Engenharia Florestal no Oregon.
O Oregon é um estado americano não muito conhecido e fora das rotas turísticas mais populares. A maior cidade do estado, Portland, hoje ainda é um pouco mais famosa por conta do seriado Portlandia. Lar de muitos hipsters (jovens moderninhos), Portland é cercada por dois rios, Columbia e Willamette. Eles são de grande importância para transporte, alimentação, produção de energia, e abastecimento de água. A cidade tem um dossel florestal de 30% e ainda tem uma meta de aumentar em 3% até o ano de 2035. Nesse texto vou comentar a minha experiência florestal não só em Portland, mas no estado do Oregon, onde tenho vivido por aproximadamente quatro anos.
Tudo começou no ano de 2012, quando fui fazer um intercâbio na faculdade Oregon State University (OSU). Sou ruralina com muito orgulho, pois a Rural (UFRRJ) é uma segunda mãe e abriu a minha mente. Não posso negar que me apaixonei por Corvallis e pela OSU. Não foi um amor à primeira vista, pois logo no início fiquei doente e só chovia. Mas na OSU tive a oportunidade de fazer visitas técnicas em madeireiras, fábricas de papel, diferentes biomas, e uma incrível cabana feita de troncos. Também fiz visitas técnicas com a Rural. Porém, aqui na região do Noroeste do Pacífico (Pacific Northwest) a dinâmica florestal é bem diferente dos ecossistemas brasileiros. E foi um grande aprendizado.
Fiz três aulas que marcaram a minha vida. A primeira foi uma aula de recreação florestal. Este é um assunto que não é muito explorado no Brasil tanto quanto nos EUA. Talvez pela lei de Unidades de Conservação ser relativamente nova (quando comparada a dos EUA). Ou pela falta de segurança e infrastrutura que os parque oferecem. Mas após completar essa disciplina, eu senti que o Brasil poderia explorar mais o ecoturismo, melhorar a qualidade de trilhas, e definir planos de manejo para unidades de conservação. É uma forma de conectar as pessoas com a natureza e desenvolver um respeito pelo meio ambiente.
A segunda aula que aprendi bastante foi de Silvicultura Prática. Nesta disciplina, toda semana a turma fazia visitas de campo. O projeto final incluia descrever um plano de manejo para uma parcela da floresta particular da OSU. Sim, havia uma floresta disponível para os alunos fazerem aula de campo! As parcelas tinham diferentes tratamentos. Algumas eram manejadas para ser habitat de animais silvestres. Outras tinham diferentes espaçamentos e intervalos de desbaste. Em outras era possível observar a regeneração natural. De bônus, ainda participei de um treinamento de combate a incêndio, com direito a usar o pinga fogo e uma roupa de bombeiro.
A última aula que me encantou foi sobre identificação florestal. Nesta aula, a turma acampou em diferentes ecossistemas do Oregon para identificar espécies de plantas. O que me impressionou foram as trilhas que pareciam mágicas, com cogumelos pelo chão e musgos cobrindo pedras e árvores. Outra coisa interessante era que apesar da grande biodiversidade, nada se compara ao que temos no Brasil. Por exemplo, aqui geralmente identificamos direto as características das espécies, pois são menos árvores para decorar. Ainda, a ausência de mosquitos, de extremo calor, de extrema umidade, e cipós facilita a locomoçao e logística de inventário.
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Por falar em inventário, eu participei de um inventário florestal urbano na cidade de Portland. Cheguei em Portland em 2015, para iniciar uma pós graduação em Urbanismo, com foco em floresta urbana e justiça ambiental. Neste ano de 2018, me aproximei mais de atividades florestais urbanas. Fui convidada para participar do Comitê Florestal Urbano de Portland e do Comitê de Parques. Nexte outro texto, explico um pouco de como desenvolvi minha carreira aqui. Além disso, estou escrevendo um artigo sobre fatos históricos e políticas públicas que influenciaram na composição da paisagem da cidade.
