Quando decidimos morar fora ou ficar, a família sempre pesa, como conciliar o que queremos com o que a família quer?
Essa é uma pergunta que frequente recebo de leitores que estão na dúvida se vão embora ou se voltam para o Brasil, colocando sempre como um fator de dúvida a família que ora está no Brasil e lamenta a possibilidade de ficar longe quando a pessoa em questão comenta sua vontade de sair do país, ora está fora, morando com família em outro país, e a família deseja se manter lá enquanto a pessoa em questão deseja voltar à viver no Brasil.
É claro que é impossível dar uma resposta que sirva para todas, mas depois de tanto tempo conversando com diversas mulheres inspiradoras sobre o tema, decidi colocar aqui alguns pontos que que acredito ajudarem a clarear as coisas antes de tomar qualquer decisão.
O primeiro são os argumentos da família, principalmente tratando de pais, amigos e namorados. Muitos nos falam sobre a distância, saudade e dificuldade financeira para visitar, porém devemos sempre avaliar tudo isso com carinho, mas nessa hora é preciso pensar com maturidade o que te faz querer ter uma experiência no exterior e fazer a escolha que se encaixa melhor no seu momento, na sua vida.
Não estou dizendo que devem desconsiderar os pontos dos familiares, e sim que as expectativas de quem nos ama nem sempre nos beneficia, mesmo que seja com toda amor e carinho que existe no mundo. Muitas vezes aquilo que nos fará feliz inicialmente irá doer em nós e em nossa família, mas os frutos da liberdade de escolha e da nova experiência virão depois, cheios de novas ideias, caminhos de vida e até mesmo maturidade para voltar e ser ainda mais feliz no Brasil. E olha que falo isso com conhecimento de causa, hein!
Quando eu e meu marido decidimos morar fora não me lembro de sofrer uma resistência direta dos nossos familiares, mas me lembro de ouvir, principalmente de nossas mães, que seria duro suportar a saudade. Porém, sempre deixamos muito claro como aquela decisão nos fazia feliz e como o apoio delas era importante para nós. Não estávamos sendo exilados ou castigados, era uma escolha, uma experiência, era tudo muito desejado e esperado por nós. Diante desse olhar, era impossível não arrematar o suporte de duas mães que amam seus filhos e querem, genuinamente, vê-los felizes.
Eu passei dois anos e meio fora e falávamos toda semana com nossos familiares por Skype ou Facetime. Nesse período voltamos 2 vezes para o Brasil, sendo que em uma delas ficamos 3 meses. Costumo dizer que ainda bem que fomos nós que escolhemos ir, pois sofremos mais que todos, afinal tínhamos que lidar com a saudade das pessoas, do país, do clima, da língua. Para eles era complicado, mas a sensação é que sempre estavam melhores que nós para nos dar suporte.
Outro ponto importante de considerar é se a vontade de morar fora é sua ou se está sendo influenciada por outras pessoas, situação política ou até mesmo sonhos e fantasias. É importante sempre sermos muito racionais quando tomamos esse tipo de decisão, por mais que pareça legal a ideia de colocar uma mochila nas costas e sair por aí sendo aventureira, estamos falando de um lugar desconhecido, de gastar dinheiro, de investir tempo de vida e energia naquela experiência e às vezes até mesmo abrir mão de uma estabilidade que tem no Brasil.
Eu sou muito movida por impulsos, geralmente decido cortar o cabelo às 22h e corro pra achar um salão aberto nesse horário. Assim como quando canso de um trabalho que estou fazendo ou do apartamento que moro, porém, como podem imaginar, para esses dois últimos exemplos tenho que por tudo no papel, discutir com pessoas que confio e pensar antes de agir. Morar fora não deve ser tratado diferente, pois é um ato que exige coragem sim, mas principalmente certeza e estabilidade emocional, ainda mais se a mudança for para uma país frio, que pode nos deixar mais doentes e até deprimidas quando não estamos acostumadas com essa rotina.
Demoramos três anos planejando morar fora. Entre muitas conversas, pesquisas, mudanças de ideia e alinhamento necessários entre duas pessoas, fomos encaixando o melhor momento racionalmente com a latência da nossa vontade de ir. Confesso que nunca me imaginei dizendo isso, mas: a gente sabe quando é a hora certa de ir.
Por fim, para aquelas que estão fora e querem voltar mas possuem maridos trabalhando no outro país e filhos já adaptados lá, muitas vezes nascidos no país, concordo que é bastante complicado e cada caso deve ser pensado e avaliado de acordo com as suas particularidades. Porém, posso adiantar um conselho que costumo dar para todas que me escrevem por e-mail e para todas as pessoas que eu gosto, a sua felicidade é sempre a coisa mais importante da sua vida. Maridos podem mudar, filhos crescem e pais se vão, portanto é preciso avaliar com bastante cautela aonde quer estar para que possa sorrir do momento que acorda ao momento que vai dormir, ao menos em grande parte dos dias, já que sabemos que ser feliz todos os dias é impossível.
Além disso, saiba que não existe decisão definitiva nessa vida, nunca saia de algum lugar pensando que nuca mais voltará, não coloque tanto peso assim nas suas decisões, não é necessário. Faça suas escolhas sabendo que pode se arrepender e voltar atrás. Isso é humano e natural. E se quer saber, não tem um dia na minha vida que não penso que deveria voltar para Londres e tenho certeza que se tivesse ficado lá pensaria no Brasil todos os dias, essa é dor e a delícia de quem conhece outras caixinhas e não somente uma para se morar.
Conciliar vontades de pessoas é um desafio, independente do grau de complexidade do assunto, portanto saiba que não é a única em cima desse grande “muro de Berlim”, mas o mais importante é se conhecer profundamente, conhecer seus sentimentos e saber se comunicar com aqueles que ama. Afinal, não existe nada que não seja resolvido com bons e reais argumentos regado à um maravilhoso cafezinho Brasileiro.
2 Comments
excelente, expressou o que venho pensando. Estou prestes a mudar de país, e realmente a reação da família que fica aqui é bem complicada, mas venho fixando esse pensamento de que a minha felicidade tem que vir primeiro, nao posso abrir mão de meus desejos pela felicidade dos outros.
Oi Deb, entendo o que está passando e muitas mulheres me escrevem dizendo o mesmo. Precisa sempre dar prioridade para a sua felicidade. 🙂
Conte comigo para o que precisar.
Johana