Um dia desses comentei com meu marido que estava com muita saudade de uma rua que ficava do lado da nossa casa em Londres, chamada Hamilton Terrace, que carinhosamente batizamos entre amigos de Terraço do Hamilton. Ele riu e perguntou porque, e eu comecei a descrever a rua e tudo que me fazia sentir saudade, as flores na primavera, as árvores imponentes, as casas milimetricamente ajeitadas e a igrejinha que parecia fazer parte de um cenário de filme. No final, ele balançou a cabeça negativamente e disse: obrigada, você me fez sentir nostalgia e entrar em depressão.
Quem nunca desejou estar em um lugar que não está?
Pois é, cheguei em uma fase da minha vida que já sei de cor os truques e macetes da minha mente maluca, e sei, principalmente, que ela adora me fazer desejar estar sempre aonde não estou, mesmo que eu tenha acabado de sair daquele lugar. Se isso acontece quando troco de cômodo dentro de casa, porque não aconteceria no meu processo de mudança de país?
Quando eu estava em Londres costumava escutar músicas brasileiras e queria comprar um voo direto para Bahia. Me achava a pessoa mais latina, simpática e morena do mundo (sim, pasmem, eu me achava morena!). Logo que cheguei em São Paulo passei de baiana wanna be para britânica raiz em um piscar de olhos, reclamando da desorganização, das rodas de samba barulhentas na praia e, claro, comecei a ouvir The Beatles todos os dias e ser mais pontual que os próprios britânicos.
Antes que comece a me julgar e me colocar naquela caixinha de pessoas insuportáveis que querem sempre contar suas experiências internacionais, se vender como cultos e viajados e passar a imagem de que estão acima disso aqui, independente de onde for “isso aqui”, vou adiantando que graças a Deus não me tornei um deles e também me irrito com esse comportamento, mas não culpo essas pessoas, na verdade sinto compaixão e sei que tratam-se de vítimas do nosso mais novo modelo de sociedade, felizes nas redes sociais, felizes no discurso, porém cheios de ansiedade, expectativas, preconceitos e rótulos.
Estamos, aos poucos, construindo uma nação de pessoas infelizes e ninguém está imune a isso, não importa aonde estejam, com quem ou fazendo o que, parece que sempre queremos estar no lugar do outro, pois a imagem que ele nos passa da sua vida é maravilhosa, feliz, sarada e cheia de coisas legais 24 horas por dia.
Como eu costumava dizer erroneamente e matar meu marido de tanto rir: Faça mil favores!!!
Apertem os cintos e segurem-se nas cadeiras, pois eu vou contar uma novidade aqui para vocês: quase todos nós passamos por momentos muito difíceis de adaptação em um novo país, mas isso jamais é demonstrado nas redes sociais ou pessoalmente para qualquer um que não seja íntimo o suficiente. Ao contrário disso, quanto mais infelizes estamos, mais postamos, viajamos e, quase que como um ato de desespero, tentamos nos convencer de que tudo estava perfeito e invejável como deveria estar. Enquanto isso, pobres trabalhadores, cheios de sonhos e esperanças, entre uma enxadada e outra, paravam para tomar uma água e ver as redes sociais desses tais donos das vidas perfeitas e, claro, invejá-los.
Eu, como quase todo mundo que muda de país, tive dias desesperadores em Londres, que me fizeram querer voltar, mas no fim aprendi muito com isso e me tornei mais forte, mas hoje também tenho dias terríveis aqui em São Paulo, afinal, estou me adaptando novamente e adaptação é sempre difícil, independente do lugar. Sinto falta de Londres, do Terraço do Hamilton e dos amigos, mas sei que se eu olhar bem para os lados e viver o hoje e o agora, também verei muito valor nesse país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza.
E foi assim, em um feriado daqueles que te faz descansar a cabeça, esquecer o mundo e lembrar na prática que só no Brasil existe tanto feriado, que escrevi meu último texto do ano, com um sorriso no rosto e a certeza de que tive um ano turbulento, porém cheio de novidades e textos publicados, e de que no próximo ano quero, de verdade, levar uma vida ainda mais genuína, sem alterações ou falsificações em nenhum meio social.
Obrigada 2017, serei eternamente grata ao ano em que fui uma Brasileira Pelo Mundo e também Uma Brasileira Pelo Brasil. Não tinha como ser mais completo que isso.
10 Comments
Johana, amei seu texto! Obrigada pela simplicidade e sinceridade nas suas palavras! Que sua (re)adaptação em São Paulo seja cheia de coisas das quais um dia sentirá saudade, porque foram muito boas! Beijos
Obrigada, Lívia! Fico feliz que tenha gostado!!!
Pode ter certeza que estou aproveitando cada segundo na minha terra da garoa favorita! Beijos!
Esse blog, é sensacional. Amo os textos e me identifico muito com muitos deles (moro em Toronto há 11 meses). Parabéns!
Que bom Luciana! Fico feliz que goste do BPM e que acompanhe nossa história por aqui. 🙂
O site abriu, mas as fotos não apareciam.. Vi só o título e a tag divagações, pensei: “só pode ser um texto da Johana”!
A autoria apareceu sem supresas e o texto também terminou sem.. <3
<3 Obrigada por ler mais um dos meus textos!!! 🙂
Terraço do Hamilton ❤
Mais uma vez vc me fez chorar!
Obrigada por me dado colo nesses momentos desesperadores e não tão felizes na terra da rainha!
A verdade é que não importa onde a gnt esteja, e sim quem está com a gente!
Não foi fácil, mas valeu muito a pena!!!
Agora não tem mais Terraço do Hamilton, que eu tbm amava tanto, mas tem a gnt! ❤
Pois é, me lembro da gente carregando colchão lá e quase morro de saudade. 🙂
Quem diria que a saga do colchão iria nos fazer derramar lágrimas?!
Saudade daquela vida paralela e daquela família linda e unida. Bora se ver mais!!!
Sabe, Johana, me identifiquei tanto com o seu perfil e seus pensamentos! Eu sou paulistana, publicitária e trabalhei 10 anos na área antes de me mudar para Montréal, no Canadá. No começo foi tudo um deslumbre, depois as dificuldades de um imigrante foram chegando e não pararam mais. Estou de férias no Brasil com meu marido e minha filhinha de 1 ano. Nunca desejei tanto a vida que eu tinha antes de imigrar…às vezes até me pego pensando que preferiria não ter conhecido o outro lado do mundo para poder ter continuado na minha mesma vidinha aqui. Eu quero voltar mas me sinto extremamrnte apreensiva pois meu marido não quer e ele sempre me lembra dos preços absurdos de SP, inclusive para se criar um filho com boa educação. Me encontro em um mato sem cachorro pois ao mesmo tempo que sei que o Canadá é um lugar seguro para a minha filha, me apego ao calor daqui (lá o inverno é de lascar e dura 5 meses), aos meus pais que estão bem velhinhos e doentes e à alegria de um lugar simples onde posso voltar a trabalhar com o que sempre gostei. Talvez eu faça como vc, comece a escrever para poder compartilhar meus milhões de loucos pensamentos com outras pessoas que se identifiquem com eles. Continue escrevendo e bom reinício!
Oi Camila, as respostas chegam no tempo delas, não adianta sofrermos com a dúvida de onde seremos mais felizes. A verdade é que tristeza e dificuldades fazem parte das nossas vidas, não importa aonde estamos. 🙂
Espero que encontre seu caminho, escreva se sentir que deve e, como diz Gil, o melhor lugar do mundo é aqui e agora.
Beijos, Joh