É comum ouvirmos reclamações sobre os franceses. Seja em férias ou morando na França, todo mundo já ouviu algo como:
“Eles são arrogantes, odeiam falar inglês e me ignoraram porque não falo francês.”
“São grosseiros, se acham superiores e são mal educados no transporte público.”
“O problema da França são os franceses” e claro, a clássica “eles não tomam banho.”
Quando eu compartilho a minha experiência sempre gosto de reforçar que experiência é algo único e que depende muito de quem você encontra pela frente. Há um pouco de sorte talvez, mas na minha opinião, tem também uma boa diferença de como você chega e se apresenta na situação.
Quase uma francesa
Como uma apaixonada pela França desde criança, terei que deixar aqui a minha defesa ao país e aos franceses.
A primeira viagem internacional que eu fiz foi à Paris e não podia ser diferente, afinal eu nem lembro quando comecei a sonhar com isso. Acontece que foi uma das coincidências divinas de tantas que me faz ser muito grata.
É importante explicar para não soar estranho eu dizer que não tinha dinheiro e na mesma frase, que estava indo para Paris passar um mês.
Eu participei de um sorteio com uma amiga e combinamos que se uma das duas ganhassem, dividiríamos o prêmio. Ela ganhou e fomos as duas para Paris gastar todos os euros que não tínhamos.
Cheguei completamente perdida, afinal a única ferramenta da época era o mapa de papel.
Leia também: Bobo ou Beauf? Esteriótipos da sociedade francesa.
Eu estudava francês, mas a primeira frase que eu ouvi quando cheguei me fez duvidar se as aulas que eu fazia eram realmente de francês.
Depois dessa primeira e inesquecível viagem, eu visitei a França várias vezes antes de morar aqui e em situações financeiras distintas.
Considerando isso, eu sei na prática o que é estar na França com e sem dinheiro e falando ou não francês. Além disso, trabalhei com franceses por 4 anos e tenho amigos em regiões distintas do país. Bom, acho que é o suficiente para até mudar de opinião se preciso, mas eu não tenho absolutamente nada contra os franceses.
Culturas e costumes
Eu tive essa conversa com um amigo francês no ano passado, quando estava me candidatando para uma vaga em Paris, e ele me dizia que eu estava maluca, que os parisienses são difíceis, que a cidade está um caos, a política destruída e por aí vai.
Eu não tinha a menor chance de argumentar com ele, mas enquanto ele falava, eu tentava imaginar se ele sabia o que era São Paulo, porque sobre caos nós entendemos. Eu acho que tudo depende muito do ponto de vista e do que você está buscando.
Para cada situação desagradável que eu tive na França, posso citar 4 ou 5 parecidas que eu tive no Brasil ou em outros países.
Quando saio para fazer uma caminhada no interior da Itália, no interior da França ou no interior do Brasil, percebo uma grande diferença entre os países.
Na Itália, 99% das pessoas que você encontra te dizem um “Salve” ou ao menos “Ciao”. Na França, sem exagero, não me lembro de ninguém que tenha me cumprimentado em uma dessas caminhadas, mesmo os vizinhos. É hábito, não é pessoal e sejamos razoáveis, em São Paulo ninguém se cumprimenta em nenhuma situação e raramente ouvimos um ruído no elevador, caso ele esteja vazio.
Claro, sempre vai depender o tamanho da cidade, do ambiente e daquela sorte de encontrar pessoas num bom dia porém, não é diferente no Brasil ou na França pois as variáveis são parecidas.
Sobre o francês odiar falar inglês e te ignorar
Se você chegar e começar a falar em inglês, você não será ignorado só na França, mas também em muitos países, inclusive no Brasil dependendo de onde estiver.
Que sentido faz você chegar em uma cidade francesa e sair falando em inglês com um local? Não é a língua oficial do país, então seria educado dizer algo como:
Desculpe, eu não falo francês. Você fala inglês ou português?
Isso na França ou em qualquer outro lugar, fará com que você seja muito mais bem recebido, porque antes de dizer o que você quer, você demonstrou respeito pela pessoa que irá te receber.
A Europa tem uma história muito forte e essa preservação da cultura local é algo muito mais importante para eles do que podemos imaginar com nossos meros 513 anos de vida.
Sim, é verdade que o inglês é oficialmente o idioma universal e mesmo assim, uma pesquisa de 2017 apontou que, apenas 3% da população Brasileira tem inglês fluente. Isso pode não ser diferente em outros países.
Uma vez, em um vôo da França para Portugal, sentei-me ao lado de uma francesa de aproximadamente 80 anos, que passou o voo inteiro decorando frases básicas em Português.
Além de ajudar na sua visita, é sempre bom aprender um pouco mais uma nova língua.
Empatia sempre
Claro que vale a pena entender os costumes básicos do país e respeitá-los.
Sempre que chegamos em um local que não é a nossa casa, devemos nos adaptar e não esperar que os locais se adaptem, isso serve para turismo e para uma nova vida.
