O desafio do desapego
Mudar de país é um desafio em vários sentidos, sempre que li a respeito desse assunto e alguns pontos sempre eram abordados: a saudade da família e dos amigos, a necessidade em se aprender novas coisas, se adaptar a um novo idioma e uma nova cultura, como “sobreviver” a mudança de clima.
Mas hoje quero dividir com vocês algumas angústias que vieram antes de pisar no país novo:
Das coisas que imaginei que seriam difíceis, desde quando comecei o plano de me mudar de país, com certeza vender as coisas de casa não me parecia algo que fosse mexer muito comigo… que engano!
Como o plano de mudança é independente, nem eu nem meu marido fomos expatriados, decidimos que iríamos ter que resumir nossa vida em 2 malas, 1 mala de mão e 1 mochila para cada um (quer dizer, a resolução das companhias aéreas acabou decidindo por nós!).
Cerca de dois meses antes da mudança, resolvi abrir uma lojinha online para anunciar as coisas aqui de casa, desde potinhos no fundo do armário da cozinha à geladeira, cama e livros! Ou seja, praticamente tudo entrou na dança!
Os dias foram passando e parecia que nunca dava tempo de tirar as fotos para fazer os anúncios, parecia que algo em mim não estava querendo dar esse passo. Até que um dia eu resolvi que precisava fazer! Ao tirar as primeiras fotos parecia que meu peito estava sendo esmagado, cada coisa que eu pegava vinha uma história, uma lembrança e eu fui vendo como cada coisa fez parte da minha vida nos últimos 9 anos, desde que me casei, e algumas até de muito antes quando vivia com meus pais. E assim, dessa mistura de sentimentos nasceu a lojinha, praticamente um parto, mas era um passo necessário para que a mudança pudesse finalmente começar a nascer.
Ver as coisas tomando rumos novos, ver pessoas próximas, amigos distantes, colegas de trabalho e amigos de amigos vindo aqui comprar as coisas dava um misto de alegria, ansiedade e empolgação, pois além de estar abrindo mão das coisas materiais, estava trocando experiências com cada um que veio até aqui me ajudar e, quando digo ajuda, isso vai muito além do financeiro, foi uma experiência maravilhosa!
Além desse, um outro ponto que foi um desafio fora do normal foi ter que deixar minha gata com um casal de amigos. Não sei nem como começar a escrever sobre essa experiência, pois sempre li sobre “Como imigrar com seu animal”, “Como levei meu animal para….” e aí chegou a minha vez. Minha gatinha está com 11 anos e faz 11 anos que ela está comigo. Morou comigo quando eu morava com meu pai, morou comigo em todas as casas que morei depois que me casei (foram 4!) e ainda mudou de Estado comigo e com meu esposo! Nunca havia passado pela minha cabeça que algum dia iria me mudar e ela não iria junto. Sempre que pesquisei sobre imigração uma das primeiras buscas era: “Como levar um gato para (coloque aqui o nome do país)”.
E então lá estávamos nós, começamos o processo de vacinação, microchipagem e emissão de documentos. O veterinário nos disse que depois disso teríamos um período para emitirmos um documento com o Ministério da Agricultura que a habilitaria a imigrar, porém, por alguma razão ele não nos passou todos os prazos adequadamente e depois que compramos nossas passagens descobrimos que esse tal documento só poderia ser emitido quase um mês depois da data de nossa passagem.
Nossa primeira reação foi: vamos trocar a passagem! Mas aí tivemos um balde de água congelada… O valor para trocarmos a passagem era completamente fora da nossa realidade! E com isso veio o medo, o desespero, pois não tínhamos ideia de como resolver essa situação; com isso comecei a pensar!
Tenho comigo que nada acontece por acaso e diante de todas as situações podemos tentar aprender ou repensar nossas decisões. Conversando com meu esposo e algumas amigas cheguei a conclusão que talvez com isso pudesse pensar no bem estar da Bella diante de toda essa mudança. Ela já tem 11 anos e alguns probleminhas de saúde, depois que nosso outro gato morreu ela já estava sofrendo demais por ficar muito tempo sozinha e nós não temos ideia de como será a nossa rotina no novo país e então pensei: por que não deixá-la com alguém que tivesse uma vida mais estável, onde ela pudesse ter mais companhia?
Comentando com pessoas próximas sobre isso, um grande amigo se ofereceu para ficar com ela. De todas as pessoas que eu poderia imaginar, com certeza ele e a esposa superam tudo o que eu poderia desejar para serem os novos tutores da minha gatinha! Mas apesar de, logicamente, ser a decisão mais bem pensada doeu e dói demais. Mas tenho certeza que todos nós ficaremos mais tranquilos e felizes com esse desfecho. Com muitas saudades, mas com a certeza de que foi a melhor coisa a ser feita.
Procurando por psicólogas brasileiras pelo mundo?
Não quer dizer que foi fácil… não foi e não tem sido! Pois tanto o desapego de tantas coisas, que foram compradas com tanto carinho nos últimos anos, como principalmente o desapego da minha companheira de tanto tempo, são um aprendizado a realmente desapegar.
É trabalhar dentro de mim que para cada coisa que vai, abro espaço para algo novo vir, não somente no sentido das compras que irei fazer para substituir os itens vendidos, mas do espaço a novas experiências que estou abrindo.
É poder perceber que no final das contas a vida é mais do que os itens que temos em casa ou no guarda-roupa, mas sim das experiências, que tudo o que foi vivido até hoje não acabou, mas que as experiências que tive e as emoções que senti continuam vivas dentro de mim. E que, assim como eu terei novas emoções, a Bella também e hoje ela está espalhando seu amor para uma nova família!
Quando me perguntam como tenho coragem de fazer tudo isso, sinceramente não tenho uma resposta que as palavras consigam expressar, mas sei dentro de mim que, para cada adeus que dou, tenho certeza que virão muitos novos olás!
Fica aqui o maior obrigada do mundo ao Pepe e a Ro por terem acolhido minha Bellinha!
6 Comments
Boa Tarde, texto maravilhoso… Tenho uma irmã que mora na França, ela foi adotada por um casal de franceses. E eu decidir morar com ela, mas não falo francês, ela conseguiu um trabalho. Mas como você disse no inicio do texto, a saudade da família vai ser o mais difícil. Estou largando tudo no maranhão, sou gestora de Rh, tenho minha casa, meu carro, meu emprego, minha família e meus amigos… Estou deixando tudo isso pra tentar a vida lá. Confesso que estou com medo, mas eu quero tentar essa oportunidade.
Que legal Sarah! Se precisar de alguma coisa, pode falar!
Já sabe em que parte do país vc vai morar?
Beijos!
Olá Julia, então, minha irmã mora em Antonny e trabalha em Paris. Confesso que estou com medo de largar toda minha vida aqui e iniciar do zero em outro País. O que você acha?
Oi Sabrina! Depende do que vc espera pra sua vida e carreira. Se vc quiser, me adiciona no face para conversarmos 🙂 Julia Lainetti
🙂 Obrigada Júlia
Uma experiência e tanto.
Atualmente vivo em Portugal, também larguei tudo em busca de novos desafios, sou muito determinada e em Deus encontro forças para vencer as dificuldades, que até o presente momento são muitas…