O inventário que participei é um programa bem interessante. Há alguns anos atrás, a cidade de Portland inventariou TODAS as árvores das ruas da cidade. Sim, se não é 100%, provavelmente é um valor muito próximo a isso. E a maior parte da mão de obra é de voluntários. Eu achei isso incrível! Foram 1300 voluntários somando 17 mil horas de trabalho e identificando 218 mil árvores nos últimos seis anos. O mapa com as árvores inventariadas pode ser encontrado aqui. No ano de 2018, um novo projeto de inventário para identificar as árvores em parques públicos foi iniciado.
Eu sou engenheira florestal, mas nunca tinha participado de um inventário na vida. É claro que um inventário urbano nem se compara com as dificuldades técnicas e de logística de um inventário florestal tradicional. Mas foi uma experiência ótima. Primeiro, eu fiz um treinamento teórico e prático. Estudei a chave de identificação das espécies mais comuns em arborização urbana, o uso da fita diamétrica, clinômetro, e roda de medição. Como estava liderando as equipes de voluntários, ainda aprendi a inserir os dados no Collector. Este é um aplicativo da ESRI para coletar as informações do inventário e depois transferir para o ArcGIS.
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Eu não diria que a engenhria florestal nos EUA é mais avançada do que no Brasil. São diferentes cenários de complexidades diferentes. Porém, certamente há muito mais investimentos em sistemas florestais aqui. Especialmente no Oregon, que lidera o mercado madeireiro nos EUA. Uma coisa que eu gostaria de ver mais no Brasil é o planejamento florestal urbano. A população está crescendo exponencialnente e precisamos de mais áreas verdes em cidades. Isso ajuda a tornar as cidades mais resilientes a desastres naturais e a mitigar o aquecimento global. Pode parecer utopia, mas eu acredito que o Brasil tem potencial para ser uma das maiores economias florestais do mundo. Basta o nosso governo tratar com seriedade e respeito as nossas reservas naturais e biodiversidade, a herança cultural e etnobotânica dos índios, e um manejo que explore não apenas madeira, mas também outros produtos e serviços florestais.
5 Comments
Uma Ruralina, que orgulho! Mandei esse texto para uma amiga que faz gestão ambiental, certamente vai ajudá-la. Obrigada por compartilhar essas experiências maravilhosas ❤
Obrigada pelo apoio! ❤
Lorena, tudo bom? Prazer me chamo Naiade, sou graduanda de Engenharia Florestal da UNESP. Gostaria de saber qual sua visão em relação a viabilidade de realizar estágio curricular nos Estados Unidos. Você tem um panorama a respeito de estágio?
Saudações floresteiras! Você pode começar mandando emails para professores, universidades, e até o Serviço Florestal Americano (um colega de classe da Rural veio fazer estágio com eles pedindo por e-mail há um tempo atrás). Às vezes é possível conseguir alojamento (alguns parques deixam os voluntários acamparem gratuitamente no verão), mas provavelmente as passagens, alimentação, e despesas em geral vão ficar por sua conta. Existem feiras de intercâmbio no Brasil que podem ajudar no processo, como a Salão do Estudante. Pois dependendo do visto que você vem, o estágio não pode ser remunerado. O Oregon é um lugar bem legal para praticar Engenharia Florestal e fui muito feliz na faculdade Oregon State University. Empresas multinacionais, como a Weyerhaeuser e International Paper podem ser uma tentativa também.
Lorena eu aqui again, primeiro quero agradecer por ter me respondido. Então, eu realmente fiquei interessada no seu artigo pelo lugar que você fez. Quero muito tentar na Oregon State Univrsity, pretendo seguir área acadêmica e é por isso que gostaria de realizar estágios dentro da universidade. Essa semana começarei enviar e-mail para tentar arrumar algum professor na minha área.