Dicas para criar um bom network de trabalho nos EUA.
Os EUA são a terra do emprego. Eu sempre falo para os amigos recém-chegados para nunca trabalhar de graça aqui. A não ser que seja um trabalho voluntário que vá agregar muito valor à sua carreira. Mas apesar do mercado de trabalho ser bastante dinâmico, arrumar um emprego legal pode ser difícil. É fundamental ter um bom network (rede de contatos) para encontrar propostas interessantes de trabalho.
Eu vim para os EUA para mudar o rumo da minha carreira. Graças a Deus, eu estou conseguindo. Fiz engenharia florestal, mas não gosto muito de trabalhar no meio do mato. Eu gosto de cidade grande, de curtir bandas novas, dar bom dia pros mendigos, fazer amizade no Uber. Então me mudei pra Portland para estudar Urbanismo, com foco em Florestas Urbanas.
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Eu não tinha muita experiência nesse ramo. Para me familiarizar, comecei a ir em várias palestras e fazer alguns trabalhos voluntários na área. Foi um passo muito importante. Primeiro, eu sempre encontrava pessoas com objetivos profissionais parecidos nas palestras. Às vezes a gente aprende mais rápido conversando com alguém da mesma área de trabalho do que lendo um livro ou um artigo. É claro que a literatura é importante. Mas se a gente souber mais ou menos o que procura fica mais fácil de seguir um caminho.
A vantagem de fazer trabalho comunitário é que muitas empresas contratam antigos voluntários. Já conheci muitas pessoas que foram contratadas depois de passarem cerca de um ano voluntariando em certa empresa ou agência. E alguns trabalhos voluntários não são tarefas tão simples. Por exemplo, eu participo de forma voluntária do Comitê Florestal Urbano de Portland. Não ganho um centavo, mas me comprometo a ajudar a cidade a ter políticas mais equitativas e justas. Só de participar desse Comitê, várias portas se abriram. Hoje me chamam para dar palestras em eventos florestais organizados pela prefeitura.
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Uma coisa interessante nos EUA, é que todo mundo quer saber quem você é. Principalmente se você tem um sotaque. Às vezes chega a ser um pouco irritante, como já mencionei em outro texto. Mas podemos transformar toda essa energia em algo positivo e usar como uma forma de networking. Ao chegar em um evento, é sempre bom se apresentar, falar o que faz, os interesses de trabalho e de estudo. Com certeza vai ter alguém que vai pedir o seu contato. Aqui as pessoas frequentemente se encontram em reuniões informais. Por exemplo, é normal marcar um café apenas para falar sobre a rotina e interesses de trabalho. Além de estar atenta às novas possibilidades.
As pessoas são muito diretas nos EUA. Por exemplo, se você quiser trabalhar em determinado lugar e conhecer alguém que trabalhe lá, não fique com vergonha de dizer. No local que eu trabalho agora, eu tive que pedir para renovarem o meu estágio e escrever um projeto para continuar a ter uma função lá. Como disse no início do texto, é o país do emprego e consequentemente do dinheiro. Há muito investimento e as pessoas valorizam um trabalhador esforçado. É importante também chegar cedo, honrar os compromissos e ter uma boa oratória. Às vezes pode bater uma preguiça ou uma vergonha. Mas só de ir em eventos, palestras, e se apresentar constantemente à pessoas diferentes já diminui a timidez.
É importante também ser uma figurinha carimbada. Se você quer trabalhar em determinada instituição, visite o site, procure onde terão eventos comunitários, assine o e-mail de notícias, e participe das atividades. Assim que abrir uma vaga nessa empresa, durante a entrevista você poderá dizer que já conhece alguns funcionários. Ainda, que já está familiarizada com as atividades e visão da instituição. Ano passado eu me inscrevi para dois estágios, cheguei a fazer as entrevistas, mas contrataram outras pessoas. Porém, eu respondi a carta de rejeição, agradeci a oportunidade, e deixei a porta aberta. Quem sabe em um futuro próximo não poderíamos trabalhar em conjunto? Uma das empresas sempre me manda propostas de trabalho. Os gerentes da outra empresa ainda mantém contato comigo. Em uma apresentação do meu estágio, eu os encontrei. Eles me informaram sobre o andamento do projeto e perguntaram sobre a pesquisa que eu tenho feito.
Na vida, conquistar um objetivo pode ser questão de sorte ou de estar no lugar certo, na hora certa. Podemos ter uns dias de azar, ou dias que andamos distraídas e perdemos algumas oportunidades. Mas quando a gente faz o que gosta e se identifica com a carreira, as idéias e parcerias aparecem sem muita dificuldade. Essas dicas se aplicam, não só aos EUA, mas a qualquer país em geral. Mas não posso negar que fiquei impressionada com a fluidez do network aqui.
Não sei se estou em uma fase da vida que estou mais focada para a vida profissional, ou se aqui realmente é mais dinâmico. Mas claramente observo que aqui as pessoas trabalham muito mais. Talvez por não ter tantos direitos trabalhistas como no Brasil. A maioria dos empregos não oferece salário fixo, não tem plano de saúde ou dental, nem férias pagas, e nem salário 13°. E mesmo para quem tem plano de saúde, tudo é uma fortuna. Eu tive que fazer fisioterapia aqui e cada sessão custava $100. Também não existe faculdade pública. Ou nasce-se rico, ou morre-se endividado com dívidas escolares. Então as pessoas precisam trabalhar bastante.
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É comum ver pessoas que terminam uma faculdade, mas acabam trabalhando como vendedores, ou em restaurantes. Até porque como disse ao longo do texto, demora-se um pouco para construir um bom network. Mas a diferença que eu vejo aqui, é que pouco importa o que você faz se está pagando suas contas. E duas coisas são fundamentais: ninguém vai ficar questionando o seu trabalho, e é possível pagar um aluguel (dividindo a casa) e sobreviver com um salário mínimo. Eu sempre falo que é melhor ser pobre nos EUA do que no Brasil.
Devido a essa dinâmica da economia (de ter uma grande oferta de empregos) e da necessidade de trabalhar sempre, acho que as pessoas ficam mais focadas no trabalho do que no Brasil. Portanto, a gente acaba fazendo networking em todos os lugares. Nos EUA, as pessoas tem muita chance de se reinventar. Há espaço para isso e há pouco julgamento da sociedade. Portanto, se você está aqui, aproveite essa chance!
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Ola Lorena, moro em New Jersey e estou no processo de traducao do meu diploma aqui, sou engenheira de alimentos. Estou querendo visitor Portaland no final do ano, gostaria de ter o seu contato .