Dicas para viajar de motorhome pelos EUA.
A ideia surgiu de repente. Porque não juntar a vontade de conhecer o novo, o desejo de viver uma experiência diferente e a comodidade de ter uma “casa” ao seu alcance em uma só viagem? Tendo uma família grande como a nossa (eu, marido, 2 filhos e 3 enteados que ficam com a gente nas férias), fazer uma roadtrip nas férias de verão de julho de 2017 nos pareceu não só uma opção mais econômica como também uma chance de estarmos lado a lado numa convivência diária mais próxima.
As crianças tinham entre 5 e 16 anos na época, cada um com seus interesses e vontades. Sentamos juntos e pré definimos o roteiro, de acordo com o tempo disponível e as cidades que visitaríamos. Decidimos percorrer o estado do Michigan e a Upper Peninsula, uma região do norte americano cheia de encantos e mais isolada, perfeita para ser percorrida em um carro-casa. Cada noite pararíamos em um campground diferente, uma espécie de estacionamento-parque para os motorhomes, onde você aluga sua vaga e conta com eletricidade, acesso a água, mesa e fogareiro (firepit) para as refeições. Também tem disponíveis banheiros e chuveiros e alguns até piscina, tudo de uso comunitário. Marcamos com dois meses de antecedência os camps que gostaríamos de visitar, já que a procura por esse tipo de hospedagem é imensa durante os meses do verão americano (junho-julho-agosto).
Encontramos facilmente uma empresa que aluga RV´s (recreational vehicles, como são conhecidos aqui) e escolhemos um modelo com capacidade para 8 pessoas. A configuração era um quarto de casal, um beliche no corredor, um sofá cama na sala e uma cama conversível sobre a cabine de direção. Um banheiro apenas, uma cozinha compacta e mesa de refeições. Não é necessário muito mais do que isso, e para uma viagem de duração de uma semana como a nossa, serviu perfeitamente. Uma boa rotina de organização e limpeza é essencial para manter o lar temporário funcionando, e cada criança tinha sua tarefa e obrigações. Isso ajudou tanto a manter a viagem dentro dos eixos como deu um senso de responsabilidade maior a cada um deles.
Partimos numa sexta-feira ensolarada, todos animados, geladeira abastecida e muitos planos. Depois de 5 horas de viagem, que passaram num piscar de olhos (jogando cartas, assistindo filmes, rindo e conhecendo cada canto do nosso carro-casa), chegamos a Mackinaw City, primeira parada. Instalamos nosso RV no campground, conectamos eletricidade e água corrente e fizemos nosso primeiro churrasco. É um ambiente muito legal, são vários RV´s estacionados lado a lado, normalmente famílias também, as crianças fazem amizade rápido e não tem como não se sentir em casa. No fim do dia ainda caminhamos para conhecer a cidade (andar a pé ou de bicicleta são normalmente as alternativas numa viagem desse tipo, já que o RV é muito grande para pequenos deslocamentos ou para estacionar dentro das cidades – daí a dica de sempre procurar campgrounds bem localizados e acessíveis).
A primeira noite foi tranquila, as camas eram confortáveis e o cansaço dominou a todos. Mas no dia seguinte logo cedo acordamos morrendo de frio! Passaram alguns minutos até descobrirmos que esquecemos as escotilhas de ventilação do teto abertas! No norte faz muito calor durante o dia, mas a noite a temperatura cai para 10-12 graus mesmo no verão, e o ar gelado da madrugada entrou com tudo. Lição numero 1 aprendida, verificar sempre as escotilhas antes de dormir. Logo depois do café da manha pegamos um barco até Mackinac Island, uma ilha lindíssima e cheia de história. Percorremos ela inteira de bicicleta, alugadas lá mesmo, já que carros e muito menos RVs não são permitidos. A única alternativa são charretes ou cavalos.
No dia seguinte, terceiro dia de viagem, partimos super cedo para o Upper Peninsula. Cruzamos a maior ponte do estado, com 8 quilômetros de extensão que cruza a junção dos lagos Huron e Michigan, e chegamos nesse território isolado e cheio de belezas. Se vêem por lá apenas pequenas cidades, casas aleatórias e muitas paisagens bonitas. É um território rústico e cheio de animais selvagens. Até o campground lá não tinha a mesma estrutura do anterior, mas adoramos a simplicidade do lugar. Depois do almoço rumamos com o RV mesmo (por lá não tem como se locomover sem automóvel) para a pitoresca cidade de Munising, onde agendamos um tour de barco pelas Pictured Rocks ao pôr do sol. Foi um dos lugares mais lindos que já fui, onde as pedras e rochas mudam de cor de acordo com a exposição do sol. Voltamos com o barco já no escuro, e jantamos na própria cidadezinha. Era quase meia noite quando começamos a dirigir de volta para o campground, e daí outra vantagem do RV: cada criança já foi deitada na sua cama, de pijama, acomodadas, e quando chegamos todos já dormiam profundamente.
