Mudar para um novo país não é nada fácil. São tantos os desafios e problemas que temos que lidar no dia a dia para ter uma vida tranquila, pois muitas vezes deixamos para trás nossa família e amigos de longa data e temos que começar tudo de novo. A tarefa de fazer novos amigos não é nada fácil, já que temos que nos adaptar a novos costumes, novas culturas e novos modos. Na Itália, por mais que seja bem parecida com o Brasil em alguns aspectos, pode ser uma experiência difícil para algumas pessoas.
Quando eu me mudei para Nápoles, tive um pouco mais de sorte nesse aspecto. Isso porque eu já tinha visitado a Itália algumas vezes e tinha um namorado italiano. Ele foi como uma ponte entre eu e os próprios amigos, que apesar da dificuldade linguística inicial, sempre me trataram muito bem e longo eu já fazia parte do círculo de amizade deles. Um outro fator que me ajudou foi a língua. Nem todos falavam inglês e como a língua italiana me servia para passar na prova de acesso à universidade italiana, eu tive que aprender o italiano rapidamente. Incrivelmente, em um mês eu conseguia falar razoavelmente bem o italiano, pois sempre que eu tinha uma oportunidade eu estava vendo tv, escutando música ou ouvindo as pessoas falando pela rua em italiano. Esse aprendizado foi decisivo e abriu uma porta para fazer novas amizades e melhorar o meu relacionamento com os amigos que já possuía.
Depois que a barreira linguística tinha sido derrubada, eu tive que passar pela barreira cultural. Claro que frequentar um curso universitário me ajudou muito, pois muitas pessoas eram mais ou menos da minha idade e entre coetâneos é mais fácil de se entender. Porém quanto mais passava o tempo eu percebia que eu tinha que me adaptar ao modo deles. Como por exemplo o nosso clássico atraso brasileiro. Entre os meus amigos brasileiros, acontecia de vez em quando um atraso de 2 ou até 3 horas. Porém, por mais que os italianos sejam mais flexíveis se comparados com outras populações europeias, um atraso além de 30 minutos não é muito bem visto por muitos, pois é considerado falta de respeito.
Uma outra coisa curiosa é o famoso “ ci vediamo per um café? ” (Literalmente “ nos vemos para um café? ”). Esse convite para tomar um cafezinho serve como um momento que as pessoas têm para se sentarem e terem um momento de pausa para conversar em tranquilidade e conhecer uns aos outros melhor, sem ser no tumulto de um barzinho ou de uma balada. É uma ocasião para jogar conversa fora mesmo e é um habito que se encaixa para todas as idades: é um costume entre os jovens e adultos.
Porém nem todo mundo consegue fazer amizades e se inserir nos grupos de amigos tão facilmente. Mas porque isso acontece? Mais uma vez o fator linguístico pode ser fundamental para estabelecer uma amizade entre brasileiros e italianos. Infelizmente, não é fácil achar outras pessoas que falem outros idiomas por aqui, portanto saber bem o italiano pode sim fazer muito a diferença. Basta pensar em uma situação invertida: ficaria muito difícil estabelecer uma amizade profunda com um italiano no Brasil que não fala uma palavra em português, não é mesmo?
Um outro fator que ouvi por partes de algumas brasileiras, principalmente daquelas que moram no Norte da Itália, é que muitas pessoas são um pouco fechadas com os estrangeiros e não estabelecem uma amizade verdadeira. Em alguns casos, infelizmente, pode ser porque são mais fechados às culturas diferentes da própria. Isso muitas vezes causa até um tipo de preconceito e ideias equivocadas. Já ouvi perguntas absurdas, como por exemplo se no Brasil comemos insetos ou comidas normais, tipo arroz ou macarrão, ou a clássica pergunta se eu sei sambar. Eu tento levar na brincadeira e explico pacientemente como são as coisas de verdade. Mas não são todas as pessoas que encararam a situação do mesmo jeito e se ofendem, o que dificulta ainda mais uma aproximação não é mesmo?
Portanto, creio que para criar vínculos com os italianos seja importante achar um ponto de interesse comum e com muita paciência tentar se encaixar nos costumes deles. Obviamente não estou dizendo que devemos mudar ou esquecer os nossos costumes, porém mais você passa a conhecer a cultura local e se torna aberto a coisas novas, mais fácil fica de se inserir e criar amizades.
Para a amizade não existe nenhuma fórmula mágica ou receita a ser seguida passo a passo, principalmente quando tem um choque de culturas envolvido. Outros fatores também têm que ser levados em conta, como por exemplo a diferença de comportamento entre os italianos do Norte, que por muitos são considerados como frios e fechados, e os do Sul, que são vistos como mais amigáveis e mais abertos. Outra coisa que conta também é a afinidade que quase sempre faz a grande parte do jogo. Porém, essas dicas e experiências podem ajudar de alguma forma a avaliar o nosso comportamento quando tentamos fazer novas amizades em um país novo. Basta pensar: e se fosse eles no nosso país como seria?