Quando decidimos nos mudar para a Europa, a primeira coisa que eu pensei foi em deixar os nossos 2 gatos com a minha mãe. Eu sei, você estava esperando ler algo como: “Vamos todos juntos ou ninguém vai” mas eu preciso ser honesta, por mais que eu ame esses dois peludos eu sabia que seria mais prático para nós e muito menos desgastante para eles.
Quando comecei a pesquisar sobre a viagem com gatos, encontrei muitos casos de sucesso e alguns, infelizmente, de sofrimento causado por estresse ou dificuldade na adaptação. Eu tentava me convencer de que uma semana depois, eles estariam felizes com a minha mãe e eles não precisariam passar pela experiência bolsa de viagem, carro, aeroporto, decolagem, 11 horas de voo, pouso, aeroporto, carro, casa estranha e se tudo desse certo, alguns dias mais para a adaptação.
Foram alguns meses pensando nisso e mesmo sendo a decisão mais racional, estava difícil imaginar a nova casa sem os dois gatos. Nós estamos acostumados a viajar muito e também trocar de casa, mas nesse caso a viagem e a mudança seriam mais longas.
Bom, decisão tomada com o coração e não com a razão, a saga começou e o primeiro desafio foi decidir se eu faria tudo sozinha ou se encararia o valor cobrado pelas assessorias. Para quem me conhece um pouco, será fácil adivinhar que eu decidi fazer sozinha e como costumo dizer “mão de vaquei” mesmo.
Fomos até a veterinária que cuida deles, a Dra Angélica da Clínica Bigodinhos e também criei um cronograma com todos os próximos passos que compartilho abaixo, porém reforço que é importante começar todo o processo 4 meses antes da viagem, no mínimo.
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Passo 1 – Regras do destino
A primeira coisa a fazer é se informar sobre as regras do país de destino nos órgãos oficiais. Alguns países possuem regras específicas, como Portugal por exemplo, que tem exigido uma perícia veterinária na chegada mesmo não sendo uma regra para os demais países da comunidade europeia.
Validei todas as regras para a França no site da Embaixada da França no Brasil, que hoje adota exatamente as regras da Comunidade Europeia.
Passo 2 – Microchip ou Nanochip
O chip é obrigatório e deve ser aplicado antes da vacina contra a raiva para ter validade. O padrão tem que ser internacional e você receberá o Certificado ISSO 11784 ou ISSO 11785. Pode acontecer do chip se movimentar dentro do animal o que normalmente não causará nenhum problema além de um trabalhinho para encontrá-lo com o leitor.
Passo 3 – Vacina contra a raiva
A vacina pode ser aplicada no dia seguinte a aplicação do Chip mas nunca um dia antes. Isso é regra obrigatória e será checado.
Recomendamos fazer a vacina logo após a aplicação do chip pois a coleta de sangue para a sorologia só poderá ser feita 30 DIAS APÓS A DATA DA APLICAÇÃO DA VACINA.
Passo 4 – Sorologia
Passados os 30 dias da vacina, você deverá coletar sangue para fazer a sorologia. O exame deverá ser realizado por qualquer laboratório aprovado em conformidade com o artigo 3º da Decisão 2000/258/CE e o resultado poderá demorar até 60 dias.
Importante: A coleta de sangue tem que ser feita, no mínimo, 3 meses antes da sua viagem.
Caso o exame não tenha um resultado superior a 0,5UI/ml você terá que refazer todo o procedimento de vacina, pausa, sorologia voltando a precisar de mais 3 meses.
Passo 5 – CVI (Certificado Veterinário Internacional)
Quando receber o resultado da sorologia, caso seja aprovado, você deverá contar o prazo de 90 dias após a DATA DA COLETA do sangue para agendar no VIGIAGRO a emissão do CVI ou Certificado Zoo Sanitário Internacional (CZI, nome antigo). O VIGIAGRO, Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional, pode ser encontrado no aeroporto da cidade onde o animal vive, atenção aos prazos para agendamento, dependendo da fila você pode ter dificuldades de agendar na data que precisa para sua viagem.
Lembrando que esse documento tem validade diferenciada que costuma ser de até 10 dias após emitido para embarcar e chegar no país de destino.
Na última semana antes do embarque, tivemos um imprevisto na emissão do CVI e tive que recorrer a uma assessoria, mas isso é tema para um post exclusivo e como sei que o assunto é muito importante, prometo fazê-lo rapidamente.
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Finalmente chegou o dia, gatos na bolsa de transporte, documentos, malas e aquela ansiedade básica. No final, eles viajaram muito tranquilos durante todo o voo, até comeram um pouquinho, beberam água, o que é raro, e dormiram no carro no caminho do aeroporto até o novo endereço. Quando chegamos, claro que eles passaram horas cheirando todos os cantos da casa mas não deram nenhum trabalho e nenhuma adaptação foi necessária. No segundo dia de casa nova, eles já estavam jogando bola (sim, eles jogam por horas todos os dias).
Um dia desses eu estava trabalhando e como ainda está friozinho por aqui, coloquei a poltrona no sol, um minuto depois o Tyrion pulou no meu colo e ficou ali algumas horinhas enquanto eu tentava manter o foco, isso rendeu muitas fotos é claro e um leve atraso no trabalho, mas também me fez entender que a maior mentira que inventaram sobre os gatos (pelo menos os domesticados) é que eles se apegam à casa e não ao dono, nunca mais vou conseguir acreditar nisso.
Eles sabem quem somos e o endereço novo não teve importância nenhuma, eles estão muito bem e eu, muito grata por ter decidido trazê-los pois sem eles eu não teria me sentido em casa tão rapidamente.
A adaptação em outro país sempre leva algum tempo, no início parece que estamos de férias, depois a novidade passa e ficamos entre a esperança da vida nova e a ansiedade que demora a tomar forma de rotina.
Eu sei que não foi agradável para eles o período de transporte, também sei que eles ficariam bem como a minha mãe. Jamais saberemos o que eles escolheriam se pudessem, mas o que eu tenho certeza é que estamos todos muito felizes com essa decisão. Acho muito importante que essa análise seja feita respeitando a personalidade do animal e conversando com o veterinário que o conhece, pois cada um reage de um jeito e os nossos já eram muito tranquilos em casa, assim que a viagem e a adaptação também foram. Se o animal já tem problemas de comportamento e/ou ansiedade, acho que possa ter uma experiência diferente e por isso a avaliação dos donos com o veterinário é muito importante para tomar a decisão.
Hoje, quando demoramos na rua e penso em voltar “por causa dos gatos”, eu sei que não são só eles que estão sentindo a minha falta, mas também sou eu sentindo falta do meu lar que, graças a eles, está ao meu alcance o tempo todo, não importa em que país.
Eles transformam nosso endereço em lar no minuto em que você ouve o primeiro “ronron” no seu pescoço e isso faz a saga toda valer a pena.
2 Comments
Nossa, tava precisando ler isso <3
Oi Melissa, fico feliz! Boa viagem 😉