Foram muitos anos de estudo, batalha, horas extras, participação em eventos, estudo de línguas, além de atualização. Com tanta luta, conquistei muitas coisas bacanas e construí uma carreira da qual tenho muito orgulho. Então, como foi que eu reconstruí a minha carreira na Nova Zelândia?
Quem me conhece sabe que eu sou publicitária (formada em 1997), com MBA Executivo e mais de 18 anos de carreira na área. Assim, quando me mudei para Auckland, na Nova Zelândia, um dos pontos que sempre me preocupou foi como manter a minha carreira ativa por aqui.
Vou compartilhar um pouco da minha trajetória (ainda longe de me colocar na mesma posição de onde saí), para quem sabe ajudar outras pessoas que estejam na mesma batalha.
Ah, e antes que me perguntem: estou partindo do pressuposto que se você está procurando emprego aqui, você tem um visto para isso (no meu caso, tenho partner work visa, que seria o “visto de trabalho de cônjuge”). Se não tem, melhor regularizar sua situação, porque “sem visto, sem trabalho”.
Antes
Antes de decidir mudar, procurei me informar sobre tudo o que era relativo à minha profissão e carreira na Nova Zelândia. Sabia que ela fazia parte da categoria de skilled migrant (“imigrante qualificado”, que é composto por qualificações que o mercado neozelandês tem necessidade de profissionais, mas não consegue atender com o mercado interno, portanto precisa “importar” mão de obra). Eu verifiquei isso no site da imigração: basta escrever o seu cargo e a ferramenta diz em quais categorias de visto você se encaixa.
Eu também chequei se a minha carreira precisava de algum registro ou processo especial (como acontece com algumas profissões, profissionais da área de saúde, por exemplo) e, ainda bem, não seria o caso.
Além disso, fiz um “teste” para ver como era a aceitação do meu currículo na Nova Zelândia, me candidatando para algumas vagas mesmo não estando aqui, somente para sentir que posições que eles ofereciam, com que frequência, se os salários eram bons, quais as exigências etc. Isso faz muita diferença, pois além do visto, é preciso ter certeza de que você vai conseguir se recolocar no mercado. Afinal, a vida segue por aqui.
Durante
A coisa mais difícil foi colocar o pé no mercado (claro que há milhares de outras dificuldades, uma delas é a língua – mas falarei sobre isso em outro post). Uma coisa que valorizam muito por aqui é você ter uma experiência local (recomendação e demonstrar que você pretende ficar no país também são fundamentais).
E quando a gente chega, é como início de carreira, querem coisas que a gente não têm, ainda! E aí a gente cai no “efeito Tostines”: não tenho experiência local, porque ainda não consegui um emprego ou não tenho emprego, porque não consegui uma oportunidade para ter experiência local?
A estratégia para retomar a minha carreira na Nova Zelândia foi buscar experiência local, ter contato com as pessoas e a cultura local. Então, comecei fazendo algo que sempre quis fazer e nunca tinha tido tempo: trabalho voluntário. Eu consegui através do Auckland Volunteering, mas o Seek (site de empregos da Nova Zelândia) também oferece algumas vagas.
Fui plantar vegetação nativa no Kaipatiki Project. Posso dizer que a experiência foi incrível e me deu mais bagagem, coragem e confiança para dar os passos seguintes (além de ser enriquecedor).
Em paralelo ao trabalho voluntário, comecei a procurar emprego na minha área. Me inscrevi em todos os sites de empregos na Nova Zelândia. Mantive uma disciplina para monitorar e me candidatar para várias vagas.
Aqui está uma listinha de sites de emprego na Nova Zelândia para ajudar:
Outra coisa que me ajudou, foi fazer parte de grupos de brasileiros no Facebook, lá sempre postam vagas de trabalho. Mas o lado bom é que conheci profissionais de marketing aqui em Auckland e ficamos amigas. Fomos a alguns eventos profissionais e trocamos dicas.
Um site muito bacana para se informar sobre alguns eventos (alguns pagos, outros gratuitos) e grupos de networking é o MeetUp.
Também cheguei a fazer uns trabalhos pontuais no varejo (como vendedora extra em lojas), mas achei que isso não agregou muito valor ao meu currículo, além de pagar pouco e ser muito incerto, por isso, desisti deste caminho.
O pulo do gato
O grande impulso foi quando participei de um workshop oferecido gratuitamente pelo Citizens Advice Bureau (CAB, um escritório que oferece orientação gratuita ao cidadão sobre assuntos diversos como emprego, leis, educação e outros assuntos). Nestes encontros eles dão assessoria para montar o seu currículo de maneira adequada ao mercado de trabalho neozelandês, bem como o tipo de carta de apresentação e a preparação para uma entrevista (como uma empresa de outplacement – recolocação profissional – no Brasil). Eles também oferecem uma consultoria pessoal no escritório deles. Tudo de graça! (No Brasil, a gente sabe o quanto custa caro este tipo de assessoria).