É sempre importante avaliar as características culturais e cotidianas antes de decidir mudar. Na França realmente você vai demorar mais para fazer amigos, pois um francês não te convidará para ir à casa dele com apenas um mês de amizade.
Leia também: tudo que você precisa saber para morar na França
Se você se mudar com o coração aberto e disposto a aprender e fazer parte dessa nova cultura, certamente enxergará a arrogância como zelo.
Os franceses são apaixonados pelo que é belo e a reclamação constante é o melhor exemplo de humor negro que eu já vi na vida. Ok, no cigarro realmente será difícil encontrar um lado bom se você não é fumante.
Em Paris, por exemplo, as pessoas não te convidam para ir à casa delas mas sim para um bar, sempre. Isto porque muitos moram em apartamento minúsculos e que, portanto não querem ficar muito tempo ali. Foi assim talvez, que se tornaram sobreviventes dos bares e restaurantes mais charmosos da Europa.
Isso não significa que é ruim, apenas novo, portanto esteja pronto para deixar a “síndrome de imigrante” de lado e achar que tudo é preconceito. Eles vivem assim a vida toda, nada mudou porque você decidiu viver no país deles.
Não opte pelo fácil
Não recomendo também se mudar e logo encontrar uma comunidade brasileira para passar a viver apenas com o nosso povo. É preciso paciência e tempo para entender os costumes locais, construir novas amizades e assim criar a vida que você buscava quando decidiu se mudar.
Um dos maiores erros é mudar de país e tentar impor os seus costumes.
Muitos imigrantes são rejeitados pois chegam em um país de cultura totalmente diferente e querem impor que esse país respeite os seus costumes de origem. É como chegar em um monumento de guerra e fazer um churrasco, não vai dar certo.
Em qualquer mudança é preciso muita pesquisa, planejamento e muita dedicação por longos anos para consegui estabelecer uma vida local.
Uma única certeza que podemos ter é que existem pessoas boas e ruins em todos os lugares e que a forma como elas te tratarão dependerá, e muito, de como você as trate primeiro.
Agindo com cuidado e respeito, certamente os franceses não serão um problema e logo você terá amigos franceses para fazer todas as piadas sobre banho, pois nunca a deixaremos de fazer, não importa o idioma.
Bisous.
4 Comments
Discordo apenas da parte do respeito à cultura: os imigrantes, obviamente, tem que respeitar a cultura local (no caso em comento, a francesa), mas eles também devem respeitar a cultura do imigrante. Respeito é via de mão dupla e não de mão única. Na minha experiência na França eu sentia que eles tentavam impor na minha vida privada os costumes deles, especialmente nos cuidados com meus filhos. Um exemplo é que questionavam a todo tempo quando eu iria parar de amamentar o meu filho de um ano de 10 meses e, por mais que eu respondesse que a recomendação da OMS era de amamentar até os 2 anos (e ainda que não fosse, se eu quisesse amamentar até os 5 anos é uma opção minha), eu continuava tendo que responder isso e outras coisas do gênero, de foro privado, todos os dias. Então, eu sentia muita intromissão e imposição deles para que eu vivesse ao modo deles.
Oi Bruna, eu concordo 100% com você. Tenho certeza que em muitos momentos não somos respeitados e também, questionados e até ofendidos quando dizemos que algo da nossa cultura é diferente.
Infelizmente existem pessoas em todos os países que apenas pelo fato de ser imigrante, já se sente no direito de ofender, ouvi coisas do tipo: “Não concorda? Volta pro seu país”e isso é total falta de respeito. Vamos seguindo e torcendo pra elas se desviarem do nosso caminho 🙂
Parabéns por persistir e manter seu posicionamento sobre amamentação, acho muito importante sermos exemplo do que acreditamos onde quer que estejamos. Obrigada por comentar.
Eu sou paulista e saí do Brasil 30 anos atrás falando inglês (Cultura Inglesa) e alemão (Goethe Institut) fluentemente. Morei na Áustria, Alemanha e Inglaterra por 28 anos ao todo, antes de me mudar para Paris… sem falar nada de francês e sem ter a mínima afinidade com a cultura francesa. Daqueles clichês que vc cita no começo do artigo, muita gente no Brasil (e em outros países também) realmente fala com uma autoridade de doutor que os franceses de-tes-tam falar inglês, etc. Minha experiência confirma o que vc diz: Precisa chegar com jeitinho, dizer o que quer (em francês), explicar que não fala francês tão bem e pedir para passar para outra língua, se possível. Comigo sempre dá certo e eu ainda me espanto como eles entendem meu francês de iniciante. Na Alemanha ou Inglaterra, se o imigrante não falar a língua local per-fei-ta-mente bem, não vai ter tanta chance assim, não. Ainda nesta questão, descobri duas coisas: Quem não consegue se comunicar em inglês com os franceses, pelo menos em Paris, é porque ele próprio fala inglês mal. E que os franceses costumam afirmar que não sabem falar inglês por modéstia ou insegurança. Depois, eles começam a falar inglês, sim! Quanto ao resto, vou só citar o que não gosto aqui para meu comentário não ficar mais comprido ainda: pomba (tem de montão), cocô de cachorro na rua, lixo por todos os lados, cheiro de xixi nos locais públicos e estações de metrô (!), a fumaceira fedida dos fumantes, a lerdeza das pessoas para fazer compras e pagar no caixa de supermercado, a burocracia!!! e a frequência com que vejo crianças chorando ou sendo mal tratadas pelos pais. Deve ser muito triste ser criança em Paris, morro de dó! Para mim tudo isso é duro de aguentar e não tem nada a ver com precisar respeitar a “cultura” local – a meu ver. Ou será que tem gente que gosta disso?!? Eu contei tudo isso como curiosidade, para dar minha visão sobre Paris. Espero não ter fugido muito do seu tema, Pati!
