Escolhas para fazer Intercâmbio na Croácia
Certa vez, um amigo meu croata que cursou Direito me disse que quando fazemos escolhas que as outras pessoas esperam que façamos, não somos questionados se aquilo é realmente o que desejamos fazer; e se essa escolha condiz com quem somos, com nossa personalidade e com os nossos anseios, porque essa escolha agrada à maioria e por isso não deve ser discutida mais amplamente.
Já se você faz uma decisão que não era esperada, recebe questionamentos o tempo todo, e isso faz com que cada vez mais você tenha que encontrar bons argumentos para explicar sua decisão.
Mas por que você, uma menina, quer aprender a jogar futebol? Por que você que sempre teve dinheiro para tudo vai trabalhar em locais que favorecem os pobres? Por que você que sempre tirou boas notas em matemática, física e química quer cursar uma faculdade de humanas e ser professor (a)?
Meu nome é Renata, tenho 22 anos, sou uma nova colunista no blog Brasileiras Pelo Mundo e estou fazendo intercâmbio na Croácia, como você já pode ter suposto com o título desse texto. Pois bem, me encaixo nessas perguntas acima, na verdade são as perguntas que ouvi mais de uma e menos de um milhão de vezes durante os últimos 10 anos. São perguntas que primeiro nos enfraquecem de alguma forma, mas que depois nos fortalecem pela reflexão que elas nos trazem.
Estudo Geografia e decidi, a partir de um programa de mobilidade acadêmica pela minha universidade em Curitiba, fazer um intercâmbio de um ano. Como tenho fluência em inglês, poderia escolher como opções de destino países que tivessem a língua inglesa como oficial, ou países que falassem outras línguas.
As opções que eu tinha eram: Estados Unidos, Canadá, Irlanda, Finlândia, Polônia e Croácia. Isso porque nem todos os países do mundo possuem acordo bilateral com a minha universidade.
O Canadá e os Estados Unidos seriam opções ótimas para a prática do inglês, obviamente, além de uma questão que meu pai sempre me alertou, que é o peso de um período tão longo nesses países tão desenvolvidos e reconhecidos economicamente em uma entrevista de emprego.
Eu sempre quis fazer um intercâmbio, desde o Ensino Médio, e meus pais sempre incentivaram, diziam que seria uma fase importante de amadurecimento e também de prática do inglês que sempre estudei desde pequena. Mas o que passava pela minha cabeça é que já temos tantas informações sobre esses países anglo-saxões, ouvimos diariamente sobre eles pelo menos uma vez em todos os jornais da televisão, usamos roupas de marcas das lojas deles todos os dias, ouvimos palavras ou expressões que eles usam em muitos dos nossos diálogos, sem falar dos seriados e filmes que são produzidos a partir do dia a dia principalmente dos estadunidenses. Seria uma experiência ótima, como seria em qualquer outro lugar, mas e aí?
Não gostaria aqui de ofender as pessoas que escolhem esses países como destino para um programa de intercâmbio, e sim compartilhar algumas das questões que passavam pela minha cabeça. Até porque a moral final desse texto é que cada um sabe de si e toma suas próprias decisões.
Pois bem, deixamos de lado essas duas opções (Canadá e Estados Unidos). Segue o jogo. Próxima opção: Irlanda. Isso significaria ir para a Europa e ainda praticar o inglês. Ótimo, deixei essa opção guardada.
A Finlândia seria uma ótima opção também, claro, e principalmente porque eu estudo Geografia e meu objetivo é me graduar em licenciatura. Alta qualidade de educação, de envolvimento do governo com o assunto, além do suporte que o mesmo oferece aos jovens do país. Mas procure a cidade “Oulo” no mapa da Finlândia e então diminua o zoom para poder enxergar onde fica a Finlândia na Europa. O frio lá seria gigantesco, e, além disso, não é um dos países mais baratos para se viver. Acho que seria demais para mim: frio e preços caros.
Por fim, restaram a Polônia e a Croácia. Não sei o porquê, mas sempre gostei da Polônia, ou sempre tive uma boa ideia sobre o país e por isso me inclinei um pouco em sua direção, mas ao ver a página online da faculdade do curso de Geografia de lá me desinteressei um bocado. Estava desatualizada, em preto e branco e quase sem informações do curso. Decepcionei-me um tanto.
