Dificuldades da adaptação na Suíça.
Frequentemente falo dos aspectos positivos da vida na Suíça, de características e lugares que me encantam neste país. Eu e meu marido adoramos viver aqui, mas isso não quer dizer que não existam problemas e pontos negativos, afinal não existe lugar perfeito.
Tanto para nós, como para outros expatriados que conhecemos, a balança pende para o lado positivo, já que os aspectos negativos são poucos comparados a tudo o que nos faz sentir bem e querer continuar vivendo aqui. Mas, lógico que depende de cada um, certos fatores podem ser extremamente complicados e insuportáveis para algumas pessoas. Seja por gosto pessoal ou estilo de vida, para alguns a Suíça pode não ser tão maravilhosa assim.
Então, neste texto, trago os pontos negativos e/ou motivos de dificuldade na adaptação, mais citados pelos imigrantes que vivem ou viveram aqui:
Custo de vida
A Suíça é um dos países mais caros do mundo, ou seja, por aqui gasta-se bastante tanto para visitar como para viver. Claro, os salários também são bem altos comparados a outros países, mas dependendo da profissão/salário, pode ser mais apertado chegar ao final do mês.
Considerando moradia, alimentação, locomoção e saúde (plano de saúde obrigatório – não existe saúde pública na Suíça, os residentes são obrigados a fazerem um plano privado), já se vai boa parte do salário. Fora isto, existem os gastos com água, energia elétrica, telefone/celular, internet, além de taxas anuais obrigatórias como: taxa rádio televisiva (para o recebimento de programas radiofônicos e televisivos, isto é, se tiver um rádio, uma TV ou mesmo um computador em casa, é preciso pagar), taxa de circulação (se possuir um veículo) e taxa canina (se tiver cachorro).
Não é à toa que muitas prestações de serviço que estamos acostumados a ver no Brasil, aqui são pouco ou nem utilizadas, pois com o alto custo de vida, o valor da mão-de-obra também é elevado. Carregar e montar os próprios móveis, por exemplo, é muito comum, assim como não possuir empregada, faxineira, babá, etc.
E, vamos mais além, caso você sonhe em ter uma casa própria na Suíça, saiba que o custo para comprar um imóvel é altíssimo – grande parte dos suíços alugam.
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Idioma
Apesar de pequeno em extensão territorial, este país possui quatro idiomas nacionais: alemão, francês, italiano e romanche – dependendo da região. Quem vai para as partes francesa e italiana, talvez encontre menos dificuldade, por serem línguas mais fáceis de se aprender. Já para quem vem para a parte alemã, aí meu amigo, dá-lhe dor de cabeça!
O alemão que se aprende nas escolas de língua é o Hochdeutsch – alemão standard –, mas o alemão falado nas ruas pelos suíços, é o Schweizerdeutsch – suíço-alemão –, e muitas vezes também em dialetos, sendo que cada Cantão pode ter um dialeto específico dali. Para se ter uma ideia, muitos alemães não entendem o que é falado em suíço-alemão. Ou seja, se a língua alemã já é difícil, conseguiram complicá-la ainda mais para quem quer/deve aprender!
Clima
Com mais meses de frio do que calor, grande parte dos latinos sofre na terra dos Alpes. Apesar da maioria das casas possuírem uma boa calefação e as roupas de inverno serem realmente apropriadas para o frio, sair de casa cedo, principalmente sem carro, quando neva, pode não ser tão agradável.
A neve é linda, mas quando se forma gelo pelo chão, pode causar escorregões e acidentes, e quando derrete, vira uma lama! Outro transtorno causado pela neve é a necessidade de retirá-la da entrada de algumas residências, e de cima do carro, caso não se possua uma garagem coberta. Os piores meses são janeiro e fevereiro (inverno), mas de repente pode nevar até mesmo na primavera, como aconteceu neste ano em abril.
