Dificuldade de adaptação na Bulgária
Depois de alguns anos morando na Bulgária, posso dizer que só agora, depois de 6, 7 anos é que eu me sinto relativamente em casa. Minha fase de adaptação durou muito tempo e foi muito complicada, devido a diversas diferenças culturais e, principalmente, a problemas com o idioma. Foi o processo de ser alguém e ter novamente uma identidade. Essa identidade que eu tinha perdido quando eu me mudei, haja vista alguns fatores como: dificuldade com o idioma, estar sem amigos, família, sem um trabalho, ou alguma outra ocupação, e tudo isso, faz com que todo o processo de adaptação se torne ainda mais complicado.
Eu me mudei para a Bulgária depois que eu conheci meu marido. Ele tem uma organização que promovia festas na Bulgária, e eu vim tocar em uma das festas como DJ. Começamos um relacionamento, e depois de idas e vindas, nos casamos após um ano mais ou menos.
Eu sempre fui uma pessoa muito comunicativa, e para mim, foi um baque muito grande a barreira que o idioma me trouxe. Eu me mudei para uma cidade pequena, perto de Sofia, onde os jovens não falavam muito inglês, e os que o faziam, por vergonha de não falar muito bem, simplesmente não conversavam comigo. Eu tive muita dificuldade de aprender a falar o búlgaro. Engraçado, que para ler o alfabeto cirílico, acho que demorei pouquíssimas semanas, mas para aprender a falar o búlgaro, ainda hoje é uma luta constante. Na minha cidade, a maioria das pessoas fala em dialeto. Eu costumo dizer que em inglês você tem 1 palavra que pode ser usada para 10 coisas. Em búlgaro, é completamente o oposto. Aqui, você tem 1 objeto que possui 10 palavras diferentes, o que dificulta muito as coisas.
As poucas vezes que eu tentava me comunicar em búlgaro, na maioria delas os jovens riam das minhas tentativas frustradas de comunicação. Sei que eles não faziam por mal, mas quando você já não está bem psicologicamente, com tantas outras mudanças e diferenças, isso acaba lhe deixando ainda mais desanimada. Por esse problema, quando eu saía de casa para encontrar outras pessoas, e muitas vezes por não conseguir me comunicar com ninguém, pouco a pouco eu comecei a me fechar para tudo e todos. Gradualmente comecei a evitar sair e, inclusive, já passei semanas sem pôr o pé para fora da minha casa. Comecei a me isolar das pessoas. Sempre que era necessário que eu fosse a algum evento, um aniversário de algum familiar ou amigo do meu marido, era um grande problema para mim. Tinha crises de ansiedade e passava mal só de pensar que teria problemas até para pedir um copo de água. A minha autoestima estava destruída nessa época.
Até que um dia, decidi dar um “basta” para isso tudo, resolvi que as coisas tinham que mudar, e que dependia de mim, apenas de mim, para que houvesse uma mudança. Eu comecei a fazer pequenas modificações na minha maneira de pensar, a cuidar mais de mim em diferentes aspectos e a trabalhar na hamburgueria, que eu e meu marido tínhamos inaugurado (que hoje em dia não é mais nossa). Lentamente (foi um processo de uns 2 anos para eu levantar e sacudir a poeira, decidindo ser mais positiva) tudo ficou melhor. O idioma começou a melhorar também no momento que comecei a ter contato através do trabalho com outras pessoas.
Então, acho importante dizer que o meu conselho para você que está agora em processo de adaptação, é encontrar uma atividade para fazer em grupo, especialmente se você, assim como eu, não se mudou a trabalho (também se o motivo da mudança foi o trabalho. É uma dica válida para todas as circunstâncias). Essa atividade pode ser uma aula de dança, academia, aula de algo que lhe agrada, pois acho que isso fará esse processo ser mais suave. Se você se sentir depressiva ou com outras dificuldades psicológicas, também acho interessante você procurar um profissional, pois eu passei por um período, que se eu tivesse buscado a ajuda de um psicólogo, acho que teria sido tudo mais tranquilo para mim.
Finalizando o assunto, todo tipo de mudança tem um processo de adaptação. Alguns lidam com isso de uma maneira mais leve, e para outros, é algo bem mais difícil. O problema acho que é pior com todos que não falam o idioma do país onde vai morar, e mesmo para aqueles que precisam ”apenas” adquirir uma nova identidade e não ser apenas um estrangeiro em terras desconhecidas. Se você está passando por essa fase nebulosa e complicada, fique firme, pois isso acontece com todos, e por mais difícil que possa ser, é algo passageiro.
3 Comments
Aimée, muito obrigada pelo seu texto.
Estou na BG e ao menos 3x ao dia penso em comprar passagem de volta para o Brasil.
Realmente, o processo pode ser dificil, mas depende só da gente facilitar ou complicar!!!
Obrigadaaaa
Ola! Minha filha está na Bulgária, pode nos contatar?
Olá Regina,
A Aimée Bardella Aihst parou de colaborar conosco e, infelizmente, não temos outra colunista morando no país.
Obrigada,
Edição BPM