Direitos LGBTQI na Escandinávia.
Os meses de junho, julho e agosto são os mais badalados da Escandinávia, e não somente por ser alto verão – que aliás é mínimo-quase-inexistente-por-aqui – mas por ser a época mais colorida e iluminada do ano. Durante essa época, acontecem as inúmeras, alegres e divertidas Paradas do Orgulho LGBTQI+, movimentos que vão além da alegre festa de conscientização, trazendo em seu bojo o desejo real por direitos humanos igualitários. Nessa mistura de festa e direitos humanos, é claro que eu não ficaria de fora, e todo ano procuro suportar a causa como posso: de bandeirinha do orgulho no carro ao beijaço contra o preconceito. Tem de tudo!
Tal simpatia e interesse aos movimentos LGBTQI+ tem gerado curiosidade e questionamentos entre amigxs e familiares. A pergunta que não quer calar: “Por que uma mulher cis-hetero casada com um homem cis-hetero abraça uma causa que não é sua?” (Sim, amigxs, já ouvi essa!) A resposta-gente-boa, queridxs, é que não existe raça, gênero, religião ou outro atributo capaz de separar aquilo que é básico: somos todos seres humanos, e como tais devemos ser tratados. Já a resposta direta é que tudo, tudo mesmo, é nossa responsabilidade, até o ser humano residindo na rua.
A necessidade da sociedade em nos definir e nos enquadrar em caixinhas de qualidades e atributos propicia o linchamento em praça pública e a construção de campos de concentração e extermínio. Em 2017, já não há espaço para isso!
A Escandinávia – formada pela Dinamarca, Noruega e Suécia – tem sido referência em simpatia e respeito as liberdades e direitos de cada um, o que justifica sua posição no top 10 de quase todas as pesquisas referentes a qualidade disso ou daquilo. Há os que defendem a retirada desses países das pesquisas, dando aos demais países uma espécie de colher de chá.
Antes de listarmos as maravilhas que há por aqui no quesito igualdade de direitos e respeito à identidade de gênero, gostaria de indicar o óbvio: não existe país perfeito! A Escandinávia não é desprovida de erros e mazelas, é claro que há muitos problemas por aqui, inclusive em relação a discriminação e desigualdade de tratamento em relação às mulheres e aos participantes do movimento LGBTQI+. Contudo-entretanto-todavia, a Escandinávia – junto da Finlândia, Islândia, Suíça e Canadá – forma a região mais gay-friendly e woman-friendly do mundo. Portanto, deve ser observada.
A Dinamarca foi listada pela Lonely Planet, em junho de 2017, como o lugar mais gay-friendly do planeta. O país possui uma das comunidades mais tolerantes e abertas da Europa que, em 07 de junho de 1989, fez história ao se tornar a primeira nação do mundo a reconhecer a união civil entre casais do mesmo sexo. E não para por aí. A Dinamarca não para de nos dar exemplo de tolerância e respeito: em janeiro deste ano, ela se tornou a primeira nação a deixar de classificar transexuais como doentes mentais. Ou seja, o termo Transtorno de Identidade de Gênero foi banido do país. Tal decisão gerou um certo bafafá no meio acadêmico e político internacional, a ponto de constranger até mesmo a Organização Mundial de Saúde, que demorou meses para se pronunciar sobre o caso. Aqui ficamos na torcida por uma desclassificação internacional promovida pela OMS.
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A linda Suécia, país mais maravilhoso e tchutchuco do mundo (sim, vou puxar brasa a minha sardinha!) também figura na lista dos países mais amigáveis do mundo, e recentemente foi eleito o melhor país do mundo para o migrante (coisa fofa!). Parte do resultado só foi possível por ser um país bem aberto às políticas LGBTQI+ e onde as pessoas continuam a lutar por novas melhorias. Com a legalização das relações homoafetivas em 1944, a Suécia recebeu um grande fluxo de homossexuais do Reino Unido, Irlanda, Alemanha, França, Itália e entre outros países nos quais as relações homoafetivas ainda eram criminalizadas.
