Diferenças entre estudar no Brasil e Dinamarca.
Quando iniciei minha segunda graduação na Dinamarca, eu imaginei que a vida de estudante seria fácil. No Brasil, além de dar conta de estudar e tirar boas notas, eu ainda tinha que trabalhar em tempo integral para cobrir as despesas da graduação. O fato de poder estudar no país de graça e ainda receber para isso me deixou um pouco iludida achando que a vida de estudante por aqui seria um pouco mais fácil. Aqui eu vou listar 5 principais diferenças entre estudar em uma universidade dinamarquesa com relação às brasileiras.
1. Os professores não estão ali para passar o conhecimento
Os dinamarqueses aprendem desde do gymnasium, que seria algo próximo ao nosso ensino médio, que precisam buscar as informações por conta própria em livros e outros recursos para ter uma visão crítica do tema abordado. No ensino superior isso é ainda mais enfatizado, o que é um choque inicial para nós que estamos acostumados a estudar no Brasil com aulas expositivas como principal forma de aprendizado. Em geral, nos graduarmos com a combinação do comparecimento nas aulas que são obrigatórias e realização de provas e trabalhos.
Mas por aqui a universidade exige um pouco mais do aluno. Para se ter uma ideia dessa diferença, em uma semana de aulas nós tivemos cerca de 740 páginas obrigatórias para leitura e uma porção de outras sugeridas como leitura adicional. O estudante precisa se preparar para assistir às aulas, que aqui são chamadas de lektier, essas são uma breve exposição sobre o tema abordado e o comparecimento nessas é facultativo. Ou seja, não é esperado do professor a abordagem de todo o conteúdo programático do currículo e isso não quer dizer que o assunto não visto em sala de aula não cairá na prova.
2. Você pode escolher as aulas que irá frequentar durante um semestre do curso
Geralmente no quinto semestre dos cursos de graduação é quando os alunos têm disciplinas que são consideradas eletivas, portanto não existe uma grade curricular obrigatória. Nesse período o aluno tem a chance de escolher dentro de várias opções, aulas de seu próprio interesse a fim de personalizar o seu perfil de formação individualmente. Nesse período ainda é possível estagiar em uma empresa dinamarquesa ou apenas realizar um intercâmbio acadêmico em alguma universidade conveniada em outro país.
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3. Os horários de estudos são alternados e as provas podem cair no final de semana
Se tem uma coisa que podemos afirmar sobre a vida de estudante na Dinamarca é a falta de rotina. Isso se dá devido à variação dos horários de aulas em um mesmo curso que podem ser pela manhã, tarde e/ou noite. Alguns cursos têm grade horária um pouco mais fixa que outros, mas não é difícil ter aulas em um dia apenas pela manhã, no outro à tarde, em um terceiro em ambos com um intervalo de algumas horas ou simplesmente o dia todo. Outra coisa a se considerar são as provas que são agendadas aletoriamente e podem cair em qualquer dia da semana, assim como aos fins de semana. As provas também são diversificadas e podem durar muitas horas, elas podem ser orais, escritas, com consulta, sem consulta, etc.
4. Você possivelmente precisará de um mestrado para ingressar no mercado de trabalho
Foi uma surpresa para mim que me matriculei no curso de administração de empresas saber que para atuar no mercado de trabalho eu teria que seguir estudos até o mestrado. Os cursos de bacharelado nas universidades dinamarquesas são extremamente teóricos e duram apenas 3 anos. Na maioria dos casos, esses cursos não dão ao aluno uma especialização, sendo focados em uma formação mais generalista e teórica, o que obriga a maioria a seguir os estudos até o mestrado completando o total de 5 anos de estudos. Os mestrados, por sua vez, têm uma abordagem mais mercadológica e estão no topo da lista de prioridades dos recrutadores das maiores empresas na Dinamarca quando selecionam currículos de candidatos.
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5. Você precisa de boas notas para conseguir um emprego
Notas são coisas levadas a sério na vida do estudante na Dinamarca, isso porque são elas que darão ao estudante as melhores condições de competir no mercado de trabalho. O sistema de notas dinamarquês utiliza a escala de -3 a 12. São considerados alunos dentro da média, aqueles que conseguem a nota mínima 2. No entanto, para os empregadores a forma mais fácil para escolher um candidato recém-formado em meio a muitos outros é a análise das notas adquiridas durante a graduação combinada com os estágios e projetos realizados pelos alunos. Alunos com notas acima da média acabam tendo mais chances em uma disputa pelo primeiro emprego depois de formado. Isso é levado ainda mais a sério caso o estudante tenha planos de seguir a carreira acadêmica. Para concorrer às vagas de um programa de PHD, o candidato pode ter todo seu histórico escolar avaliado, incluindo também a graduação dependendo da área, notas podem ser tão importantes na escolha do doutorando quanto as publicações realizadas durante o mestrado.
1 Comment
Olá Laila,
Muito bom o teu texto, muito esclarecedor. Obrigada por nos proporcionar uma visão tão clara e próxima da realidade. Estamos nos mudando para Dinamarca logo mais, em março do próximo ano. Estamos vendo a questão da escola para as crianças e a prefeitura nos informou que será em função do nosso futuro endereço de moradia. Como as crianças falam português e italiano, gostaria de saber se você tem bairros para me indicar que tenham maior probabilidade de encontramos grupos nas escolas com crianças que falem a mesma língua. Existem bairros de determinadas comunidades? Muito obrigada desde já,
Juliana