Eu sou nova por aqui e em meu primeiro post, venho contar toda a minha aventura ao preparar a minha mudança para um novo país, em um outro continente, que denominei em “Saga África”: da França para a Arábia Saudita e agora para o Congo.
Quando a nossa filha nasceu, no ano de 2014, o meu marido e eu conversamos e vimos que era tempo de dele parar de fazer rotações e fixarmos a nossa residência e trabalho num só país para que pudéssemos educar a nossa filha com uma rotina e não de acordo com a agenda da rotação dele.
Nesta época morávamos na França, numa cidade universitária chamada Rennes, a capital da Bretanha. Eu, que havia me mudado para lá em 2011, já estava mais do que habituada ao país e à cidade, apesar de no início ter passado por invernos que me congelavam até mesmo a alma.
Da França para a Arábia
No começo do verão de 2014, meu marido recebeu a proposta de nos mudarmos para a Arábia Saudita, na cidade de Khobar, situada na província do Leste. Eu comecei a ter sentimentos confusos, pois seria uma mudança muito drástica de cultura. Apesar do Brasil e da França terem suas diferenças culturais, ainda assim, eles têm muitas coisas que são similares e de fácil adaptação, porém já não podemos dizer o mesmo da Arábia Saudita.
No dia 22 de dezembro de 2014 nos mudamos para a Arábia Saudita. Isso mesmo, dois dias antes do Natal.
Devido a mudança, eu estava completamente perdida. Dois dias depois, estávamos na véspera de Natal e eu, que até então nunca havia preparado uma ceia sozinha, tive que correr para o supermercado para tentar preparar uma refeição decente para nós três.
Ao chegar no mercado não havia peru nem chester. Peguei o único frango inteiro que achei no mercado e fiz uma ceia pra lá de modesta. Antes mesmo de eu e a minha filha chegarmos, o meu marido havia comprado uma arvorezinha de Natal, que ele montou e decorou sozinho; era a única decoração de Natal da casa.
O mais estranho foi olhar pela janela e não ver nenhum sinal de que era 24 de dezembro.
Nesta época, a minha filha tinha 9 meses e era o primeiro Natal da vida dela. Porém, antes de irmos para a Arábia, meus sogros e minha cunhada fizeram um Natal antecipado para celebrarem com ela.
O choque cultural
Eu tive um enorme choque cultural. As mulheres ainda não tinham permissão para dirigir. Eu queria sair um pouco com a minha filha para conhecer algum lugar. A única opção era pegar o ônibus do prédio em que eu estava morando para poder ir ao shopping. Na França, se eu quisesse fazer o mesmo programa, eu poderia caminhar um pouco ao ar livre até chegar a uma rua de pedestres cheia de lojas.
Do meu apartamento eu tinha a vista da praia pública, contudo, não éramos autorizados a nos banhar. Se quiséssemos ir à praia, deveríamos ir a uma praia privada, pertencente a um hotel no país vizinho, o Bahrein.
Para sair, nós mulheres somos obrigadas a utilizar um longo vestido preto chamado abaya, para não mostrar determinadas partes do corpo, demonstrando assim, respeito ao marido.
Na França, assim como no Brasil, todas as mulheres tem a liberdade para se vestirem como bem entenderem. Apesar de na França ser proibido o uso da burca, mas apenas como medida de segurança, para evitar a não identificação da pessoa que a usa.
O que fazer no tempo livre?
Como na Arábia o mercado de trabalho para as mulheres era limitado e o visto não dava permissão para trabalhar, eu busquei fazer as minhas atividades, para tornar os meus dias mais agradáveis. Eu comecei a ter aulas de inglês porque após 3 anos falando somente francês, eu acabei esquecendo completamente o idioma. Portanto, durante os meus 2 anos e meio de residência por lá, eu me dediquei a aprender inglês e tive um progresso imenso.
Também preenchi o meu tempo livre dando aulas particulares de francês para iniciantes. Foi uma experiência muito gratificante. Cheguei a ter 7 alunos.
Em fevereiro de 2017, eu resolvi me inscrever num curso de instrutora de Spinning, para ter a possibilidade de trabalhar tanto na Arábia Saudita, quanto em outro país, já que a nossa vida de nômades não está perto do fim.
Confesso que era desconfortável viver com tantos impedimentos, mas no fim, a gente acaba se adaptando, pois como dizem por aí, somos camaleoas.
Apesar de tudo, vivíamos bons momentos por lá e já nos sentíamos verdadeiramente em casa! Devo muito à comunidade brasileira que encontrei na cidade de Khobar, pois fazíamos muitas atividades juntos que assim ajudavam a amenizar a distância da família e amigos. Também tivemos a possibilidade de conhecer vários países do Oriente Médio e da
Ásia, já que não estávamos tão longe quanto o Brasil e a França.
O começo da Saga África
No mês de junho veio a notícia que deveríamos nos mudar para um outro país, no continente africano. Esse continente seria o quarto da nossa lista. Aceitamos a proposta da empresa e ficamos apreensivos com a mudança.