Além do frio, da possibilidade de neve, e dos dias cinzentos, no inverno amanhece mais tarde e escurece mais cedo. A falta de sol pode levar à carência de vitamina D, acarretando sérios problemas de saúde no futuro, portanto não é raro termos que tomar suplemento de vitamina D durante meses. Outro problema também resultante da falta de sol é a chamada depressão sazonal, que pode contribuir para casos de suicídio.
Convívio social
A dificuldade em fazer amizade com suíços é uma das grandes reclamações dos imigrantes. Para os suíços, as amizades normalmente são de infância, ou de uma convivência bem longa, e raramente se faz amizade no ambiente de trabalho.
Os suíços privam muito pelo respeito à privacidade e individualidade, portanto não são tão abertos à novas amizades como estamos acostumados a ser. Por aqui, geralmente, é tudo muito “cerimonioso”, os encontros são com horários agendados antecipadamente, há um certo distanciamento e falta de espontaneidade.
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Horários comerciais
Durante a semana, o comércio geralmente fecha às 19 horas, com apenas um dia em que fica aberto até mais tarde – 21 horas. Aos sábados, dependendo da cidade, variam entre 16, 17 e 18 horas – em cidades menores normalmente fecham mais cedo. E aos domingos… bem aos domingos, com exceção das estações centrais de trem (que podem possuir um pequeno mercado, às vezes farmácia e um bar/café), e das lojas de conveniência em alguns postos de gasolina, nada abre!
Com o tempo, acabamos nos acostumando a tentar planejar tudo com antecedência, mas nem sempre é possível, fora os imprevistos, então é muito comum sentirmos falta de locais com horários mais flexíveis. Outro detalhe é que nos dias anteriores a um feriado, na região onde eu vivo, por exemplo, o comércio fecha uma hora antes do horário normal. Sendo assim, é preciso lembrar-se também dos horários especiais para não dar de cara com a porta fechada!
Vida pacata e com regras
Quando nos mudamos da Andaluzia (sul da Espanha) para cá, uma das diferenças gritantes foi exatamente a altura sonora – conversas, música, tv, festas… –, de repente, foi como se passássemos tudo do volume máximo ao mínimo. Aquela gritaria na piscina do prédio até tarde da noite durante a semana, não nos incomoda mais. Não sabemos mais qual programa de tv nosso vizinho está assistindo, nem somos obrigados a escutar sua música favorita como se estivéssemos com o som ligado dentro de casa. Para nós, vantagens que a vida suíça nos trouxe.
Já um casal de amigos, ela equatoriana e ele alemão, fizeram o caminho inverso, foram para a Andaluzia exatamente pela agitação que encontravam ali durante as férias. Minha amiga não suporta a falta de barulho daqui, diz que é um grande tédio.
Sim, há quem abomine a tranquilidade que existe aqui. Para os que gostam de agito, animação, barulho, vida noturna… a vida na Suíça pode parecer um grande marasmo. Quase tudo fecha cedo e as pessoas são mais comedidas, isso é fato.
As regras, na maioria das vezes, são respeitadas. Disturbar o silêncio, durante certos horários, não é tolerável. Vão chamar a polícia, vai ter multa e pode ter até ter outras consequências, dependendo do quanto você perturbou a vizinhança.
Há quem reclame que existem muitas regras e que são muito restritas. Em relação ao barulho ainda, em certos edifícios é, inclusive, proibido dar descarga e tomar banho após às 22 horas, ou mesmo que os homens urinem em pé. Além disso, nos domingos a quietude é “sagrada” – nada de furar paredes, cortar grama e qualquer outra coisa barulhenta demais.
Como escrevi inicialmente, nem todos veem estes aspectos acima como problema, mas sempre haverá vantagens e desvantagens num novo país. Este tema não é para desincentivar ninguém que sonhe em viver na Suíça ou já esteja vindo para cá, o intuito é conscientizar, para que as pessoas reflitam e venham cientes do que encontrarão. Mudar de país requer preparo.
E você que já vive na Suíça, qual dificuldade encontrou?
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