Como foi chegar em Corrientes.
Mês passado falei para vocês como foi fazer a minha mudança. Hoje venho contar as primeiras impressões que tive de como é sair de Buenos Aires e ir para o interior da Argentina.
Como sabemos quando chegou a hora de mudar?
Já contei para vocês que quando estive em Buenos Aires pela primeira vez senti vontade de voltar e viver um tempo na cidade. Anos depois consegui realizar este desejo e me instalei na capital Argentina.
Quase sempre quando nos mudamos para outro país procuramos as capitais ou os grandes centros. Difícil alguém te contar que mudou para uma cidadezinha logo de cara. Temos a tendência a acreditar que as oportunidades – principalmente de trabalho – estão nas zonas urbanas mais conhecidas.
No meu caso foi paixão à primeira vista. Na verdade nem pensei em oportunidades de nada. Só pensei em passar um tempo naquela cidade tão linda e cheia de cafés. Até tinha me preparado financeiramente para isso. Mas daí a vida se encarregou de mudar meus planos.
Enquanto isso, o tempo foi passando, e eu fui conhecendo e aprendendo cada vez mais da vida portenha. Explorei cada canto escondido e vivi experiências inesquecíveis. Fui amadurecendo. De repente, senti que cidade grande é para um certo momento da vida. Que – no meu caso – já estava próximo de terminar. Quis voltar para o interior, desacelerar o ritmo de vida.
Deixando Buenos Aires para trás
Mas por que largar tudo, justo agora, e recomeçar mais um vez?
Essa foi a pergunta que ficou rondando meus pensamentos por uns bons dias. Não sei explicar, mas parece que as cidades grandes têm essa força de atração que não querem te deixar ir.
Já pensou ir embora e não dar certo? E se não tiver nada para fazer? Ficar entediada no meio do nada? Como vou fazer, agora, para pegar um avião para o Brasil? E como farei novos amigos? A comida, com certeza, vai ser mais difícil de conseguir. Como farei?
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Histórias que me contaram
Muito antes de conhecer a minha nova cidade já tinha escutado falar dela. Por acaso (será mesmo?) uma da melhores amigas que conheci nos últimos anos tem a família quase toda vivendo em Corrientes. E ela sempre me contava histórias deles.
Dizia que os correntinos são pessoas muito amáveis. Que a comida era mais parecida com a brasileira. Que o clima era mais gostoso. E que a paisagem era incrível. Num primeiro momento, pensei: “ela deve vê-lo assim com tanto carinho porque era o lugar onde passava as férias durante a infância”.
Hoje, vejo que não poderia estar mais equivocada…
Mas é verdade, mesmo?
Passado todo o receio inicial – cheio de incertezas – enchi meu peito de amor e abri os braços para receber o que estava por vir. Por sorte, vi que muitos dos estereótipos que escutamos falar a vida toda se confirmaram.
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- Pessoas do interior são mais calmas e mais amigáveis
- VERDADE. Aqui, até agora, todos foram muito simpáticos, gentis e prestativos. Até mesmo sem eu pedir, uma moça, outro dia, abriu a porta de um táxi para mim só de me ver carregando um monte de sacolas de supermercado.
- Vida mais lenta
- VERDADE. Fazer tudo com mais calma não significa que o trabalho não vai render, pelo contrário. Dá para fazer tudo, dormir a “siesta” e ainda dar um mergulho no rio no fim do dia.
- As distâncias são menores e isso faz render o dia
- VERDADE. Tudo fica perto de tudo e em poucos minutos vou aos lugares que preciso e resolvo minhas coisas. Adoro!
- Faz muito calor no norte da Argentina
- VERDADE. Mas nada que uma brasileira (que ama sol e viveu no Ceará) não esteja acostumada 😉
- Não tem trânsito
- VERDADE. Tem carro e ônibus passando o tempo todo pelas ruas, mas até hoje não vi e nem fiquei parada mais de dez minutos pelo centro da cidade.
- É mais tranquila e segura
- VERDADE. Só para que tenham uma ideia, moro bem no centro e perto de bares, mas à noite não há qualquer ruído. E na praia é comum ver as pessoas deixando bolsas, carteiras, mochilas, celulares na areia e ficar horas nadando. E não acontece nada.
- Cidade limpa e ar puro
- VERDADE. Não tem muitos cestos de lixo pelas calçadas e mesmo assim não há lixo na rua. E como é bem arborizada e rodeada por natureza, não há poluição.
Mas, como nem tudo são flores…
Há um tempo descobri que não existe lugar perfeito. Nem aqui, nem em qualquer outro país. Existe, sim, um lugar onde nos sentimos em casa, que abraça nosso coração e recebe com muito amor a nossa família.
Entretanto, por mais que eu esteja feliz com minha nova cidade, ela já começou a me mostrar suas limitações.
Os motoristas não dão preferência aos pedestres quando não há semáforo. E infelizmente são poucas as linhas de ônibus e elas não chegam a todos os bairros. A muitos lugares vou caminhando, só os mais longes tenho que ir de carona ou de táxi.
E a comida? Sim, se parece mais com a comida brasileira, as frutas, as verduras, os legumes, o tempero. Mas a oferta para vegetarianos e veganos é bastante reduzida. Dá trabalho conseguir todos os ingredientes que uso normalmente e comer fora, por enquanto, só na hora do “té”.
Sem contar que o custo de vida continua igual e no caso de aluguel, pode ser, inclusive, maior. Corrientes é uma cidade universitária. Todos os anos chegam muitos estudantes e por isso a demanda é muito alta.