O mundo globalizado nos prega os mais variados tipos de pegadinhas e a mais traiçoeira delas é achar que estamos “em casa” em qualquer lugar do mundo.
É com muito pesar que informo que não é bem assim.
Estar num país novo é reaprender a relação de troca que você tem com o ambiente. O processo de consumo aqui é diferente do brasileiro porque o estado-unidense, por cultura, é diferente do cidadão que nasceu no Brasil.
É essencial entendermos isso para que adaptação não seja um fardo muito pesado de carregar. E que fique frisado que, se adaptar não é virar americano e não é esquecer a nossa cultura. Adaptar-se é conseguir interagir de forma eficiente para não morrer de fome (em sentido figurado e literal).
Infelizmente, para os sonhadores, “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” ainda é um filme de ficção. Não dá para esquecer tudo e recomeçarmos do zero apertando um botão. Até existem técnicas para a reprogramação do cérebro (isso é assunto que já tratei no podcast e que não vale escrever aqui), mas até elas exigem tempo e dedicação.
Para entender as diferenças podemos primeiro olhar para as semelhanças. Somos dois países colonizados, de tamanho continental e… bom, e para bem por aí.
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Os estados aqui são independentes um do outro, poucas leis são federais, as notícias locais têm horário nobre na TV e o entretenimento não tem a pretensão de retratar um país hegemônico.
A bolsa cobiçada no Brasil aqui é só mais uma bolsa de marca local (que produz para o mundo inteiro). A música que a gente consumiu por muito tempo (e ainda consome) era feita no quintal da casa deles. As séries que dominavam a indústria do entretenimento eram filmadas aqui. Os filmes blockbusters eram produzidos em Hollywood. A gente ainda consome muita cultura americana, mas hoje em dia consumimos muito mais a brasileira também. O EUA não é mais nossa fonte quase soberana de entretenimento. Ainda bem!
Os jovens daqui aprendem muito novos que têm direito a tudo que conseguirem conquistar e, normalmente, saem de casa para fazer faculdade em outro estado e conquistar esse “tudo” a que eles têm direito.
Americano investe todo dinheiro que tem numa ideia de negócio que ele acha que vai “vingar”.
Eles se entendem como um país gigante, com um potencial enorme para gerar consumo e, assim, lucro. E é daí que vem a diferença de consumo entre brasileiros e americanos.
Vamos começar nossa comparação do começo: pense numa loja de roupa grande no Brasil, um mercado grande e uma loja de sapatos grande. Pensou? Multiplica esse tamanho por dez. Tudo aqui é enorme. As distâncias são grandes, as pessoas são altas, os carros são espaçosos, a malha de metrô é uma das maiores do mundo e esse é o padrão.
Tudo é extenso, amplo e tem muita variedade.
Em teoria, é incrível você ter muito de tudo para escolher seu preferido. Em teoria.
A mesma feliz dona e proprietária do Cheetos gigante (que você cansou de ver nos filmes) roda o mercado inteiro para encontrar meio quilo de arroz escondido numa seção minúscula de comidas latinas.
A sensação de sair de uma loja de departamentos com uma bolsa de marca que você pagou US$ 40 dólares (mais adiante vou publicar um texto sobre compras em lojas baratas) quase te faz esquecer que você passou três horas escolhendo a tal bolsa dentre um milhão de opções, de aproximadamente 30 marcas diferentes, numa loja com mais de cinco andares de promoção.
É mágico, mas você percebe a pressão? Se você mora aqui, o melhor a fazer é comprar só quando você passa e vê alguma coisa que gosta muito. Se você é turista, é melhor ter paciência.
As lojas aqui não são obrigadas a colocar preço nas vitrines. Os valores dos livros não ficam nas prateleiras e, sim, na contracapa do mesmo. Muitas vezes as etiquetas de preço no mercado e farmácia estão em lugar errado e é comum ter funcionário repondo produtos nas gôndolas nos horários de pico.
Com exceção dos feriados, nova-iorquinos, nunca cozinham (as únicas pessoas que cozinham no meu prédio são imigrantes). É super comum você esbarrar com alguém andando na rua e comendo um pedaço de pizza gigante dobrado ao meio. É exatamente por não cozinharem que “sair para jantar” aqui é bem menos glamouroso do que no Brasil.
Aliás, a classe média aqui é bem o que é: média.
Bens de consumo nos EUA são mais acessíveis, o que os torna mais populares e por isso as pessoas tendem a ligar menos para a bolsa que a outra pessoa está usando. Como dizem por aqui: “isso é coisa de brasileiro”.
Aliás, achar que a máquina de lavar louça não faz um bom trabalho também. Americano não quer perder tempo lavando louça, deixando roupa de molho e jogando balde de água na cozinha. Nem tem ralo na cozinha. Eles compram os produtos mais químicos do universo e problema resolvido. Next (próximo)!
Tudo é meio assim aqui: não quer? Next (próximo)!
Leia também: Minimalismo e consumismo
As vendedoras de loja te ignoram e os garçons não sorriem para você o tempo todo. No comércio você é atendido partindo do seguinte princípio: se você está comprando é porque precisa do produto e não para me fazer um favor, mas não ouse sair desse estabelecimento sem deixar uma gorjeta de, no mínimo, 15%.
Bem diferente do Brasil, né?
É difícil chegar aqui e “blindar” os olhos para o consumismo americano. A sensação de que você precisa comprar muito mais do que seu armário (ou mala) comporta toma conta e até a farmácia vira um parque de diversão para as mãos agoniadas que seguram o cartão de crédito, mas conta até três e respira.
É fácil abandonar a consciência no aeroporto, mas, apesar de tentador, você não quer três versões da mesma bolsa pegando poeira no seu armário.
Vem para os EUA fazer compras? Esqueça tudo que você aprendeu sobre compras e prepare-se: o dia será cansativo.
9 Comments
Larissa,
Adorei seu artigo. Parabéns!
Bjs,
Lili
Eeee!
Obrigada, Lili!
Bjs.
Adoreeeeei, hahah bem assim mesmo!
Não é, Camila?
Uma deliciosa loucura.
Bjs.
Moça, adorei ler o artigo, parece que estava conversando com você.
Amei as dicas! Sucesso!
Bjooss!!
Que comentário maravilhoso!
Obrigada, Di. No próximo tem as dicas de loja, de fato.
bjsss.
Muito bom para, digamos, comprar !
Da pra meditar em NY? Dá, mas não é nem de longe a primeira coisa que a gente pensa quando compra uma passagem pra cá, né?! 😛
Bjs, s. Ivan! =)
Parabéns! Gostei!
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