Depois de três anos na região de Washington DC, estado da Virginia, fui surpreendida com a notícia de que teria que me mudar para Seattle, estado de Washington. A Virginia fica na porção sudeste do país e Seattle na porção noroeste, sendo 2.770 milhas de distância ou 4.455 quilômetros.
Além da considerável distância geográfica fui surpreendida com a enorme diferença cultural. Acho interessantíssimo como cada estado norte americano cultiva suas peculiaridades, fazendo com que o país pareça mais um agregado de diversos mini-países que de comum só possuem a língua, o Walmart e o Mac Donalds!
Já foi muito difundida e descrita a enorme diferença de estilo de vida entre a costa leste americana (voltada para o Oceano Atlântico) e a costa oeste (Oceano Pacífico). Vivenciar isso tem sido divertido e parece que às vezes entrei em uma máquina do tempo, onde vim parar no futuro (Seattle), deixando o passado para trás (Washington DC).
Um dos meus maiores prazeres na região da Virginia era passear por lugares e construções históricas. Tudo remete ao passado: a lindíssima cidade de Alexandria, os ainda conservados campos de batalha da guerra da secessão norte americana, que se passou em meados do século XIX, os inúmeros monumentos em Washington DC, etc. Aprendi muito sobre a história e formação dos Estados Unidos, somente passeando por lá. Sem contar que Washington DC é um deleite para quem gosta de artes e museus. Escrevi um bocado sobre isso, aqui no Brasileiras pelo Mundo e também na revista de arte contemporânea ArteREf, onde sou colunista.
Mas a vida sempre nos surpreende e depois de já ter me encantado por DC e arredores, vim recomeçar minha história em outras paisagens. Por enquanto Seattle (o futuro, lembram?) tem me proporcionado muitas surpresas agradáveis, vamos a algumas:
- Beleza geográfica e territorial. A cidade de Seattle está localizada entre duas cadeias de montanhas, às margens da grande baía do Puget Sound no Oceano Pacífico, no seu lado oeste, e do lago Washington no seu lado leste. Além disso a cidade, cercada por vulcões, sendo alguns ainda ativos, é cheia de lagos e colinas, com belíssimas pontes, proporcionando vistas deslumbrantes a cada curva. Um verdadeiro espetáculo da natureza.
- Culinária. Sou viciada em café. O simples cheiro de café moído já me dá alegria e isso está sendo uma festa. Aqui em Seattle foi fundada em 1970 a gigante rede Starbucks e isso fez frutificar na cidade a cultura do café, com inúmeras cafeterias especializadas nos mais sofisticados métodos de torrefação dos grãos, que chegam aqui de toda parte do mundo. Sem dúvida é a cena mais gourmet de café que já vi nos EUA. Eba! Além do café, a cidade defende ferozmente a alimentação saudável e de qualidade. Assim são infinitas as opções orgânicas, que no resto do país basicamente se resumem ao Whole Foods. Existe até um super-mercado cooperativo, com lojas por toda cidade, o querido PCC, comprometido somente a vender produtos orgânicos, locais e de origem comprovada. Se a intenção é comer fora, Seattle também agrada! Com restaurantes de altíssima qualidade e das mais variadas cozinhas internacionais, a cidade oferece uma cena gastronômica que chega a lembrar a minha saudosa São Paulo. Muito mais cosmopolita do que vi na Virginia. Achei até coxinha e pão de queijo recheado com doce de leite gente! Tem texto aqui do BPM falando mais sobre isso.
- População Fitness: Com tantas trilhas para “hikes”, praias de lagos calmos e parques bem estruturados, a cidade é um convite à uma vida saudável, com inúmeras opções esportivas. Ser ativo é uma das características dos seatlelites e até dentro das empresas a prática de exercícios é super incentivada. Meu marido, por exemplo, tem aulas de bootcamp – uma nova modalidade de ginástica super intensa – durante o horário de trabalho, gratuitas para todos os funcionários interessados. Com certeza a Gabriela Pugliesi (risos) iria adorar a cidade!
- Cidade Verde. A cidade e seus moradores são extremamente comprometidos com a questão ambiental. A coleta de lixo é seletiva, dividida em reciclados, orgânicos e compostos. Confesso que ainda não entendi direito o funcionamento. Além disso, sacolas plásticas foram praticamente banidas e em nenhum lugar elas são oferecidas gratuitamente. Carregar suas sacolas recicladas é um hábito e se você esqueceu a maioria dos estabelecimentos oferecem sacolas de papel, sob um pequeno custo. Muitos restaurantes também passaram a adotar a prática de banimento de canudos, um dos grandes vilões do nosso ecossistema. Na questão do transporte bicicletas e carros coletivos e temporários são a nova forma seatlelite de se locomover. Por meios de aplicativos baixados no celular você pode alugar por milha ou tempo rodado bicicletas e carros que ficam espalhados pela cidade toda e não em pontos específicos. Isso facilita a vida de quem saiu para caminhar e se cansou, por exemplo, fazendo com que muitos abram mão de possuir o próprio carro. Super futuro!
- Liberdade de expressão, gênero e raça. Isso, por enquanto, foi o que mais me agradou. Seattle é a cidade mais amigável para toda e qualquer maneira de expressão individual. A comunidade LGBT é extremamente respeitada, ninguém se importa com sua cor de cabelo ou roupa, e em quase todas as casas os moradores colocam essa placa. Como imigrante, me senti infinitamente mais acolhida aqui do que na Virginia, que apesar de muito diversificada, a interação entre raças, classes sociais e religiões é bem menor.
- Tecnologia. Em Seattle está a sede da Amazon, da Microsoft e de diversas outras empresas do ramos tecnológico. Isso influencia e muito, o perfil da cidade e seus moradores. Quase tudo é feito a partir de aplicativos e “gadgets” infinitos. Muitas vezes me sinto como aquela tia velha, que fica perdida pedindo ajuda à molecada para lidar com o controle da TV. Um desafio, confesso!
Não conheço o Canadá, mas para muitos que vivem aqui dizem que há mais similaridades entre Seattle e Vancouver do que com outras cidades norte-americanas. Por enquanto estou tendo uma experiência agradabilíssima e curtindo a vida nova como se eu tivesse mudado de país, porque as coisas aqui funcionam de maneira muito diferente da Virginia.
Para saber mais sobre Seattle, recomendo o blog de minha colega Camila aqui no Brasileiras pelo Mundo, Milla em Seattle, que é apaixonada por esse cantinho!
Esse período de descobrimento ainda não fez bater a saudade das calçadas de pedra que me encantavam em Alexandria, mas o bom da vida é isso, ir colhendo pelo mundo lembranças, imagens, sabores e lições que farão parte da nossa própria história.
Vamos embora escrever mais um capítulo?
Abraços – agora de Seattle – e até a próxima!
1 Comment
Boa sorte na nova jornada e morada
Gabi!!! Adorei o texto, me deu vontade de conhecer Seattle. Quem sabe…. Bjs