Aos 17 me mudei para Londrina – local onde formei minha real personalidade. Participava de diversos trabalhos sociais e desenvolvi o meu projeto com pessoas em situação de rua. Estudei durante 2 anos para entrar em uma universidade pública e quando passei, fui para Goiás. Estudei 6 meses na Estadual, em Anápolis, mas um dia disse basta! Não era a vida que queria para mim.
Fui buscar a vida que queria. Entre planos de sair do país e Europa, meus pais me queriam por perto. Peguei minha mochila de 25 litros e só liguei avisando que não retornaria.
Sou nômade desde fevereiro de 2017. Busco minha independência e procuro me sentir livre em todos os sentidos. Prefiro escutar a falar, mas quando percebi que inspirava mulheres, resolvi falar também.
Mulher nômade
Sempre intimidadas pelo medo e claro, a constante sensação de poder ser vítima de estupro, fruto de nossa sociedade machista. Mas ei mana, é possível! Confie em ti e não deixe nada atrapalhar seus sonhos.
Cruzei a fronteira, pés na Argentina. Fora da minha zona de conforto e não falava o idioma. Naquele momento, minha única segurança era estar viva. Depois disso, eu poderia fazer tudo o que quisesse. O desafio era vencer meus medos. O primeiro deles era pegar carona sozinha. Sim, já estava acostumada a fazer isso com amigos, mas na ocasião era eu e a coragem.
Estava no Noroeste Argentino depois de viajar com franceses e brasileiras. Estava sozinha, no estado de Córdoba, em um pequeno povoado alternativo chamado San Marcos Sierra. O objetivo era chegar em Catamarca que ficava a 200km para depois avançar até Jujuy, 850km.
Sai na parte da tarde, às 14h (é mais indicado sair pela manhã). Peguei um ônibus até uma cidade próxima que era maior. Em menos de 5 minutos, peguei a primeira carona na saída da rodoviária.
Depois a segunda, a terceira e cheguei às 18h em uma estação de caminhões. Fui muito bem recebida! Comecei a fazer tarot e quiromancia com os senhores que cuidavam da estação. Eles me perguntaram para onde eu queria ir, pois possuíam todo o controle de fluxo dos caminhões e assim, me arrumaram um que me levaria a menos de 100km do meu objetivo de 850km.
Fui! Viajei confortavelmente à noite toda com um senhor muito simpático. Dormi dentro do caminhão enquanto ele dirigia. Ele me deixou em um posto de combustíveis às 6h da manhã e lá peguei outra carona com professores de uma universidade e dessa forma, completei os 100km finais chegando ao meu destino.
Como se organizar para tentar carona
1 – Tipo de percurso
Escolheu a cidade principal? Ok, é necessário verificar a distância e condições das estradas para ter noção de quanto tempo será necessário para chegar em percurso direto, porque você vai ter que acrescentar que vai ter que esperar até pegar carona e, quem sabe, vai pegar mais de uma.
Se o percurso é muito longo, você terá duas opções: 1) Dormir na estrada – isso quer dizer ter equipamentos, barraca e saco de dormir. Ah! Sempre tenha comida; 2) Vai escolher cidades no meio do percurso para fazer paradas – isso significa também parar de tentar carona por volta das 15h, para ter certeza que não vai estar despreparada no meio da estrada.
Obs: É necessário sair de dentro da cidade, seja ela grande ou pequena. Você precisa estar fora do caminho de pessoas que não vão sair do perímetro urbano só para alcançar os que estão saindo de viagem.
2 – Escolha da rota
Pode ser que tenha mais de uma estrada que leve ao mesmo lugar, mas do que você precisa? Da que chegue mais rápido, ou seja, fluxo e qualidade de via.
3 – Carro ou caminhão?
Penso muito que quando tento carona, a única possibilidade de escolha que tenho é não entrar em um veículo que conversando com o motorista você já não se sente bem, porque se quer chegar rápido, não vai perder tempo escolhendo entre carro e caminhão.
Mas qual a diferença dos dois?
Carro: É mais rápido e talvez tenha espaço para muitas pessoas. Além disso, existe maior possibilidade de te deixar dentro das cidades.
Caminhão: Rota controlada, geralmente com tempo para entrega de carga ou recarga.
Para no meio do percurso para alimentação, viaja por longas distâncias e é mais provável te levar até o destino final.
4 – Ponto de pegar carona
Posto de combustível ou estrada?
Posto: Você tem mais contato com o motorista, mas tem que ir de veículo em veículo para conversar com o motorista. Isso limita seu tempo e possibilidades. No entanto, te permite ser mais seletiva.
Estrada: Uma pessoa na estrada é mais visível. Sabendo escolher um bom ponto, acenando onde tenha visibilidade para que o motorista possa te ver, reduzir a velocidade e também tenha espaço para parar. Se na estrada tem grande fluxo, geralmente em pouco tempo alguém para.
Obs: Se tem cruzamento, ficar depois do cruzamento.
Não recomendo estação de pedágio, porque limita as possibilidades a um dos postos. Eu, particularmente não gosto de usar placa falando para onde vou, porque muitas pessoas que não vão até onde preciso chegar, podem não parar, mas para mim qualquer trecho que avanço, considero importante.
5 – Conselhos
Primeiramente é preciso ter paz de espírito, confiança e pensamento positivo, esteja tranquila. Antes de entrar no veículo, deixe claro que é mochileira e não pode pagar de nenhuma forma. Use roupas que não definem o corpo. Sempre que entro em um caminhão, coloco a mochila no meio do banco, separando-me do motorista.
Tem namorado? Mesmo que não, no momento da carona, digo sim! E conta uma boa história, que está indo encontrá-lo, que se amam muito…
Há mulheres que preferem tirar foto da placa do carro e enviar para alguém de confiança e avisa o motorista que fará isso. Pode prevenir algo e principalmente fazer com que se sinta mais segura.
Leia mais dicas para viajar sozinha!