O NEW KIWIS oferece um curso de 3 dias de duração. A estrutura é completa, a equipe super profissional, a metodologia super testada e aprovada, eu acho infalível! (Esta aqui é a dica que vale ouro).
Logo, abri meu leque e minha mente, dei alguns passos para trás (buscar posições inferiores ao que tinha antes da mudança foi importante para acelerar o processo e conseguir uma experiência local o quanto antes para provar capacidade), além de considerar posições temporárias (onde há ainda mais oferta de trabalho), aceitar trabalhos com horários parciais também ajuda. Explico a seguir porque estas decisões ajudam muito.
“Baixar a bola” não significa se desvalorizar. Aqui há 4,5 milhões de habitantes no país e, por isso mesmo, cerca de 90% das empresas são pequenas (têm cerca de 10 funcionários). Com isso, há uma hierarquia mais horizontal, cada funcionário tem mais importância e acumula mais funções dentro da empresa. Como eles não costumam “demitir” as pessoas, querem acertar de primeira na contratação.
Assim, sem conhecer o mercado daqui, sem referências, o jeito é recomeçar a carreira na Nova Zelândia para construir a reputação e ganhar “horas de voo”.
Do mesmo modo, algumas pequenas empresas precisam de bons profissionais, mas não dispõem de recursos (e até volume de trabalho) para justificar contratação de 40 horas e acabam contratando a gente por 25 a 35 horas por semana (sonho dourado de 70% das mães brasileiras e meu também, já que dá para conciliar o trabalho com a vida familiar).
Sobre o trabalho temporário, muitas vezes é para atender a alguma demanda específica ou para cobrir uma licença maternidade, no entanto, pode ser uma ótima porta de entrada para muitos empregos ou boas cartas de referência.
No meu caso, foi assim: primeiro consegui um trabalho temporário de meio período. Depois, consegui um trabalho fixo com horas flexíveis, mas bem abaixo do cargo que eu gostaria. Por fim, consegui o emprego que estou no momento, na minha área, perto de casa, trabalhando menos horas e com ótimo ambiente de trabalho.
Enfim, o importante é ter planejamento, foco, mente aberta e não desistir da sua carreira e dos seus sonhos. Eu acredito que a Nova Zelândia seja um oceano de oportunidades e, mesmo com todas as dificuldades, é possível obter grandes conquistas.
10 Comments
Estou passando pela mesma situação e neste momento fazendo outplacement. Adorei seu texto e me deu mais energia para continuar. Parabéns!!
Que legal, Thais. Desejo muito sucesso na sua busca! O segredo é este: não desistir até conseguir. Se um caminho não dá certo, tente de outra forma.
Amei seu relato. Determinação é tudo. Parabéns
Oi, Renata. Muito obrigada, fico muito feliz que tenha gostado. 😀
Gabi, querida, que sensacional esse movimento que vocês fizeram — e que ótimo e animador esse seu depoimento. Gostei muito. Creio que irá inspirar muita gente. Abraço pra você, pro Caio e pros meninos. Sigam ema frente!
abraços
Caco de Paula
Oi, Caco. Que delícia receber este seu comentário e, mais ainda, saber que vc gostou. Me sinto super honrada, sobretudo vindo de um grande jornalista e líder como você. Obrigada!
Olá, estou adotando seus textos. Uma ajuda, como comprovamos nossa experiência na área? No seu caso tu levou teu diploma da faculdade e do MBA em Português e juramentado?
Oi, Carine.
Fico feliz em saber que vc gostou. Eu não precisei comprovar experiência para conseguir emprego na minha área. Caso você precise, o que você pode fazer é reunir cartas de recomendação de seus empregadores (em papel timbrado da empresa e assinado – em inglês ou fazer tradução juramentada) e traduzir a sua carteira de trabalho (que é um documento oficial do governo brasileiro).
Com relação aos diplomas, também não me pediram, mas trouxe comigo os documentos originais e fiz a tradução juramentada. Algumas profissões exigem ainda que vc faça a validação do seu diploma por aqui. Neste caso, verifique no site da NZQA (http://www.nzqa.govt.nz/qualifications-standards/international-qualifications/), órgão responsável pela análise e validação dos diplomas no país.
Olá Gabriela, gostei muito das suas dicas, sou designer gráfico e meu inglês é intermediário será que é muito difícil conseguir um emprego na Nova Zelândia?
Oi, Ana.
Eu não saberia te dizer, porque sou da área de marketing e as carreiras são bastante diferentes, mas vale a pena vc procurar emprego nos sites que sugeri, pelo volume de vagas dá para ter uma ideia. Agora uma coisa é fato: sem inglês fluente é muito difícil conseguir emprego por aqui (pelo menos um emprego qualificado). Você precisa ter um bom entendimento da língua para receber o briefing, criar de acordo e ainda apresentar e “vender” a sua ideia. Avalie se não vale a pena investir em um curso antes de procurar alguma coisa e boa sorte! Espero que tenha ajudado.