Quando me mudei para Inglaterra, tirei o tempo que achei necessário para me adaptar e também investigar sobre o mercado de trabalho inglês. Por atuar – e querer continuar – na área de Recursos Humanos, o conhecimento nas práticas locais foi um fator muito importante para a minha recolocação, e apesar de encontrar algumas similaridades nas relações trabalhistas, existem diferenças muito gritantes quando comparamos o mercado de trabalho no Brasil e na Inglaterra.
Não posso dizer que prefiro um ou outro, afinal existem prós e contras nos dois. A maioria dessas diferenças, imagino, está relacionada à cultura. E acredite, eu já me deparei com alguns casos de relações trabalhistas aqui na Inglaterra, com as quais me surpreendi pensando: “Para que tudo isso, toda essa burocracia, no Brasil seria tão simples”. SIM, infinitamente mais simples, e a lição que tirei disso é que não existe perfeição, cabe a cada um de nós analisar o que é melhor para si, com base no seu momento de vida, valores, objetivos etc.
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Então, se você ainda está curioso para saber as diferenças entre os mercados brasileiro e inglês, eu listo aqui algumas:
Contratos de Trabalho
Aqui não há Carteira de Trabalho, o trabalhador só terá o contrato de trabalho. Até aí, não tem muita diferença, pois no Brasil também temos contrato de trabalho, o que é eu acho diferente são, basicamente, duas coisas:
- Contrato por Prazo Determinado (Fixed Term Contract). Esse contrato é emitido pela própria empresa, no qual o funcionário tem data de início e término. Aqui, eu faço um “parênteses” para dividir a minha opinião, que pode, ou não, estar equivocada. Em muitos anúncios, vê-se uma frase, na qual a tradução seria algo como: “Contrato por prazo Determinado, 6 meses, com chance de efetivação para o candidato ideal”. Acredito que esse tipo de contrato é tão comum, pois é muito difícil desligar um funcionário – processo que abordarei mais a frente – então, esse contrato oferece mais flexibilidade ao empregador.
- Contrato Temporário (Agency Workers): No Brasil, os contrários temporários geralmente por intermédio de agência de empregos, são pré-determinados, por 3, 6 ou 9 meses. Aqui, é possível encontrar o contrato que o prazo é “ongoing”. Isso quer dizer, que você é um trabalhador temporário, mas a empresa não sabe até quando precisará de você. Estranho né? Eu também acho.
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Férias
De acordo com a atual legislação, um trabalhador de período integral deve receber pelo menos 20 dias úteis de férias (annual leave), mais 8 feriados (bank holidays). As organizações são livres para oferecer um número maior do que diz a legislação, e esta é uma prática comum para atrair profissionais qualificados. Além disso, o funcionário tem dias de férias assim que entra na empresa (podendo ser rateado, caso ele entre na empresa no meio do ano, por exemplo), e claro, pode tirar quando e como quiser. Os ingleses costumam concentrar suas férias para o período de férias escolares e no verão (de julho a setembro), ou também, tira um ou dois dias por mês.
Licença Maternidade & Paternidade
A licença maternidade na Inglaterra é de 52 semanas, e apesar de não tão frequente, a mulher não precisa necessariamente optar por todo o período, ela pode voltar ao trabalho antes, se assim desejar.
A licença paternidade é de até 2 semanas, a contar da data do nascimento do bebê.
E outra diferença, que eu acho o máximo, é que aqui existe a Licença Compartilhada (Shared Parental Leave). Na Licença Compartilhada, os pais podem optar por dividir a período de licença maternidade (até 50 semanas, pois a mulher é obrigada a ficar pelo menos 2 semanas em licença) entre ambos, por exemplo, a mulher poderia optar por 26 semanas, e seu parceiro ficaria com as 26 semanas restantes.
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Conselhos de Profissão
Assim como no Brasil existem o CRP, CRM, CREA etc, aqui existem os Conselhos de Profissão. Ser membro nestes conselhos é tão importante como possuir experiência na área. A diferença que eu vejo destes conselhos, comparado com os brasileiros, é que além de regulamentarem e fiscalizarem a profissão, eles também oferecem cursos de formação, que são equivalentes a: Curso Técnico (Level 3), Curso Superior (Level 5) e Pós-Graduação (Level 7), e também oferecem orientação profissional, material de suporte e pesquisas atualizadas para os membros. Somente na área de RH existem três diferentes:
- CIPD – É uma associação voltada para os profissionais de Gestão de Recursos Humanos.
- CIPP – É uma associação voltada para os profissionais de Pensão e Folha de Pagamento.
- IRP – É uma associação voltada para os profissionais de Recrutamento.
Processo de Demissão
O processo para pedido de demissão por parte do funcionário é similar ao do Brasil. O funcionário entrega a notificação ao gerente/RH e começa a cumprir o período de aviso prévio. A única diferença é que não é costume as empresas liberarem os funcionários antes do aviso, e que o aviso pode durar até 3 meses, dependendo do contrato.
Agora, quando invertemos o jogo, como adiantei, o processo de demissão de funcionários por parte do empregador não é nada simples. As empresas costumam avaliar o período de experiência, que aqui é de 6 meses, muito seriamente. No período de experiências, as empresas até enfrentam um pouco menos de burocracia, mas após o período este período, é uma dor de cabeça muito grande. Aqui eu também faço um parênteses para dividir a minha opinião, pois às vezes acho esse processo um pouco injusto para o empregador, mas enfim, para a empresa realizar um processo de demissão, ela tem basicamente três opções, consideradas como justas:
- Redundancy – É quando a empresa demite alguém porque o cargo daquela pessoa não existirá mais, mas não é tão simples assim. A empresa precisará provar: Como o atual cargo do funcionário difere da futura estratégia da empresa; como a empresa tentou encontrar um cargo diferente para o empregado; quais as ações que a empresa tomou para evitar o processo de redundância; fazer reuniões com funcionários e representantes para discutir formas de evitar o processo de redundância, e por aí vai.
- Conduta e Capability: Casos que o funcionário apresente problemas graves de comportamento, ou é incapaz, devido as suas habilidades, de realizar o seu trabalho. Lembrando que tanto ou mais burocrático do que o processo de Redundância, a empresa precisara provar aos órgãos competentes quais ações que foram tomadas para reverter essa situação.
- Algo que proíba legalmente o funcionário de trabalhar. Por exemplo, um motorista que perdeu sua habilitação devido a infrações de trânsito.
Por fim, se você quiser maiores detalhes sobre o mercado de trabalho inglês, o site oficial do governo, que você encontra aqui, apresentará detalhadamente todas as práticas trabalhistas locais. Vale lembrar, que com o fantasma do Brexit se aproximando, poderá haver algumas mudanças, então é sempre bom se manter atualizada nos sites oficiais.