Neste post, dou continuidade ao que escrevi no texto anterior, e conto o que acho interessante e como funcionam as escolas públicas em Toronto:
- A escola pública em Toronto é designada de acordo com a residência da criança. Até é possível pedir para estudar em uma escola específica, mas isso vai depender de haver vaga ou não. O ano letivo começa em setembro e vai até o final de junho, mas é comum vermos crianças chegando ao país e começando em qualquer etapa do ano. Meus filhos começaram em janeiro, logo após as festas de final de ano.
- A diversidade cultural e de países em sala é imensa! Eles têm amigos que nasceram (ou cujos pais nasceram) na China, Coreia, Irã, Argentina, Brasil, Índia, Filipinas, Macedônia, Nigéria, Portugal, Hong Kong, Bielorrússia, etc. Uma verdadeira babel! Da mesma forma que chegam, também vão embora e, às vezes, vejo os meninos tristes, pois algum amigo voltou ao seu país de origem.
- Pelo fato das escolas serem próximas das casas dos alunos, muitas crianças chegam à pé, sozinhas (quando mais velhas) ou acompanhadas dos pais. Ainda assim, tem um número grande de responsáveis que levam de carro. Este movimento de saída dos veículos e entrada na escola é super bem organizado, não se vê engarrafamentos como tinha no Rio de Janeiro, por exemplo. Cada um respeita a sua ordem de parar e, o mais curioso, o diretor da escola e professores revezam-se na ajuda para controlar o trânsito na porta da escola.
- A matrícula é feita mediante a documentação que prove que os pais e a criança são residentes no país (temporários ou permanentes) e a apresentação da carteira de vacinação. Pode ser a brasileira mesmo, sem tradução, mas sem vacina, não entra. Para as escolas católicas é preciso, também, ter o certificado de batismo.
- Não é feita nenhuma prova de nivelamento e a série é determinada de acordo com a idade. Meus filhos fazem aniversário em agosto. O caçula, com 5 anos na época, começou no Senior Kindergarten e o mais velho, que tinha 11, no 6° ano.
Leia também: Tudo sobre as escolas públicas em Toronto
- Logo no início do ano recebemos o calendário anual com os dias de aula, feriados e os PA Days, que são dias que não tem aula para os professores fazerem aperfeiçoamento.
- Existem dois períodos de recesso durante o ano: o primeiro, chamado de Winter Break, dura umas três semanas, começando um pouco antes do Natal, indo até logo depois do Ano Novo. O segundo é uma semana em março e chama-se March Break ou Reading Week (supõe-se que seria para os alunos colocarem a leitura das matérias em dia, mas funciona mesmo como miniférias, onde várias famílias aproveitam para viajar para algum lugar quentinho no Caribe).
- Pais que precisam de ajuda com os filhos antes e depois da escola, recorrem a serviços chamados before & after school, que nada mais é do que uma espécie de creche com recreação. Em alguns casos, as próprias escolas oferecem, mas também existem serviços externos, como empresas que buscam as crianças na escola e levam a alguma aula específica (judô, ballet, etc.), enquanto os pais ainda estão no trabalho. Esse serviço é pago à parte e, se você se encaixar em alguns critérios, pode conseguir subsídio do governo para ajudar com os custos.
- Existem atividades extracurriculares como times de futebol, atletismo, entre outras, e são organizadas competições entre as escolas da cidade. Aulas de música também são oferecidas na grade curricular normal e, em caso da criança querer tocar um instrumento grande, como violoncelo por exemplo, eles fornecem o equipamento para ser usado durante a sua prática e, inclusive, levado à casa. Na escola dos meus meninos, o diretor também manda comunicados semanais por e-mail, informando sobre atividades que estão acontecendo e atualizando o calendários com outras que surgiram, como a “Feira da Primavera”, campeonatos de esportes e passeios extraclasse.
- É curioso observar que o professor tem um papel global com os alunos. O mesmo profissional ensina todas as matérias, dá aulas de educação física, música e treina times para campeonatos. Ele também é o responsável pelos passeios e aqui não tem aquela super proteção que existia no Brasil, não. Quantas e quantas vezes vi professores com um ou dois ajudantes apenas (muitas vezes são pais voluntários), no metrô, indo ou voltando com a turma de alguma atividade no centro da cidade. Essa independência também é valorizada no dia a dia. É comum ver crianças de 10 anos já voltando sozinhas para casa e, muitas vezes, trazendo irmãos menores. Algo que achávamos improvável no Brasil e que meus filhos já fazem aqui, aos 12 e 6 anos.
Leia também: Vinte hábitos e costumes canadenses
- Toda e qualquer atividade que envolva algum custo, como por exemplo um passeio extracurricular ou a compra do anuário da escola, deve ser feita através de pagamento online em um serviço chamado School Cash Online. É super bem organizado!
- Não existe livro didático (pelo menos nenhum dos meus filhos usou até agora), mas há um forte incentivo à leitura e visita à biblioteca. Tem trabalho de casa e as notas vão de A+ ao D-. A escola fornece todo o material necessário como cadernos, apostilas, pastas, etc. Meu filho mais velho gosta de levar o estojo dele, mas se quisesse, poderia usar canetas e lápis oferecidos por eles também.
- Professores e pais encontram-se duas vezes por ano para uma conversa formal sobre o andamento de cada aluno. Fora isso, o contato costuma ser através de aplicativos de celular. Cada professor escolhe o que quer usar, informa aos pais, e as mensagens são sempre trocadas por ali.
- Eu não sei se isso acontece em todas as escolas, mas existe anualmente na dos meninos: Teacher Appreciation Day, ou o dia de agradecer aos professores. Pais voluntários organizam um almoço, na própria escola, com cardápio oferecido também pelos responsáveis, como uma forma de agradecer pelo ensino dado aos seus filhos. Demais, né? Aliás, essa coisa de pais voluntários é bem forte por aqui. Eu mesma e meu marido já participamos nas barraquinhas de prendas e jogos da “Feira da Primavera”. Todos ajudam, todos fazem acontecer e todos se divertem!
- Por último e para desespero dos pais superprotetores, as escolas em Toronto não têm muros e as crianças brincam nos pátios sob pouca supervisão. Durante o horário de lanche e almoço, uma pessoa específica fica de olho nelas e não seus professores. Cada um tem um trabalho determinado, e olhar criança comendo não é o trabalho deles. Mas dá super certo, viu?!
Acho que poderia ficar anos escrevendo sobre as escolas, pois sempre descubro alguma novidade, mas acho que já deu para se ter uma boa ideia de como as coisas funcionam. Gostaria que você me contasse o que achou! É muito diferente do Brasil ou dá para encarar?
2 Comments
flávinha sua maravilhosa, gostei tanto do que escreveu, até fiquei sonhando enquanto estava lendo, deve ter sido incrível sua experiencia por ai, amei sua “biografia”, amaria ser sua amiga, um beijooo…
Obrigada pelas palavras, Dâmaris. Que bom que vcs gosta dos textos. Bjs!