De fato nós não sabíamos o que iríamos encontrar no país que viria a ser a nossa nova residência. Não tínhamos noção do tipo de imóvel que iriamos morar, não sabíamos a quantidade de coisas que poderíamos trazer e nem sabíamos o espaço que teríamos na nova casa, já que no Oriente Médio o tamanho das casas e apartamentos são bastante exagerados se comparado com outros países.
Da França para a Arábia Saudita e agora para o Congo
Finalmente, no mês de setembro nos mudamos para a República do Congo, na cidade de Pointe Noire, que é a capital econômica do país e cidade portuária, que se situa no Oeste da África, e consequentemente, banhada pelo Oceano Atlântico. Por ser uma cidade petrolífera, assim como Khobar, o número de expatriados é enorme, facilitando assim a nossa adaptação.
Uma boa notícia é que a República do Congo, por ser uma ex-colônia da França, é um país francófono, com uma comunidade francesa que se faz presente neste país.
Por aqui temos muitas coisas novas a descobrir e aprender. Uma nova
aventura da vida a desbravar na nossa SAGA ÁFRICA!
18 Comments
Oi Jacira! Caramba, que história! Estou super curiosa pelos próximos posts!
Boa nova etapa aí no Congo!
Obrigada Julia. Logo logo, sairá mais um post fresquinho falando sobre o Congo. Espero que leia.
Parabéns amiga! Fiz parte dessa história nas Arábias, e vi de perto como vc fez de tudo pra levar uma vida ativa num lugar bem restrito pra nós, expatriadas. Nossos criativos encontros, nos salvaram muitas vezes dá solidão, e nos fizeram ter grandes momentos e histórias pra contar!! ☺️ Sucesso na sua nova morada! Vida feliz no Congo é o que eu te desejo! ❤️?
Obrigada minha amiga. Com bons amigos como você não existe solidão. Tudo que vivemos na Arábia me serviram como aprendizado, cada momento que passamos juntas foi essencial para uma boa adaptação e vivência na caixa de areia.
Conheci a Jacira em Khobar na mesma situação de expatriada e concordo que ser camaleoa é o segredo, mas aprendi a duras penas….
Parabéns, querida, siga firme e ensine à linda Mel como ser vencedora como você; não basta ser guerreira!!
Obrigada Eliane. Pode deixar que já estou começando a direcionar a Mel e essa experiência na África nos ajudará e muito a crescer ainda mais como seres humanos.
Jacira, amei saber um pouquinho de como é a sua vida! Cheia de aventura e muito amor! Acho que se adaptar deve ser bem difícil, mas também muito satisfatório e enriquecedor. Sua filha sempre respeitará as diferenças, isso é maravilhoso. Estou torcendo por você!
Oi Tati! Morar fora do nosso país é uma aventura constante, porém como você disse é muito enriquecedor. Com toda certeza o fato de morármos fora ajudará muito no desenvolvimento da minha filha como pessoa e ser humano. Obrigada por torcer por mim e por ler o meu texto. Beijos.
Que bacana!
Eu também moro na arabia e sei os prazeres e dores de ser expatriada!
Boa sorte, Jacira!
Obrigada Debora. A vida de expatriadas nos enriquece e muito, porém realmente não é tão fácil como muitos pensam. Boa sorte pra você também. Abraços.
Jacira , gostei muito …achei bem escrito e me remeteu às minhas primeiras impressões da Arábia e de como somos corajosas, em sair por esse mundão!Parabéns
É Maria, quando chegamos na Arábia não sabemos o que vamos encontrar, e várias coisas passaram pelas nossas cabeças, até que como mulheres fortes que somos, conseguimos diblar as diferenças e construir uma nova morada num país de cultura totalmente diferente da nossa. Obrigada pelo elogio. Beijos.
E só em pensar que nos encontramos por acaso num shopping center na Arábia Saudita. Uma carioca “saca” a outra rapidinho! Ótimo texto, espero que venham mais!
É Luisa, o nosso encontro por acaso foi o primeiro passo pra minha inserção na comunidade brasileira, que foi primordial pra minha adaptação na Arábia Saudita. Sentirei a sua falta! Obrigada. Beijos.
Jacira! ! Ótimo texto! E boa sorte nessa próxima Saga!!! Tudo de bom pra vc e sua família!! Grande beijo!
Oi prima! Fico contente em saber que gostou de ler o meu texto. Obrigada. Bjos.
Jack…qnt tempo !! Nossa, não sabia q vc tava tao camaleoua assim…mas adorei saber que vc ta vivendo grandes experiências e se adaptando bem pelos países que tem morado. Adorei o post !! Bjooo
Oi Letícia, faz muito tempo mesmo! Nem eu imaginava que viraria essa camaleoa que me tornei, realmente a vida nos surpreende e o segredo é saber lidar com as mudanças e as diferenças culturais que encontramos no nosso percurso da vida. Obrigada pelo elogio. Beijos.