Um dos aspectos que considero mais importantes na adaptação a um novo país é a alimentação. Não sou exatamente uma pessoa “chata para comer”, mas mudança de país pode significar, às vezes, uma mudança quase radical nos hábitos alimentares. E antes de vir pela primeira vez à Geórgia, umas das minhas preocupações era se o que encontraria nas mesas locais agradaria meu paladar. Como seria a culinária da Geórgia?
Pois passado um ano vivendo aqui, ainda me pergunto diariamente como é possível manter a forma. Pelo simples motivo de que a comida aqui é uma perdição! Minha resposta mais honesta seria “não sei, o dia que descobrir eu conto”, porque não, não é fácil estar exposta diariamente a tantas delícias sem ganhar uns quilos a mais…
A comida típica é realmente um dos maiores atrativos da Geórgia. Quem pesquisar, mesmo que superficialmente, sobre o país em qualquer site, blog ou guia de viagem, fatalmente vai encontrar muitos elogios – e talvez algumas declarações de amor eterno – à culinária local.
Comida aqui também é um elemento social importantíssimo. Em toda celebração ou ocasião especial na Geórgia tem sempre uma mesa fartíssima, com todos os principais pratos típicos, queijos e muito vinho. É a famosa supra (a palavra georgiana para banquete), super tradicional e uma experiência pela qual todo estrangeiro que vive aqui vai passar pelo menos uma vez. Mas nem precisa de ocasião especial. Se você vai à casa de um georgiano, sempre vão te oferecer algo para comer.
Mas, afinal, o que tem na mesa do georgiano que encanta tanta gente? Sabor e simplicidade, o georgiano cozinha com ingredientes locais e da época. E essa é uma das coisas que mais aprecio na culinária daqui. Não espere encontrar, em uma refeição típica, ingredientes exóticos, pratos super refinados, nem nada muito light. A mesa aqui tem vegetais, carnes, muito pão e muito, muito queijo.
Dentre tantas coisas gostosas que provei desde que cheguei, as que, para mim, não podem faltar em uma refeição georgiana são:
– Khachapuri: Talvez o mais famoso dos pratos típicos daqui, kachapuri significa, literalmente, pão com queijo. Mas não, não é um sanduíche. É uma massa, assada (com consistência de pão mais macio) e recheada com quantidades industriais de queijo. São vários tipos, cada região tem o seu e dá para encontrar em qualquer lugar, de restaurantes às portinhas que vendem os salgados típicos pela cidade. O mais popular com os estrangeiros é o acharuli, típico da região da Adjara, na costa do Mar Negro. Tem um formato ovalado, de “canoa”, cheio de queijo derretido dentro, com o bônus de um (ou dois, ou mais) ovo e um pedaço generoso de manteiga, colocados por cima do queijo assim que o prato sai do forno. A ideia é misturar tudo, de preferência usando um pedaço da ponta da massa, e comer ainda quente, com aquela montanha de queijo derretido escorrendo por todos os lados.
– Khinkalis: São os dumplings georgianos, maiores que os asiáticos, cozidos e recheados tradicionalmente de carne. Há outras variações de recheio, algumas menos tracionais, mas igualmente deliciosas, como queijo, cogumelos e batatas. Come-se com as mãos mesmo e nas primeiras vezes é inevitável fazer sujeira, pois o recheio não é seco e quando você morde espirra caldo para todo lado. É um prato que às vezes divide opiniões entre os estrangeiros, pois há quem não aprecie a textura da massa, que é cozida e, por isso, meio molenga. Eu adoro e acho uma super comfort food, perfeita para dias mais frios e para quando exagerei no vinho no dia anterior. E é barato. Sair para comer khinkalis é a garantia de comer muito (e bem) e gastar pouco.
– Bradrijani Ngvizit: Este nunca pode faltar para mim, é meu prato georgiano preferido! É super simples, são fatias de berinjela levemente fritas e recheadas com uma pasta feita com nozes, alho e temperos locais e decorada com sementes de romã. Descrito assim parece não ter nada de mais, não é? Talvez não tenha mesmo, mas os sabores todos combinam muito bem e eu adoro berinjela, então foi muito fácil gostar desse prato. É uma receita fácil de reproduzir em casa, o maior trabalho é fatiar e fritar as berinjelas. Já fiz algumas vezes, inclusive no Brasil, e foi um sucesso.
– Shkmeruli: Gosta de frango? Gosta de alho? Se a resposta for sim, este é o seu prato. O frango cozido em molho de alho é típico da região de Racha e também não é dos mais difíceis de reproduzir em casa, embora eu nunca tenha feito. O frango inteiro, cortado em pedaços, é cozido em um molho feito simplesmente de alho e leite, finalizado no forno. Pessoalmente, acho que fica mais saboroso se feito com creme em lugar do leite, que deixa o molho mais denso. Se tiver um pouco de adjika (pasta de pimenta típica) para ficar picante, melhor ainda.
– Salada Georgiana: Tomates, pepinos e cebolas, cortados em pedaços e misturados a um molho de nozes. É muito simples, não tem nada de especial a não ser o sabor dos vegetais. Os tomates aqui são deliciosos e muito suculentos e mesmo os pepinos, dos quais não sou fã, têm um sabor diferente dos que comemos no Brasil. As nozes complementam o sabor e o conjunto todo faz uma boa entrada, mas também um bom par para carnes.
Esses são apenas cinco dos meus clássicos preferidos. Há tantos outros pratos deliciosos que ficaram de fora desta lista… A comida aqui é assunto para mais de um post, certamente. Eu mesma ainda tenho muito o que provar, estou sempre descobrindo algo novo.
Ficou com água na boca? A melhor maneira de matar a vontade é mesmo vindo até aqui, mas dá para encontrar restaurantes georgianos em algumas cidades da Europa e Estados Unidos. Para quem não tem um perto e quer se aventurar na cozinha, aqui tem boas receitas. Bom apetite!