Muitas das palavras usadas pelos brasileiros no dia-a-dia são termos “emprestados” da língua inglesa. Mas por que utilizar tantas palavras estrangeiras no seu cotidiano? Certamente por tal vocabulário estar tão inserido em nossa cultura, muitas pessoas nem percebem que essas palavras não são “em português”.
É fácil observar isso em várias situações do dia-a-dia: escola, faculdade, trabalho, televisão, jornais e principalmente na internet, onde há conexão com o mundo.
Isso acontece por alguns motivos como a influência do mercado de filmes e músicas americanas, o peso das grandes indústrias e seus produtos no mercado internacional, o impacto da internet na globalização cultural, especialmente para as novas gerações, entre outros.
Algumas palavras que já foram, praticamente, incorporadas no vocabulário do brasileiro são:
- TV Full HD: Traduzindo para o português seria “Alta definição cheia”. Mas quem fala assim? Ou melhor, quem entenderia assim?
- Refrigerador Frost Free: O que você pensaria, por exemplo, de um anúncio com a descrição de “Refrigerador com gelo livre”?
- SMS: Todo mundo sabe o que é um “SMS”, certo? E se eu te falar que vou te mandar uma mensagem curta de serviço? SMS nada mais é do que a abreviação do termo, em inglês, “Short Message Service”.
Obs: Não é correto fazer a tradução literal dessas expressões, mas é exatamente assim, de forma errônea, que muitas pessoas compreendem.
E parando apenas alguns minutos para pensar a lista parece não ter fim. Internet, site, ranking, funk, milkshake, check in, diet, fashion, e-mail, mouse etc. A cada dia mais palavras e há até uma lista específica para cada tipo de profissão. Eu, por exemplo, sou publicitária e desde a faculdade termos como budget (verba), target (público-alvo), job (tarefa), briefing (instruções) , brainstorming (discussão de idéias) são parte da minha vida. Confesso até que para escrever a tradução em português de algumas dessas palavras aqui eu precisei usar um tradutor online porque eu não sabia. E isso está tão enraizado em nossa cultura que se ouvir alguém falando: “Já receberam as instruções (briefing) desta tarefa (job)?” Não só isso causará estranhamento em um ambiente profissional, como podem até duvidar de sua experiência e vivência na área.
E se a vida no Brasil já é influenciada em demasia pela cultura americana, quando se mora nos Estados Unidos tudo isso se complica. Vou explicar o porquê:
Ninguém duvida das vantagens de se falar várias línguas no mundo globalizado mas isso, às vezes, pode causar uma espécie de curto-circuito. E até esquecimento.
Após algum tempo morando fora do Brasil, neste caso em um país onde a língua nativa é o inglês, é possível perceber que algumas palavras do português “somem” da sua memória. O vocabulário português entra em atrito com o vocabulário inglês e o resultado disso é uma fala onde mistura-se as duas línguas. Esse comportamento pode parecer estranho ou até arrogante para os seus velhos amigos, mas a confusão é real. Frases como “vou fazer a minha laundry (lavanderia)”, “Vamos marcar um playdate (encontro para as crianças brincarem)?”, “Vamos na gym (academia)?”, “Preciso de um help (ajuda).” e “Estou busy (ocupado) agora” fazem parte da vida dos brasileiros que moram em Nova-Iorque e todo mundo além de entender acha tudo super normal.
Outra situação bem comum de vivenciar morando fora do Brasil é escutar expressões que são bastante usadas na língua inglesa, traduzidas literalmente para o português, o que fica bastante esquisito e até feio de se escutar como por exemplo: “Deixe me saber” = “Let me Know”, ao invés de “Me conta depois” e, “Posso ter uma água”? = “Can I have a water?” – ao invés de “Gostaria de uma água”. Essa última frase eu já falei para um garçom em um restaurante em SP em uma das visitas e sim, soou absolutamente estranho pros outros da mesa (risos).
E quando filhos de brasileiros nascidos aqui em Nova Iorque começam a falar? Eis que a “confusão” também acontece por essas crianças aprenderem duas linguas ao mesmo tempo: o português “em casa” com os pais, e o Inglês “fora de casa”. Isso pode trazer insegurança aos pais, ja que especialistas dizem que crianças expostas a mais de uma língua tendem a ter um atraso no desenvolvimento da linguagem. Para ilustrar o que estou dizendo, ouvi outro dia do filho de uma amiga e mãe brasileira que mora em Nova Iorque o seguinte: “Mommy (mamãe em ingles), posso assistir cartoon (desenho animado)?”.
Quem mora no exterior, em especial em países onde a língua oficial é o inglês, sabe que isso realmente acontece. Uma boa notícia é que pesquisas indicam que é muito difícil, praticamente impossível, sobretudo na vida adulta, esquecer o idioma nativo, mesmo após anos fora do país. Ufa!
“Keep calm and let’s misturar os idiomas”.