Reflexões Sobre a Crise em Portugal.
Portugal é um “jardim à beira-mar plantado”, já dizia Thomaz Ribeiro, poeta português que viveu nos anos 1800 mas, infelizmente, nem tudo são rosas por aqui atualmente… Portugal está vivendo uma crise econômica e só recentemente conseguiu sair da recessão.
Volto no tempo um pouco para contar para vocês um pouco da situação do país. Sendo parte da Europa, Portugal entrou oficialmente para a Comunidade Europeia em 1986 e, e desde essa altura recebeu muito dinheiro. Com isso, o país viveu um período de grande expansão econômica. Esse dinheiro que financiou o seu crescimento e desenvolvimento veio maioritariamente de empréstimos. Com tanto dinheiro, houve um grande boom de construções tanto de melhoria das condições das cidades nos aspectos culturais (construção de bibliotecas, escolas, piscinas públicas, etc.), desenvolvimento como, por exemplo, a construção de estradas.
Melhorar as condições do país não é mau. Mau é, por exemplo, construir 3 estradas para ligar as duas mesmas cidades…Para continuar os investimentos e desenvolvimento, continuou a ter que pedir empréstimos para se financiar. Alguns dos empréstimos eram a fundo perdido mas outros não. E todos nós sabemos que quando se pede emprestado, uma hora se tem que pagar. O fato é que, de tanto pedir dinheiro emprestado, chegou o momento em que o país teve que pagar. Em 2011, o governo teve que recorrer a ajuda externa (a troika) e desde então Portugal está sob um programa de assistência econômico-financeira.
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Junto com a crise financeira veio também uma crise política, caiu um governo e houve eleições.
Alguns brasileiros sabem o que é ter o FMI “em casa”. E aqui não é só o FMI. É também a Comissão Européia e o Banco Central Europeu (estes três são “a troika). Vieram “ajudar” mas com um preço bem salgado. Emprestam dinheiro para o país pagar suas dívidas mas exigem muito em troca.
O fato é que Portugal tem atravessado um período bem complicado financeiramente. E, tenho pena, que o governo português esteja buscando equilibrar as suas contas indo ao bolso dos mais fracos: funcionários públicos, aposentados e outros que precisam de apoio. Os funcionários públicos e os aposentados já tiveram cortes e mais cortes nos seus salários. Cortes de até 19% nos salários além dos aumentos nos impostos. Também já foram cortados muitos apoios sociais como, por exemplo, no subsídio-desemprego (seguro desemprego), no complemento da renda de alguns aposentados que, não estando acamados, precisavam de ajuda de outra pessoa no seu dia-a-dia, entre outros.
Com a redução do dinheiro circulante, reduziu o consumo, muitos serviços como restaurantes, por exemplo, fecharam e muitas pessoas perderam os seus empregos. Em janeiro de 2013, no seu pior momento, a taxa de desemprego total chegou a 17,7%. Nessa época, o desemprego entre os jovens (18-25 anos) chegou a 40%. E o desemprego entre os imigrantes ainda é mais alto. Em 2006 era em torno de 11% (7,7% para os portugueses) e em 2013 passou dos 30%. E desde o ano 2000 são as mulheres que mais estão desempregadas.
Atualmente as taxas de desemprego tem vindo a baixar mas, a que custo? Com políticas que obrigam os desempregados que recebem subsídio-desemprego a trabalhar, cumprindo com os deveres dos empregados mas sem os direitos destes. Existem também alguns empregos precários, onde uma pessoa trabalha poucas horas por semana e não recebe nem mesmo o salário mínimo. Oficialmente já não é desempregado mas, será que vai conseguir sobreviver, pagar suas despesas básicas ganhando metade ou às vezes menos que um salário mínimo?
Para quem não sabe, Portugal tem um dos menores salários da Europa: 485 euros brutos. Soma-se a isso os descontos. Em reais, 485 euros dá qualquer coisa como 1455 reais (3×1). Só para morar num quarto alugado em Lisboa uma pessoa gasta uns 250-300 euros (750-900 reais). Soma-se a isso transporte, alimentação, vestuário, etc…
Os anos 1980, 1990 e começo deste século, com uma taxa de desemprego de 3,9% no ano 2000, trouxeram muitos imigrantes para Portugal. Ultimamente, e desde 2011, o número de portugueses que deixam o país têm sido bem maior do que os imigrantes que chegam. As oportunidades de emprego são muito poucas e, infelizmente, muitas que existem são precárias. Não há emprego para os pouco nem para os muito qualificados. Muitos portugueses com curso superior, mestrados e doutorados estão deixando Portugal por falta de perspectiva nas suas áreas de trabalho. O governo português calcula que 120.000 portugueses tenham deixado o país em 2013.
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No começo do ano a Ana Lozon escreveu sobre a generosidade na França e como as pessoas colocam as coisas na rua para as outras levarem. Isso acontecia muito na região de Lisboa. As pessoas deixavam muitas coisas que ainda estavam em bom estado, ao lado dos latões de lixo para que quem quisesse pudesse levar. E uma coisa que tenho notado ultimamente é que raramente isso tem acontecido.
Depois desta pequena história, se você, brasileiro que pensa em emigrar para ganhar mais dinheiro, pensa em vir para Portugal, pense bem… Mas pense mesmo muito bem no que você quer. Este não é o momento para deixar o Brasil para viver neste pequeno pedaço de terra deste outro lado do Atlântico que fala português.