Meu ponto de vista de Paris é que sim, os parisienses são tão insuportáveis que os “gringos” podem imaginar.
A maioria dos turistas nunca encontrará franceses “reais”, eles vivem na província. (Eles são charmosos).
Os “parisienses” são os habitantes de uma metrópole sectária. Dois milhões “intramurais”, 11 milhões vivem fora de Paris, nos subúrbios.
Quase 30% não nascem na França.
Mas todos são agressivos, bastante amargos, hostis.
Ao contrário das idéias recebidas, os parisienses falam inglês muito bem. Muitos são de origem portuguesa (quase 800.000 pessoas na França).
Meu conselho para todos os brasileiros:
Se você fala inglês muito bem, nunca se esqueça de dizer que é brasileiro.
Franceses e parisienses amam completamente os brasileiros.
Nós amamos vocês!
Assim que você encontrar ou conversar com um motorista de táxi, motorista Uber, um garçom, qualquer pessoa na rua: diga que você é brasileiro.
Os parisienses não gostam de americanos (fingimos), odeio o povo da Arábia Saudita, acha que os chineses são estranhos. Os parisienses são frequentemente de origem marroquina ou argelina (escrevemos Algérie, nao Argélia!! com todo o mundo), africanos ou portugueses, espanhóis, etc …
Os parisienses realmente amam brasileiros.
Será preciso falar de futebol
De Ronaldo em 1998
Os jornais de Paris são os mesmos do Rio, esquerdo caviar.
Não diga que você votou em Bolsonaro (você fez bem no final).
Você está de férias, não em uma campanha eleitoral.
Os franceses não têm idéia do Brasil real. Mas nós amamos o seu país e gostamos de ir de férias.
Os parisienses em férias no Brasil adoram visitar uma favela, por exemplo.
Ao contrário da crença popular, os parisienses são muito menos racistas que vocês (mas eles nao gostam dos muçulmanos). Se você tem pele escura, isso não é um problema real, se você é brasileiro e amigável. Mas nunca use a palavra “negro” ou “negao”. Este é um grande insulto.
Tudo em Paris é muito, muito caro.
Ninguém é tranquilo.
Você precisa reservar com antecedência absolutamente tudo!
A carne é 100 vezes pior e 30 vezes mais cara. Tudo o resto é melhor. Especialmente o pão. (ok, os frutos sao bem melhor no Brasil tb)
Para o sexo, parisienses e parisienses estão logo atrás dos cariocas. Menos “casual”, mas muito fácil, especialmente se você é brasileiro/a! O Tinder está ativado. Mas não há cultura de motel.
Em Paris, você verá muitos estrangeiros. Turistas como você, muito Europeus. Em ordem de “preferência”: os italianos estão em casa, depois portugueses e espanhóis (geralmente franceses e inseparáveis). Belgas ou suíços são invisíveis. Os holandeses são muito grandes. Os alemães geralmente são muito instruídos. Os russos geralmente bêbados (em perfeito acordo com os parisienses). Os Inglês são Inglês, os americanos falam alto, japonês são hype, chinês em grupos.
Existem milhões de pessoas do Magrebe. Os parisienses amam marroquinos e tunisianos e não gostam de argelinos (a guerra, e provavelmente o fato de serem quase tão dolorosos quanto os parisienses). Pra os parisienses, a Africa começa ao sul do Saara (ok, sabemos que vocês estão geograficamente as nulos que os americanos). Existem muitos blacks, mas alguns são totalmente franceses e parisienses, e alguns são migrantes recentes. Faça a diferença.
Mas sempre: diga que você vem do Brasil.
Prepare perguntas existenciais: Neymar é um falhado no PSG?
Os parisienses são hostis (eu sou um). Mas se vc è brasileiro é uma vantagem. E se você ficar por um tempo, fará amigos.
Ah, traga um pouco de cachaça e gin Amazzoni. E naturalmente, é melhor si vc è uma brasileira!! 😉