O verão no Canadá pode ser visto como uma dádiva, mas ao mesmo tempo não é nem de longe comparável com os quentes e animados verões brasileiros. Deixo para vocês escolherem de qual lado preferem admirar o verão canadense.
O texto desse mês é sobre a vida praiana em Vancouver. Sim, Vancouver tem praia! Eu até moro pertinho de uma delas (English Bay). Dá para acordar e olhar pro oceano Pacífico todo dia de manhã. E sim, tem verão no Canadá! Na verdade, minha percepção é a de que as pessoas esperam ansiosamente por ele todos os anos, muito mais do que se espera pelo verão no Brasil. Em Vancouver chove praticamente nove meses sem parar (do outono em setembro até a primavera em maio). E, nesse mundo molhado, a esperança de um verão quentinho é o que dá forças para continuar (não se iludam, quentinho aqui é 20 graus Celsius).
E aí, quando o tão esperado sol chega, o que dá pra fazer? Bom, dá pra ir pra praia! Sol, praia, água de coco, cerveja gelada, peixe frito, pegar umas ondas, correto? Errado! Bom, sol tem. Praia tem também. Mas o que pode e o que não pode fazer na praia, é bem diferente do Brasil.
Para começo de conversa, na praia só existem as barracas “oficiais”, não tem vendedor ambulante de comida nem de nada – para alguns isso soa até como um alívio, mas vou te contar que amo um milho assado, uma empadinha de frango, comprar umas bijouterias (quando pequena ainda fazia tatuagem de henna e tererê no cabelo) – lembranças de verões em terras capixabas (como boa mineira, verão era no Espírito Santo). Tem isso não. E o que que se vende na cabana oficial da praia? Preparados? Hamburguer, cachorro quente, café, limonada, batata frita, e por aí vai. Cerveja? Uns bons drinks? Nem pensar! E aí entramos na discussão sobre bebidas alcoólicas em Vancouver – é proibido beber em ambientes públicos, leiam-se praias, parques, até mesmo na rua. Aqui tem as “liquor stores” que são as lojas próprias que vendem bebidas alcoólicas (não dá para comprar no supermercado, por exemplo). E tem guardas fiscalizando, então não vai cometer a bobagem de se encrencar por causa disso. Além da bebida alcoólica, é proibido fumar na praia (essa regra eu confesso que é um alívio para mim).
Dá pra sentar na praia? Dá sim. Eles tem uns troncos de madeira que ficam espalhados justamente para o conforto dos banhistas (nada de cadeira de praia ou de barracas). É esquisito à primeira vista? É. Mas depois você se acostuma e já vai procurando pelo tronco desocupado mais perto.
Dá pra tomar banho de mar? Aí a conversa já muda de figura. Que dá, dá. Mas o mar aqui é quase uma lagoa, não tem onda nenhuma, super parado. Além disso, Vancouver é um porto, então tem muita movimentação de navios (outro dia acordei com uma buzina ao longe e achei que estava delirando. Não, era só um barco mesmo). A vista fica linda com tantos barcos e navios (tem muitos cruzeiros que saem daqui também). Mas a água já não fica assim tão limpinha… Eu nadei duas vezes só. Uma primeira vez em 2013, porque estava deixando a cidade e não queria deixar de entrar no mar. A outra foi no dia 01 de Janeiro deste ano. E como boa Vancouverite, participei da tradicional “Polar Bear Swimming”.
No primeiro dia do ano, todo mundo se reúne na English Bay e, na hora marcada, todos correm e mergulham no mar (a temperatura do ar em torno de 1 grau e a da água 7 graus). É uma tradição da cidade que remonta a 1920, mas que muitos preferem mais assistir do que fazer. É mais ou menos perigoso, para se colocar de um jeito ameno (você inclusive tem que assinar um termo de responsabilidade). Eles distribuem panfletos explicando o que se deve ou não fazer: por exemplo, só tirar a roupa de frio segundos antes de entrar na água, não beber e não ficar na água muito tempo (não mais do que 15 minutos). Isso porque as chances de hipotermia ou choque térmico são reais. Mas tem guardas e bombeiros de olho em todo mundo e seguindo as regras é muito difícil algo dar errado. Só sei que é diferente. Mergulhar na água gelada é como deixar todos os problemas para trás e começar o ano novo do zero. É bom demais. Tudo bem que assim que saí correndo do mar eu não estava sentindo mais meus pés – uma moça do lado me indicou tirar os pés da areia o mais rápido possível. Claro que teve aquela vozinha na cabeça dizendo “vai ter que amputar os pés”, mas ela logo passou e as risadas vieram (tudo bem com os pés, eles ainda estão por aqui).
Tem coisa legal na praia também. Tem muitas redes pra jogar vôlei de praia. Muito espaço verde para fazer churrascos, andar de bicicleta… Este ano adquiri o hábito de correr no “calçadão” das praias e a vista é muito bonita. Dá uma sensação boa correr assim, pertinho da água quieta, admirando as montanhas ao fundo.
Então assim, se você está esperando viver um verão à brasileira em Vancouver, vai se decepcionar um pouco. Mas para quem agüentou meses e meses de chuva e frio, a sensação de um dia de sol, sentada nos troncos, tomando uma limonada e admirando a paisagem, parece quase como um presente do céu.