No quarto dia visitamos uma reserva de ursos selvagens, e depois de ver outros pontos igualmente lindos do Upper Peninsula, foi hora de começar a descer de volta. Aproveito para relatar aqui outra particularidade da rotina de uma viagem de motorhome. Normalmente após 4 dias de uso em média, dependendo do número de pessoas (e olha que nós usualmente não tomávamos banho dentro do RV, só nos camps, e usávamos o banheiro apenas durante os trajetos na estrada) percebemos através de um cheiro bem característico que era chegada a hora de esvaziar o compartimento de dejetos e esgoto acumulado (água usada do banheiro e da cozinha). Os campgrounds tem uma saída especifica para isso, e então voce conecta sua mangueira de dejetos do RV nessa “fossa” e aciona um botão, tomando cuidado para não desconectar e voar tudo pelos ares. Coube ao meu marido e meu enteado de 12 anos assumirem a tarefa. Com luvas e narizes tapados eles deram conta do recado muito bem, e logo seguimos viagem, com a lição numero 2 aprendida.
No quinto dia amanhecemos no novo campground, lindo e com uma piscina maravilhosa, onde descansamos, fizemos outro churrasco e até jogamos frescobol. A tarde aproveitamos para visitar as Sleeping Bear Dunes, uma extensão de areia à beira do lago com areias claríssimas. Estacionamos o RV lá embaixo e subimos por uma trilha na floresta até a parte onde a areia começa, bem no alto. Outro visual de tirar o folego, e muito espaço para as crianças correrem. A noite resolvemos arriscar e entrar na cidade de Traverse City com o RV, para ir a um restaurante que queríamos muito rever. Foi mais fácil do que imaginávamos e a única dificuldade foram encontrar duas vagas frente a frente para estacionar nosso pequeno gigante carro-casa. Mas deu tudo certo, jantamos muito bem e voltamos para o camp debaixo de uma chuvarada de verão daquelas, e foi gostoso dormir com o barulho de água caindo no teto.
No ultimo dia de viagem descemos até Ludington Beach, e pegamos praia de verdade (um lago na realidade, mas com areia e águas claras e até ondas, que fizeram nosso dia). No fim da tarde rumamos para o ultimo campground, que acabou sendo a expericiencia mais legal de todas e o camp que ficou guardado na nossa memória como aquele que queremos voltar. Era administrado por uma família, com filhos pequenos e muitos animais. Era uma mini fazenda, e as crianças puderam alimentar os bichos, correr por tudo, fizemos fogueira a noite e assamos os famosos s´mores (marshmellow, bicoito e chocolate) sob uma lua linda e uma iluminação perfeita desse lugar tão bem cuidado. Foi um fim de viagem memorável.
No dia seguinte rumamos os 200 quilômetros que faltavam e chegamos em casa, onde esvaziamos e limpamos o RV inteirinho (aqui você tem que devolver o carro-casa impecavelmente limpo, mediante multa), tarefa dividida igualmente por todas as crianças e supervisionada e finalizada pela mãe aqui. Devolvemos o RV já pensando na próxima viagem. Califórnia, quem sabe?
O saldo final da viagem? Uma recomendação para que todos, ao menos uma vez na vida, façam essa experiência, em família, casal ou amigos. O investimento no aluguel de um RV não é exatamente barato mas acaba saindo bem mais em conta do que passagens, hotel e restaurantes por 7 noites para uma família inteira. E as memórias ficam para sempre.
2 Comments
Olá Jenny!
Muito legal o relato da viagem! Tenho certeza de que essa viagem foi marcante e ouvir relatos como esse me motivam demais a fazer uma viagem assim.
Eu moro no Brasil e estou planejando uma viagem aos EUA, juntamente com minha esposa e um casal de amigos. Nossa vontade era de alugar um RV e atravessar o país viajando , de Nova Iorque até San Francisco, conhecendo assim muitas das principais cidades e estados do país.
A única questão é a seguinte: nós queremos conhecer as cidades, como Nova Iorque, Washington DC, Miami, Dallas, Austin, Las Vegas, etc. Por isso, em parte dos dias da viagem, gostaríamos de ficar em hotéis, conhecer restaurantes e pontos turísticos da cidade. Justamente para podermos experimentar a sensação de dormir em um camping com um RV, mas também de ficar em hotéis ou até mesmo em motéis de estrada. Nossa intenção é conhecer o máximo possível as principais cidades dos EUA.
Nesse caso, como descrevi acima, você acha que vale a pena viajar com RV? Existe acessibilidade em estacionamentos, acessos, trânsito, de grandes cidades para andarmos com uma RV? Ou você acha que roadtrip com RV deve ser com foco em camping, e se quisermos passear mais nas cidades como comentei, o ideal era viajar de carro mesmo, parando nos hotéis e nas cidades?
Desde já agradeço pelo post e pela ajuda!
Abs,
Daniel Barboza
Olá Daniel,
A Jenny Rosén, infelizmente parou de colaborar conosco.
Obrigada,
Edição BPM