italiano e, no começo, eu gostava de trabalhar lá, mas depois fui percebendo como todo mundo era grosso e sem paciência. Na cozinha era um pesadelo, os chefes não tinham educação alguma e viviam gritando e xingando o pessoal. Quando íamos reclamar para o gerente, ele era tão mal-educado quanto os outros e não fazia o mínimo para explicar direito qualquer coisa. Depois de um mês trabalhando lá, apareceu em um grupo no Facebook um anúncio de um restaurante novo na Circular Quay, que estava abrindo e contratando pessoal para trabalhar como garçom. Candidatei-me, então, para essa vaga.
Nesse novo restaurante, fiz uma entrevista com o gerente e fui contratada. Nosso treinamento até o restaurante abrir foi na Darling Harbour, então consegui manter os dois empregos por um tempo. Depois que ele mudou para a Circular Quay, larguei o restaurante italiano e mantive só o outro. Nesse segundo lugar fiquei por 6 meses, que é o tempo máximo de trabalho permitido pelo meu visto para o mesmo empregador. Esse foi o lugar onde mais gostei de trabalhar no meu primeiro ano aqui, pelo clima bom entre as pessoas e também por sentir que valorizam muito o treinamento da equipe e que há respeito com os funcionários. Gostei tanto que no meu segundo ano de visto voltei a trabalhar lá, já que após a renovação posso trabalhar novamente com eles por 6 meses. Lá pude também ter novos papéis dentro do restaurante, como ser hostess e receber as pessoas ou ficar no caixa administrando os pagamentos.
Antes de terminar meu primeiro ano de Austrália, trabalhei também por 2 meses para um bistrô que estava inaugurando. Era um lugar pequeno, mas aconchegante, foi legal participar da abertura de um restaurante novamente e aprender, desde o início, tudo sobre o lugar e o cardápio. Nesse meio tempo, tentei ter 2 empregos algumas vezes. Trabalhei em um café que não pagava bem, em um outro restaurante italiano onde quem era garçom tinha que ser barista e bartender também, e até em um restaurante fino na Darling Harbour, onde cumpriam todas as regras de etiqueta… Não fiquei muito tempo em nenhum deles, primeiro porque era difícil conciliar dois lugares no mesmo horário e depois porque eles não eram muito o meu estilo de lugar para trabalhar.
O que eu aprendi com todas essas experiências? Tanta coisa! Falar inglês é essencial, já que você lida o tempo todo com o público e o mais importante é conseguir atender à expectativa dos clientes. Simpatia não pode faltar, pois todo mundo quer ser bem tratado quando busca um restaurante, importante sempre ter um sorriso no rosto e estar pronto para ajudar. Paciência é muito, mas muito importante… Nem todo mundo fala um inglês perfeito, nem todo mundo é educado e nem todo mundo se importa em tratar bem alguém que está em uma posição de servir. Eu fui para essa área buscando aprimorar o inglês e, no final, foi mais do que isso, aprimorei a maneira de lidar com as pessoas e tentar fazer o meu melhor mesmo quando o meio não é muito favorável.
Minha dica para quem quer começar nessa área é: invista no inglês, não tenha medo de não ter experiência e esteja aberto para aprender em todos os sentidos. Parece algo simples, mas com certeza você vai levar muito conhecimento na bagagem depois de passar por essa área. Quem sabe você acaba gostando e ela vira sua nova profissão, não é mesmo? Se não virar, não tem problema, sempre vão haver muitas outras possibilidades e novas áreas para explorar. Essa é uma das vantagens de mudar de país, você pode se reinventar e começar do zero quantas vezes quiser.