Eu mesma conheço um inglês que para cá se mudou em 1961 em nome do amor. Ele e seu companheiro de longa data – também inglês – sofreram perseguições na Inglaterra, mas para cá se mudaram e vivem até hoje o seu conto de fadas! E por falar em amor, um dos programas de maior audiência por aqu é Finding Prince Charming – Encontrando o Príncipe Encantado, em português – em que um lindo príncipe vai em busca do seu príncipe (Ah, o amor!). Outro ponto interessante é que a Igreja Nacional Sueca acredita no amor em todas as suas formas. Sim, amigxs, a Igreja sueca permite casamento entre pessoas do mesmo sexo. Você que sonha em se casar na igreja e obter a benção dos céus tem todo o direito a subir ao altar do Senhor Jesus por aqui. E por fim, a implementação de políticas de igualdade de gênero nas escolas e creches suecas onde as crianças não são identificadas pelo seu gênero. Aliás, existe na língua sueca o pronome neutro Hen, que é utilizado em boa parte dos textos jornalísticos, acadêmicos e jurídicos em substituição aos pronomes determinados ele ou ela.
Já os noruegueses figuram em segundo lugar na pesquisa do Rainbow Europe report como o segundo melhor país da Europa no desenvolvimento dos direitos e garantias LGBTI+. No verão de 2016, o Rei Harald V da Noruega foi aclamado mundialmente pelo seu sincero discurso em apoio à comunidade LGBTI+ e aos demais grupos minoritários. (Muito amor por este Rei!). Para não ficar de fora da festa, a Igreja Luterana Norueguesa, que não é boba nem nada, autorizou a celebração de casamento entre pessoas de mesmo sexo, e logo em seguida, a Igreja Católica na Noruega solicitou permissão ao Vaticano para o mesmo (Até o momento, o Vaticano não se pronunciou sobre o caso.)
Além do mais, em julho de 2016, durante a Conferência Global de Direitos Humanos LGBTI+, a Noruega se comprometeu a trabalhar ainda mais para erradicação das discriminações e violências contra a comunidade gay. E ainda em 2016, o parlamento autorizou a mudança legal de sexo para crianças entre os 6 a 16 anos, com a permissão dos pais. E a cereja do bolo são as recentes medidas introduzidas para assegurar o direito à autodeterminação de gênero.
Vale lembrar que igualdade de direitos não visa estabelecer homogeneidade e massificação, mas paridade nas diferenças, respeitando à diversidade e à individualização, sem atentar contra a ordem pública. Tal ideia reflete diretamente numa lei comportamental muito famosa por aqui, e que gerencia a sociedade escandinava. É a Lei de Jante, que basicamente nos ensina que você não é melhor e nem pior do que ninguém. Tal lei cultiva a ideia do respeito ao próximo como base para a construção de uma cultura e sociedade igualitária, onde a privação de direitos sociais é uma anomalia. Ou seja, amigx, por mais excêntrico que você pareça ao comer Sundae de morangos do McDonald’s com catchup (sim, eu faço isso!), a gente ama você mesmo assim, e torce para que seja feliz do jeito que é.
Vivam a diversidade e as diferenças, tem espaço para tudo nesse mundo.
Observação: em respeito àqueles que não se identificam por ele ou ela, adotei a letra “x” para não determinar gêneros.
2 Comments
Que texto maravilindo *-* Infelizmente não é comum, pelo menos aqui no Brasil, vermos heterossexuais cisgêneros que realmente entendem o que LGBTQI’s passam, que tenham empatia e que são engajados na causa. Fico tão feliz e grato quando vejo isso. Muito obrigado, Marcele 🙂 E a luta continua! Um abraço 😉
Que linda mensagem, Derick!
Muitíssimo obrigada pelo carinho 🙂
As causas LGTQI’s, como tantas outras, são xódos desse coraçãozinho-sonhador aqui, que acredita de todas as formas nos direitos humanos! 🙂 🙂
Beijo grande e fique bem.