Como é viver em uma cidade japonesa dominada por brasileiros.
Já faz algumas semanas que eu deixei a movimentada região de Osaka, a segunda grande metrópole do Japão, para viver na pacata cidade de Hamamatsu, uma cidade de interior na província de Shizuoka (região central do país), que se destaca pela forte presença das fábricas, rios, lagos e, é claro, brasileiros por toda a parte.
Conhecida íntima dos conterrâneos, a querida “Hama”, como muitos costumam chamar por aqui, abriga uma comunidade de quase 10 mil brasileiros, e como não podia ser diferente, um Consulado Geral do Brasil, algumas escolas tupiniquins, restaurantes, lojas de produtos brasileiros e por aí vai… Para um brasileiro que pisa pela primeira vez nesta cidade, é quase inevitável se deparar com uma surpresa por dia.
Decidi me mudar para um bairro próximo à estação principal, perto da praia e do lago Hamanako, que embeleza a cidade e é a “prainha” dos moradores durante o verão. São quase mil brasileiros vivendo na minha região (de acordo com os dados do governo) e não demorou muito para eu ver no cotidiano o que isto realmente significa.
Não pude deixar de caminhar até o mercado mais próximo logo nos primeiros dias após a mudança, e fiquei maravilhada com a primeira grande surpresa: prateleiras de produtos brasileiros! Sim, é um mercado japonês super comum, mas que dedica uma parte de seu espaço à venda do nosso querido feijão, farofa, lentilha, guaraná e os biscoitos comuns nos mercados do Brasil.
No primeiro dia de folga, saí com uns amigos para conhecer uma das pizzarias brasileiras da região, localizada na cidade de Toyohashi (província de Aichi), que fica a 30 minutos de trem. Infelizmente não deu para aproveitar o rodízio, mas não há reclamações, só elogios! Experimentei uma pizza com gostinho de Brasil, borda de catupiry e as opções doces, algo raríssimo de se ver na terra dos samurais.
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Para quem está no Brasil, talvez seja difícil entender este sentimento de satisfação ao comer uma pizza de chocolate ou ver uma garrafa de guaraná na prateleira do supermercado. Mas para quem vive em outras regiões no Japão com menos brasileiros ou em países sem comunidades brasileiras por perto, qualquer contato com a terrinha é pura felicidade, e as coisas que antes eram bobas se tornam grandes alegrias.
Logo na segunda semana em Hamamatsu, fui surpreendida por mais algumas situações que, por um momento, me fizeram duvidar sobre realmente estar morando em terras nipônicas. Uma delas foi a descoberta de uma escola brasileira no bairro, com os uniformes no padrão do Brasil, crianças e adolescentes falando português por todos os lados. Eu sabia da existência dessas escolas, mas foi uma experiência única ver uma de perto.
A outra surpresa foi um pouco mais burocrática, mas não menos interessante. Ao passar na prefeitura local para registrar o endereço novo, não apenas encontrei uma funcionária japonesa falando português, como também fui presenteada com um pacote de informações sobre a cidade, também em português!
E por falar em português, a língua materna do maior país da América Latina tem presença em peso por aqui. É português nas sacolas oficiais de lixo, em alguns informativos e até em algumas placas de rua. Não é difícil encontrar um brasileiro por aqui, ver gente falando português na rua ou se deparar com um japonês que domine o idioma e esteja disposto a ajudar.
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A vida em Hamamatsu ainda vai me mostrar que há muito mais Brasil nesta cidade de interior do que eu podia ter imaginado, e o contato com as coisas que eu sinto saudade desde que fiz as malas e deixei o Rio Grande do Sul, há quatro anos, nunca vão deixar de me trazer satisfação.
Talvez na minha próxima visita à minha cidade no sul do Brasil, eu não apareça na casa da minha família faminta por uma comida típica ou por um copo de guaraná, e possa apenas demonstrar a minha “fome” de saudade de pessoas tão especiais que vivem longe de mim, algo que nenhuma cidade brasileira no Japão poderá suprir, infelizmente.
Para quem ficou curioso, aconselho uma visita à Hamamatsu ou à outras “cidades brasileiras”, em províncias como Aichi e Gunma, quando vier ao Japão. Mesmo em uma viagem não muito longa, é interessante ver como a influência brasileira transforma uma cidade japonesa e faz com que tanto o governo local como muitos serviços se preocupem em atender essa parte estrangeira da população.
Se há o lado ruim da discriminação e daqueles que não buscam compreender as diferenças culturais e nem se interessam em interagir com os estrangeiros, há também o lado bom do conforto, do contato com os produtos típicos da terra natal, de fazer amigos de mesmas origens e de aproveitar a vida do outro lado do mundo como se não tivesse saído de casa. Tem como não gostar?
2 Comments
esta vivendo em meio as pessoas que fala a msm lingua e bem bacana
Se é para viver uma experiencia em outro país o que adianta continuar rodeados por brasileiros