Etiqueta na hora de dar beijos na França.
A França é cheia de legendas quando o assunto é vida social, educação e etiqueta. São muitos costumes culturais que muitas vezes são difíceis para um estrangeiro entender, sendo visitante ou expatriado. A diferença entre o “tu” e o “vous”, a maneira como brindar quando eles estão à mesa, tomando cuidado para que os copos não se cruzem, e a obrigação de olhar nos olhos no momento do brinde (nunca deixe de olhar bem fundo nos olhos da pessoa quando suas taças se tocarem, ou você pode ser taxado de mal educado). Sim, o francês leva a etiqueta muito a sério e, como se já não bastasse tudo isso que citei acima, temos a famosa “bise” (o beijinho no rosto), e é sobre isso que quero conversar com vocês hoje.
Leia também: Expressões francesas usadas no dia-a-dia
O cumprimento com um beijo é um verdadeiro PESADELO! Cada região da França tem um número de beijos no rosto com o qual eles cumprimentam, por exemplo, em Paris normalmente são três, aqui no sul, na região de Provence, são dois, e existem lugares em que são QUATRO. Você passa uns bons minutos até conseguir beijar todo mundo.
Como se não bastasse a diferença na quantidade, o lado no qual você inicia esse gesto também é importante, ou um acidente pode acontecer e você acabará beijando a boca da pessoa. Se você, que está lendo esse texto, é paulista como eu, normalmente, cumprimentamos somente com um beijo no rosto e sempre usamos a nossa bochecha direita na bochecha esquerda da pessoa. Pois bem, aqui não! O beijo vai se iniciar sempre com a sua bochecha esquerda na bochecha direita da outra pessoa. E devo confessar que isso já me levou a compartilhar muitos momentos constrangedores no trabalho.
Outra diferença bem marcante entre brasileiros e franceses com esse gesto é a quem eles beijam. No Brasil, se cumprimentamos alguém em uma roda de amigos, por exemplo, com um beijo, iremos muito provavelmente beijar todas as pessoas que estão na roda. Aqui não! Você deve dizer “bonjour” para todas as pessoas que estiverem na roda, mas só vai beijar aquelas com as quais você tem um certo nível de intimidade ou amizade, e isso não é falta de educação. Em algumas regiões daqui, os homens se cumprimentam com um beijo também, como é o caso da região onde moro. Em Paris, provavelmente você só verá esse gesto entre dois homens se eles forem da mesma família.
Outra regra a ser lembrada é que existe uma obrigatoriedade com esse famoso “beijinho”. Uma vez que você chega ao nível de intimidade suficiente com alguém para tal, o beijo se torna obrigatório. Isso mesmo, obrigatório! Todos os dias, ou todas as vezes, que vocês se encontrarem terão que se cumprimentar dessa forma, porque se você passar e dizer apenas “oi” a pessoa imediatamente irá pensar “ué, ela não me deu um beijo, será que fiz alguma coisa?” ou “não entendo essa menina, tem dia que me dá um beijo e no outro só dá oi”. Sim, eles são sensíveis nesse nível. E isso pra mim é extremamente difícil, porque no Brasil não temos essa obrigação, existem dias que não estamos bem humorados, ou que estamos com pressa, não sei. E esse é o maior motivo pelo qual eu evito cumprimentar as pessoas dessa forma, para não ficar presa à obrigatoriedade do gesto.
Leia também: tudo que você precisa saber para morar na França
Uma coisa que muitos franceses fazem, também, é tirar os óculos na hora de cumprimentar com um beijo. Eu nunca tiro, deixo bater mesmo.
Agora deixarei aquela dica preciosa para os dias que você chegar em algum lugar e tiver uma mesa lotada de pessoas e você quiser evitar beijar todo mundo: diga “je suis malade”, que significa “estou doente”. Sim, franceses tem PAVOR de germes e, quando eles estão doentes, logo avisam que não vão lhe beijar por esse motivo, e de maneira efusiva, colocando a mão na frente e pedindo para você não se aproximar. Então, para os dias de mau humor, guarde essa dica no coração!
2 Comments
ODEIO esse maldito beijo. Pensei que me acostumaria morando aqui. 7 anos depois odeio sete vezes mais. Odeio a conotação de “obrigação social” que isso tem, tipico da cultura francesa. Odeio a falta de espontaneidade. Odeio esfregar o meu rosto no rosto de gente que não conheço. Odeio chegar cedo no trabalho para terminar um projeto e ter gente me interrompendo a cara 2 minutos para dar beijo. Enfim, odeio.
De uns tempos para cá, a vontade de se assimilar passou e comecei a me afirmar. Chego no grupão, dou um oi geral e conforme vou falando com um a um vou dando os beijos. No trabalho dou um oi com a mão e acho que criei uma lenda cultural de que brasileiros não curtem dar bom dia de manhã (hehehe). Enfim, beijo quem eu considero e tenho carinho. Melhor um beijo sincero do que um daqueles que parece de judas.
E sobre os germes, nisso os franceses tem bem razão. Com o frio chegam aquelas epidemias surreais de gripe e resfriado. O pânico dos franceses vem do desespero que é cair resfriado ou gripado no inverno. Esse dezembro eu fiquei TRÊS SEMANAS acabado – e quando achei que já estava ficando melhor o resfriado se transformou em conjuntivite. Então cuidado e não beija mesmo quem estiver remotamente doente. Sobrevivência acima de tudo.
O macaron, champagne e queijo tem um preço. 🙂
Fer
Olá Fernando!
Eu também nunca me acostumei. Morei dois anos e meio e para mim ainda era um sacrifício danado chegar e ter que dar beijo em todo mundo. Então, desenvolvi o método da educação em diferenças culturais. Comecei a falar sobre a cultura brasileira pras pessoas mais próximas a mim. Expliquei que, no Brasil, ao menos em SP, o beijo não é uma obrigação. Principalmente de manhã, que a gente chega meio mal humorado no trabalho, e só funciona depois de umas 2 horas e 3 xícaras de café. Depois disso, as pessoas começaram a entender quando eu chegava e dava aquele oi geral, com um sorriso, me respondiam e vida que seguia. Quem queria, vinha e me dava um beijo depois e eu nunca neguei, mas eu mesma nunca iniciei o famoso tour du bisou, porque uma vez iniciado, são uns 20 minutos beijando toda a galera!! E imagina, eu morava no sul da França, o povo é mais sensível ainda. Se beijar um e não beijar outro, é a morte. hahaha
Quanto aos germes, sempre fui de dar oi pra todo mundo, mesmo doentes. Mas como disse, no sul ninguém pega
resfriado de neve e poluição como em Paris e outras regiões né?
A baguete, o vinho e um bom brie valem cada centavinho e cada beijinho (tá, cada beijinho talvez não!)
Sté