9 Comments
Eh a coisa ta preta, aqui na Suica, devido ao alto numero de portugueses, espanhóis e italianos que vieram pra ca trabalhar nos anos 80 e ainda estão aqui até hoje, o controle pra trazer os amigos e parentes pra Suica neste tempo de crise na Europa, esta super controlado. Mesmo fazendo parte do espaco Schengen (veja texto regiane Polonia sobre vistos). Parabens minha querida leria pelo texto e pela iniciativa de esclarecer e alertar os interessados em emigrar neste momento pra Portugal. Namasté querida:)
Pois é Ana,
Muitos portugueses estão emigrando e buscando os destinos já conhecidos: Suíça, Luxemburgo, Inglaterra e claro, embora exista o acordo Schengen, os países querem dificultar, né…
Claro que cada caso é um caso mas, quem pensar em vir para Portugal, tem que pensar mesmo muito bem.
Obrigada! 🙂
Oi Lyria, conheco varios portugueses aqui em Londres e sempre me contam da situacao que o pais enfrenta. Realmente, o momento nao e dos melhores. So nao entendi no inicio do seu texto, quando vc menciona que o pais conseguiu sair da recessao. Ja saiu mesmo? Bjs e boa sorte querida. x
Fernanda,
O governo diz, as estatísticas dizem que já saímos da recessão… Estamos quase saindo da troika. Vamos ver como as coisas seguirão. 🙂
Obrigada! 🙂
Ola Lyria, tudo bem?
Primeiramente parabéns pelo seu blog, sem dúvida é um ótimo trabalho, vc é muito esclarecedora.
Gostaria de saber de vc, como está a situação atual em Portugal, atualmente moro no Brasil, e tenho interesse em me mudar daqui. Não estou indo com a ilusão de ficar rica, e sim, apenas trabalhar, mesmo que seja em um subemprego, mas que eu consiga me manter e ter qualidade de vida. O que hoje não tenho. Penso em estudar também e fazer uma faculdade. Aqui trabalho 12, 14 horas por dia e meu salário mal da para pagar minhas contas. Tenho minha prima que é dentista aqui, tens alguma recomendação para ela poder trabalhar como dentista em Portugal?
Caso seu blog, não esteja direcionado para este tipo de pergunta, me desculpe. e mais um vez parabéns pelo trabalho !!
Abs
Olá Renata,
Muito obrigada pelo comentário!
A situação tem melhorado devagarinho mas não está fácil. O desemprego ainda é bastante alto.
O salário mínimo atual é de 505 euros brutos. Há muito emprego precário. As pessoas podem ter trabalho num mês e estar desempregada no outro.
Cada caso é um caso e só você poderá avaliar a sua situação e se vale mesmo a pena.
No caso da sua prima só posso dizer que ela terá que voltar para a escola para poder conseguir a equivalência do diploma e depois poder se inscrever na Ordem. Não é impossível mas não é fácil.
Além do mais, alguns dentistas brasileiros que viviam aqui já voltaram ao Brasil e mesmo muitos dentistas portugueses tem buscado emprego em outros países por falta de trabalho em Portugal.
Continue a acompanhar o blog! 🙂
Abraço!
Olá Lyria, tudo bem?
Não sei se lerá meu comentário, pois já faz algum tempo que escreveu o texto. Encontrei o blog em uma pesquisa sobre como está Portugal, economicamente e, principalmente para imigrantes.
Recebi uma bolsa de incentivo na cidade de Faro, na Universidade de Algarve, ou seja ,terei de pagar uma parte (1/3 anualmente). Gostaria de saber como está o país em relação a trabalho para quem estuda e trabalho integral ( pois meu marido irá junto também), e se isso valeria a pena mesmo, não para enriquecer mas, se seria possível manter-se até o término do curso.
Sei que esse não é foco principal do blog mas, se puder me ajudar, ficaria grata. Algumas informações sobre economia, e se a crise que nos é apresentada aqui está nesse nível mesmo ou melhor/pior.
Obrigada desde já, ótimo trabalho no blog.
Olá Jéssica,
Obrigada por ler o blog.
Quanto à crise, não mudou muito. O desemprego está em torno de 14%. Para conseguir um emprego vai depender de vários fatores e também da formação da pessoa. No Algarve há um aumento da oferta de trabalho nos meses de verão porque muitas das ofertas são para postos de trabalho ligados ao turismo.
Se vocês conseguirem trabalho para se manterem enquanto você estuda, já será bom. Para saber mais procure ler os jornais portugueses.
A experiência de estudo pode valer a pena. O curso que você fará é reconhecido no Brasil? Pense nisso também.
Boa sorte!
Boa tarde. Gostei muito do sei blog, estou super interessado nos assuntos lusos. Pretendo ingressar num mestrado em alguma Universidade no interior ou talvez a. Universidade nova de Lisboa. Sou advogado e quero complementar minha formação, para me habilitar a lecionar aqui nas universidades. Como está o mercado atualmente? Estou precioso de não conseguir me manter sem trabalhar, além do mais sou muito inquieto esta não consigo ficar quieto. É fácil conseguir estágios? Muito obrigado.