Porque eu não visito mais zoológicos pelo mundo.
Como criança, sempre fui apaixonada por animais. De todos os tipos. Nasci numa casa com muitos cachorros, e desde bebê convivi com cães grandes como são bernardos e dobermanns. Tínhamos ninhadas com frequência. Lembro até hoje do panelaço de mingau que minha mãe preparava para os filhotes, onze no total naquela ocasião, porque a nossa cachorra Gipsy não dava conta de amamenta-los todos. Eu era fã de insetos também. Eu adorava observar lagartixas no teto, pegar pequenos tatu-bolas na mão, acompanhar o trajeto de formigas pelo chão. Esse amor pelos bichos se refletia nos animais selvagens também, nas enormes feras da natureza. Como menina pequena que eu era na época, ve-los, mesmo que num zoológico, aprisionados e confinados, era incrível. Na minha ingenuidade infantil, eu observava apenas o que aquele momento representava, e não todo sofrimento que os levou até ali, e nem o devastador tédio e infelicidade de passar uma vida aprisionado. Zoológicos, parques aquáticos temáticos e até circos fizeram parte da minha infância, e uma vez eu e meus irmãos até montamos num elefante durante uma apresentação circense. Olho hoje em dia a foto e acho extremamente triste.
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Nunca é tarde para mudar de atitude. Hoje sou mãe, tenho 3 filhos e claro que já ouvi, principalmente em viagens, a famosa pergunta: mãe vamos ao zoológico? Educar as crianças é a única forma de mudar a mentalidade e, num futuro próximo, extinguir os terríveis parques com animais aprisionados. Provavelmente não será na nossa geração e nem na seguinte, mas acredito que meus netos e bisnetos crescerão num mundo onde os animais viverão livres em seu habitat natural. A mudança começa hoje. Minha filha de 12 anos já pensa como eu, e não iria de forma alguma a um local abusivo que enjaula animais selvagens. É mais fácil orientar uma criança do que um adulto, elas são em geral empáticas ao bem estar animal, e basta uma conversa bem esclarecida e consistência no comportamento para que entendam que ir ao zoo pode ser divertido para elas num primeiro momento, mas envolve sofrimento extremo aos animais. Diferentemente do que muitos adultos imaginam, locais como zoos e aquários não são indicados para apresentar às crianças novas espécies e bichos diferentes. “Um zoológico não é um meio para se conhecer um animal em sua essência. A não ser que seja para estudar neuroses de cativeiro”, conta a bióloga Marcela Godoy. Nada em um animal aprisionado se assemelha ao seu comportamento solto na natureza.
Todos as crianças precisam aprender que respeito aos animais é essencial, e isso começa por mantê-los na natureza, onde nasceram e onde pertencem, com seus bandos, seus similares e seus hábitos naturais. Podemos conhecer animais através de documentários, livros, educação ambiental e inclusive visitando-os em seu habitat nativo. Mais vale uma única viagem ou visita a um santuário ecológico na África do que uma dúzia de visitas a zoológicos e aquários pelo mundo.
Outro equivoco que muitas pessoas cometem é acreditar que os zoológicos salvam animais e promovem seu bem estar. Falso. São locais como prisões, onde muitas vezes filhotes foram separados dos pais, onde são confinados em espeços reduzidos e não tem direito algum a reabilitação ou reintrodução na natureza. Também vivem muitas vezes solitários, sem companhia e em ínfimos espaços, e por isso desenvolvem fobias e comportamentos repetitivos. Alguns mastigam suas próprias patas ou rabos em agonia. Além disso, milhares de pintinhos, coelhos e outros animais são criados e assassinados apenas para servir de alimento para os animais selvagens cativos. É um ciclo de sofrimento sem fim.
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A expectativa de vida em cativeiro, ao contrário do que se imagina, cai pela metade em todas as espécies de animais. Um exemplo era o Sea World, que alegava que suas “felizes” baleias em cativeiros viviam 30 a 40 anos, muito mais que soltas no mar. Essa alegação caiu por terra quando se descobriu que baleias soltas no oceano viviam de 60 a 70 anos, em bandos, com suas famílias. Apesar de ter visitado esse triste lugar na infância, me orgulho de jamais ter levado meus filhos ao Sea World. Tenho vergonha alheia quando vejo pessoas esclarecidas levando crianças e rindo e aplaudindo em shows com tanto sofrimento. Em outros zoológicos pelo mundo, pessoas pagam para tirar fotos com animais drogados, sedados, que passam a vida sendo medicados para o simples prazer humano de ter uma foto ao lado de uma fera. Quem será realmente a fera nessa situação?
Existem diversas coisas que você pode fazer para ajudar a mudar essa realidade. Primeiramente lembre-se que toda mudança começa por nós mesmos. Não vá ao zoo nem a nenhum outro local onde os animais são expostos e explorados. Não importa se seus amigos vão, se parece bonito e legal, se seu filho pede. Cabe a você a decisão. Fale com familiares e conhecidos, explique, esclareça. Se informe. Documentários como BlackFish são extremamente tristes porém verdadeiros, e as vezes um choque de realidade é o que nos faz repensar uma posição. Não dê dinheiro para essas instituições, não compre ingressos, não visite. Elas apenas existem porque todos os dias pessoas desinformadas fazem fila para admirar seus prisioneiros reclusos. Todos temos direito a uma vida em paz. Faça a sua parte.