Viver como Mulher de Expatriado
Quantas vezes nós já ouvimos um “Vai mudar de país? Nossa, que máximo!”. A maioria das pessoas tem muita curiosidade sobre o que seja uma vida de expatriado, mas também tem muitas ilusões quanto ao tema, principalmente em se tratando de uma mulher ou um marido que vai abdicar de muita coisa para virar dona(o) de casa em outro país. Há uma glamourização da situação. As pessoas acham que a sua vida será cheias de almoços, chás e jantares com mulheres na mesma situação. Não imaginam as dificuldades dessa transferência para nós, nossos filhos, marido e a pressão que sofre o casamento.
O estresse já começa antes mesmo de se tomar a decisão sobre se vai ou não haver a mudança. A empresa quer que vocês se mudem para outro país, mas vocês querem ir para o país indicado por eles? E se decidirem não ir, o marido irá perder o emprego ou uma oportunidade de avançar a carreira? Caso tenham filhos, e a mudança seja para um país onde não se fale português, eles falam inglês para se adaptarem mais facilmente a uma escola britânica ou americana, que normalmente são as opções de escolas internacionais? Se têm animais, o país aceita a entrada deles? E aceita animais sem a necessidade de quarentena? E vamos mesmo abrir mão de nossas carreiras para acompanharmos o marido? Quantas questões, não é mesmo? E isto é só uma parte ínfima de todas elas.
Abrir mão da vida que eu tinha planejado viver, foi uma das decisões mais difíceis que eu tomei. Eu ainda tive a sorte de ter o apoio da minha avó, que já tinha passado por essa experiência, tendo vivido nos Estados Unidos durante cinco anos, quando o meu avô veio fazer especialização em otorrinolaringologia. Ela havia me criado para ser uma profissional independente, mas me apoiou e esclareceu muitas das questões que eu tinha. Conversar com pessoas, que já passaram por essa experiência, é muito importante, porque elas te darão um reality shock (choque de realidade). Se você tinha alguma ilusão quanto à glamourização da vida de expatriado, pode deixar por aí!
Você decidiu embarcar na viagem e ir para um novo país, então tem que arregaçar as mangas. A empresa que está transferindo vocês irá ajudar, mas na maioria das vezes vai deixar muito a desejar em termos de planejamento, e você terá prever o que tem que ser feito e fazer muitas coisas por si só. Primeiro, tem que resolver toda a parte prática da mudança – ver o que fazer com o apartamento e carro, cancelar serviços como luz, gás e telefones, fazer check up no médico e no dentista etc. Depois tem a parte de organização de documentos e vistos. Tem ainda que procurar casa, escola e médicos no novo destino, e o mais difícil, participar das despedidas.
Esse processo de mudança causa um estresse absurdo ao casal. Brigas durante essa fase são muito comuns. Ambos ficam fragilizados. A mulher, pelas incertezas e pela pressão de organizar a mudança da família enquanto abre mão da própria vida, e o marido, pela pressão de estar promovendo uma mudança que gera muita incerteza para a família, além das responsabilidades do novo cargo. O diálogo é importantíssimo nessa fase, é obvio, porém mais importante é conseguir articular as dúvidas que estão criando tanto estresse, para um poder ajudar o outro e também para fazer uma lista e entregar para a empresa, a fim de que eles ajudem em tudo que for preciso. Afinal, eles estão causando essa mudança e o Departamento de Recursos Humanos está ali para ajudar.
Depois da chegada ao destino, há um momento de euforia, quando tudo é novidade. Tem a casa temporária, na qual temos que ficar até o container chegar, visitas à escola nova, a parques e aos shopping centers para conhecer a nova cidade. Você ficará ocupada tirando os documentos – Social Security (equivalente ao CPF), carteira de motorista, visto de residência. Você irá procurar casa, carro, correr atrás do seguro do carro, que é obrigatório, entre outras coisas. Este é um período de descobertas e, normalmente, tem muito menos brigas.
Assim que o container chega, o casal ou família se muda para o endereço definitivo. É também quando se começa a estabelecer a rotina. E é quando, muitas vezes, bate o vazio. É quando os problemas voltam a aparecer entre o casal. É muito comum a mulher se sentir sozinha e isolada. Nem sempre é fácil fazer amigos novos no novo destino. E no começo de um novo emprego em um novo país, o marido tende a ficar muito ocupado. Ele tem que se dedicar ao novo cargo e se adaptar a nova cultura da empresa. Não é um período fácil para ele também, apesar de ele fazer imediatamente novos amigos no escritório.
As dificuldades, pelas quais a mulher passa, e a falta de tempo com o marido, geram mais uma vez conflitos ao casal. As brigas voltam a ser comuns. E o que fazer para evitar isso? Procurar manter-se ocupada deve ser o primeiro passo. Sabe aquela história de casa vazia, oficina do Diabo? Pois é… Matricular-se em um curso para adquirir fluência na nova língua, marcar consultas com os médicos novos para estabelecer a relação de paciente e ter com quem contar em caso de emergência, arrumar algum trabalho voluntário até sair a permissão para trabalhar, juntar-se ao PTA (Associação de Pais e Mestres) da escola, ir a reuniões do Newcomer’s Club. Enfim, ocupar o seu dia e começar uma nova vida. O marido terá que fazer um grande esforço durante esta fase, agindo com muita empatia e compaixão com a mulher.
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Ao mostrar empatia e compaixão, ele estará se colocando no lugar da mulher, tentando entender o que está se passando na vida dela e ajudando-a a encontrar soluções e a se integrar a este novo mundo. Eu normalmente sugiro aos maridos que, durante esta fase de transição, não deixem esfriar o romance e mostrem o quanto apreciam o esforço que as suas mulheres estão fazendo, para que a transição seja eficaz e para manter o bem estar da família. Comprar flores, arrumar uma baby sitter e sair para um jantar romântico, leva-la para uma caminhada na praia ou em um parque. Enfim, passar um tempo bem agradável juntos e sozinhos são algumas ideias do que deve ser feito. Também é importantíssimo que o marido escute as reclamações que a mulher tem sem julgá-la. Muitas vezes, o que a mulher mais quer é alguém que a escute de coração aberto e lhe diga que vai ficar tudo bem, dando-lhe um abraço. Ela não conta as coisas esperando uma solução, conta apenas para desabafar.
No fim, e com muita vontade, tudo dará certo. Mantenham uma atitude positiva durante todo esse processo. O relacionamento sempre se fortalece depois de experiências como essas. Portanto mulheres, isto é só uma fase que irá passar, deixando ótimas lembranças e boas risadas. Aproveitem!
2 Comments
Olá cecília. Li alguns de seus textos aqui no blog e gostei muito. Vem me ajudando muito a tomar uma decisão sobre a expatriação. Não li nada sobre ter filhos durante o período de expatriação. Poderia me ajudar?
Olá Deborah,
A Cecília Bailey, infelizmente parou de colaborar conosco.
Obrigada,
Edição BPM