O último país que pesquisei sobre foi a Croácia, porque honestamente não sabia direito onde, na Europa, ele ficava. Bem, encontrei alguns artigos e blogs sobre a cultura do país, sua localização, sua história, etc. Tudo parecia muito bom porque o clima é relativamente parecido com a região onde eu moro no Brasil (Sul), as aulas seriam em inglês, eu teria um tempo para aprender um pouco de croata, e talvez começaria a estudar francês, que era uma coisa que já queria fazer há muito tempo.
O verão na Croácia é algo também que é famoso na Europa e está ficando cada vez mais conhecido nos outros países do mundo. Isso principalmente pela beleza que a costa croata possui. De verdade, pesquise algumas imagens na internet e você verá sobre o que eu estou falando.
Outra informação importante é que a Croácia é um país considerado pequeno, mas que possui muitas diferenças entre as suas regiões. Diferenças sociais, linguísticas, geomorfológicas, econômicas e algumas outras. Bem, isso parece um prato cheio para quem estuda Geografia. Fora a questão de ter feito parte da antiga Iugoslávia, de ser um país que nunca estudamos na escola e muito menos vemos notícias sobre em jornais na televisão.
Na minha cabeça só se passava a pergunta “por que não?”. E então tomei a decisão por volta das 18:30 horas de uma quinta-feira, em setembro de 2015.
Seria a Croácia. Mas sim, não foi fácil convencer meus pais dessa opção, eles simplesmente não entendiam e não queriam acreditar. E então voltamos ao ponto inicial desse monólogo, mais precisamente ao segundo parágrafo. Muitas perguntas e pouca conformação existiram, e então tive que achar respostas plausíveis para todas. Sentia-me como quando decidi que cursaria Geografia na graduação.
Queria deixar registrado aqui que apesar dos meus pais não terem concordado com a minha escolha, eles me respeitaram, ajudaram e sofreram comigo até a chegada da minha carta de aceite da universidade estrangeira, então de muitas formas devo grande gratidão a eles.
Enfim, no início da minha morada na Croácia percebi que nem tudo seria como eu planejava e para você ter uma ideia, a primeira coisa que descobri quando cheguei a Zagreb foi que, na verdade, a grande maioria das minhas aulas seria em croata. Mas isso é papo para um próximo dia.
Encerramos por aqui dizendo que já se passaram nove meses desde minha chegada à capital da Croácia e bom, ainda não me arrependi um dia da escolha que fiz há um ano e alguma coisa. Veremos, faltam ainda três meses, quem sabe.
Obrigada a você também por chegar até aqui nessa leitura! Nos vemos no próximo mês.
6 Comments
Olá Renata! Primeiramente parabéns pelo texto. Me vi em muitas situações das quais você descreve e pode ser que você me ajude nas minhas decisões também. Estou estudando Psicologia na UFPR e vou fazer mobilidade agora no segundo semestre de 2017. Porém, destino ainda incerto. Estou entre: Universidade de Lisboa ou a Universidade de Zagreb.
Eu vi que as aulas para o meu curso tem várias opções em inglês. Porém, o site da universidade é um tanto confuso. O que queria perguntar é: você acha que falando em inglês dá para se virar bem na croácia? (tipo, perguntar coisas para as pessoas, nomes de ruas, ler cardápios de restaurantes ou no mercado – levando em consideração que não sei absolutamente nada da língua Croata). Além disso, você diria que morar em Zagreb pode ser uma experiência cultural mais interessante que em Portugal?
Desde já obrigado pela atenção! 🙂
Oi Vitor! Que bom ler sua mensagem, muito obrigada. A primeira coisa que te aconselharia a ver na Universidade de Zagreb é se todas ou pelo menos a maioria das suas aulas serão em inglês. Como falei, enviei alguns e-mails para a coordenação do curso de Geografia em Zagreb e não tive nenhuma resposta, então fui sem ter a certeza sobre como seriam as aulas. Mas acredito que uma questão a ser pensada, independente se sua disciplina lá será em inglês ou em croata, é o que você busca nesse intercâmbio. Em Portugal mesmo falando a mesma língua que a nossa, é provável que você tenha aulas em inglês com outros intercambistas, mas quanto ao seu dia-a-dia, o português continuará muito presente. Já em Zagreb, a grande maioria das suas relações fora da universidade serão em inglês. Resumindo, acredito que talvez em Portugal sua qualidade de estudo no curso de Psicologia na universidade seja maior pela língua, mas morar em um país com uma língua totalmente diferente como a Croácia, te tirará um pouco mais da zona de conforto. E uma coisa eu te garanto: não terá problema algum com o inglês lá, isso porque todos aprendem muito bem a língua na escola quando pequenos. Escrevi mais um texto onde falo um pouco sobre isso (Croácia – O susto em saber que a aula não será em inglês) e como essa noção do inglês é importante para os croatas principalmente pra sua economia.
Quanto às experiências culturais, vejo como experiências diferentes e por isso como uma situação em que é difícil comparar. Visitei apenas Porto e mais duas cidades no nordeste de Portugal e realmente me apaixonei pelo país, mas ao mesmo tempo há muitas coisas parecidas com o Brasil. A Analu Tavela, outra colaboradora desse blog, escreveu um texto muito interessante sobre isso, o qual se chama “Portugal – Encontrei o Brasil em Portugal”. Na Croácia, por exemplo, as comidas são até parecidas com as que comemos no Brasil, mas não se encontra facilmente ingredientes caracterizados com unicamente nossos (leite condensado, fubá, etc), e por isso é necessário se desligar um pouco mais dos nossos hábitos. (Mas fique tranquilo, a comida é ótima, principalmente no nosso restaurante universitário aqui.)
Por fim e já me alongando um pouco, queria enfatizar a parte do “cada um sabe de si”. Acredito que já esteja fazendo isso mas gostaria de sugerir que você desse bastante atenção aos seus objetivos nessa experiência. Será ótima de qualquer forma, mas depois de passada, além dos bons momentos, o que mais pretende ter levado dela?
Grande abraço (:
Muito obrigado pela resposta! Continuarei acompanhando o site para ver mais textos seus! 🙂
E já tomei minha decisão de ir para Zagreb mesmo! Agora irei juntar várias informações para organizar minha viagem!
Grande abraço!
Parabéns Renata! Seu texto chegou a me emocionar! Eu me encontro nessa mesma sensação que você.. Embora eu queira muito fazer um intercâmbio, para qualquer lugar, eu queria evitar um pouco dos países tradicionais nessas escolhas, por ser mais do mesmo (salvo suas devidas proporções, pois com certeza haveria sempre algo novo para conhecer) e também devido à todo custo. Eu acabei de me formar em engenharia ambiental e sanitária e gostaria de uma oportunidade de ir para fora até que estou começando a pensar sobre a Croácia. To ficando apaixonada. Mas, eu queria saber, se na Croácia teria como eu aprender inglês, com curso de idioma (tenho nível intermediário), qual é o custo de vida, e se eu, tendo dupla cidadania (Brasil-Portugal), teria chance em arrumar um trabalho temporário, ou mesmo um emprego na área. Obrigada!
Oi Laís! Muito obrigada mesmo! Então, sobre curso de inglês eu não tenho muitas informações mas não acho que seja algo difícil, até porque lá muita gente fala inglês muito bem, eu só não posso te indicar algum lugar específico porque realmente não conheço nenhum. Sobre o custo de vida, eu considero que é mais barato do que aqui no Brasil, tanto em espaços de lazer como nas necessidades diárias como transporte público, por exemplo. Trabalho é algo que sempre tem lá, a única questão é que não pagam muito bem, mas considerando o custo de vida no país, são salários que dão suporte para uma vida tranquila. Não posso te orientar muito sobre trabalho na sua área, porque quando trabalhei lá, foi em áreas relacionadas ao turismo ou à organização de eventos mesmo. Mas enfim, é um país muito acolhedor, espero que dê certo de você ir pra lá! (: Até mais.
Oii Renata! Li e gostei muito dos seus posts. No momento estou tentando a mobilidade para a Universidade de Zagreb também. Gostaria de saber como foi o processo de conseguir uma vaga no alojamento estudantil, já que pelo o que pesquisei os aluguéis são bem maiores se comparado ao valor do alojamento. Por fim, parabéns pelas suas conquistas e muito sucesso!!