Todos sabemos que os Estados Unidos são o país do consumo. Para a maioria dos brasileiros que passam as férias por aqui, é quase como o paraíso na terra, onde se compra de tudo a preços muito mais baixos do que no Brasil.
Nos feriados, o brasileiro viaja. Em São Paulo, não importa se está frio ou chovendo, chega um feriado e lá vai o paulistano enfrentar horas de estrada para aproveitar uns dias na praia ou no campo. Aqui nos EUA eu tenho a impressão de que, nos feriados, os americanos vão às compras. Sempre tem um sale (liquidação) em todo feriado. Temos o Memorial Day Sale, o Labour Day Sale, o Christmas Sale, o Summer Sale e o famoso Black Friday Sale, na sexta feira do feriado de Ação de Graças e muitos outros. É sale que não acaba nunca!
Então quando você decide que irá se mudar para os EUA, logo fica se imaginando mergulhando de cabeça nas prateleiras da Macy’s e da Target, comprando tudo mais barato para sua casa nova. Mas você esbarra em um problema que muitos desconhecem até se mudarem para estas bandas – a saga do Credit History.
Todo mundo aqui nos EUA tem um credit score e um credit history. Basicamente atribui-se um valor que identifica o consumidor como sendo excelente, bom ou mau pagador. Quanto melhor seu credit score, melhores serão as taxas que você consegue ao financiar sua casa, por exemplo, e maior será o seu limite no cartão de crédito (dependendo de sua renda, é claro!).
Como um novo morador nos EUA você obviamente não tem nenhum credit history, afinal você acabou de chegar e a única coisa que você quer é abrir a conta no banco, receber seu cartão de crédito em casa e sair gastando suas “doleta”. Você pensa que não terá problemas nesta área, afinal você tem emprego e renda para comprovar. Oh, triste ilusão!
Quando mudamos para NY, abrimos uma conta no Citibank. Já tínhamos conta no mesmo banco em outros lugares e tudo sempre foi muito fácil. Mas aqui não foi assim. Primeiro o banco não queria me adicionar à conta conjunta. Tinha um visto L2 e estava aguardando minha permissão de trabalho sair para poder aplicar para o famoso Social Security (SS). Você precisa de um SS quando arrumar emprego e quando você aplica para um cartão de crédito (mais informações no site do Social Security). Mas a minha impressão é que neste país você só passa a existir depois que tirar o tal do SS. ” Tenho Social Security, logo, existo”!
Então depois de algum debate com o banco, acabei sendo incluída na conta e consegui receber um talão de cheques e um cartão de débito. O cartão de débito já ajuda, e muito. Porém, sempre existe um risco maior em se deixar dinheiro na conta corrente. No meu caso, um belo dia descobri que os dados do meu cartão haviam sido roubados quando tirei meu extrato e vi um pagamento para o site de relacionamento match.com e um saque de US$ 1.500! Se usar um cartão de crédito você tem garantias/seguros, mas no caso do cartão de débito o dinheiro já saiu da sua conta e você tem que explicar para Deus e o mundo que você não foi responsável por aquelas transações para reaver o dinheiro.
Bem, nosso passo seguinte foi solicitar ao banco um cartão de crédito. A novela mexicana começou. Como não tínhamos o tal do famigerado credit history, o banco não queria fornecer o cartão. Sabe o efeito Tostines, aquele do slogan do biscoito? Você não tem cartão de crédito por que não tem credit history ou não tem credit history por que não tem cartão de crédito??????
Para ajudar, as linhas de crédito nos EUA ficaram mais difíceis de serem conseguidas desde a crise financeira de 2008, afinal tudo começou porque os bancos concederam linhas de crédito hipotecárias (mortgages) para clientes de alto risco, chamados de clientes “ninja” (no income, no job, no assets: sem renda, sem emprego, sem patrimônio), e sabemos no que isso resultou.
Bem, a solução encontrada foi um cartão de crédito secured ou bonded. Você deposita um valor – em nosso caso foram US$ 5.000 – em uma conta que você não poderá usar, e o banco emite um cartão com o mesmo limite. Até mesmo o cartão de crédito Corporate do meu marido tinha um limite bem baixo, complicando bem a nossa vida.
No meu caso, uma desperate housewife sem emprego, a situação era ainda pior. Apliquei para dois cartões e fui rejeitada. O problema ainda é que, cada vez que você é rejeitada, a informação entra para o tal do credit history. Não dá pra apagar do seu passado!
A solução que encontrei foi aplicar para um cartão bem popular, para quem tem problemas de crédito. Escolhi um na internet (no caso foi o Capital One), apliquei e, para minha surpresa, CONSEGUI! Sim, consegui um cartão de crédito (detalhe, também secured) com um limite de US$350!!!!!!!!!! Sim, exorbitantes Trezentos e Cinquenta Dólares !!!!! Nem quando era universitária no Brasil e não trabalhava tive um limite tão baixo!
O jeito foi usar o cartão todo mês para pequenas compras. As dicas que recebi foram que você nunca deve usar todo o seu limite de crédito, deve sempre pagar em dia, e preferencialmente pagar toda a sua fatura antes do vencimento.
Após alguns meses como este limite exorbitante, eu apliquei para um cartão na Bloomingdale’s. Cartões das lojas de departamentos são uns dos mais fáceis de se conseguir, então também é um bom início. Consegui com um limite bem baixo, mas ao menos já tinha outro item no meu credit history.
Mas não pense que ter muitos cartões é melhor. As empresas que lidam com o credit history levam em consideração quantos cartões que você tem e também há quanto tempo você os tem.
Outro dica para construir seu credit history é financiar seu carro. Muitas das revendas de veículos vendem até mesmo se você estiver com seu nome mais sujo do que pau de galinheiro. O risco deles é maior, assim como a taxa de juros que cobram. Mas você pode quitar a dívida nos primeiros meses e isto vai entrar para o seu credit history de forma positiva.
Nos primeiros meses eu não me contive e apliquei para outro cartão, e fui rejeitada novamente. Só me restou me contentar com meus US$ 350 de limite por uns meses. E nem acreditei quando, alguns meses depois, apliquei para um cartão do Chase e recebi o dito cujo em casa, com um limite bem mais gordinho!!!
Hoje, depois de 2 anos morando aqui, a história é outra. Nossa vida está estabelecida e toda semana recebo de 3 a 4 propostas pré-aprovadas de cartões de crédito pelo correio. Mas leva-se um tempo para se construir um credit history e o início pode ser bem difícil!
19 Comments
Adorei seu texto Monica… muito interessante como é tão diferente o crédito financeiro de um lugar para outro… aqui ganhei uma conta bancária e cartão com crédito superior ao meu salário ehehehheeh… Gostei muito da sua forma descontraída de falar do assunto… Parabéns…
Oi Ju, obrigada!! pois eh, nunca achei que depois de tantos anos, eu teria que passer por isso! Credito menor do que quando era universitaria, um vexame! hehe
Monica Bateman, aqui no Brasil são 20:53h do dia 7 de julho e veja, de 2018.
Sim, 2018!
Lendo artigos sobre visto americano e afins, encontrei esse material na Internet e, diga-se de passagem, bem construído. Assim, não pensei duas vezes para fazer essa pergunta para vc agora, e nunca a fiz para ninguém pois nunca passei por situação semelhante.
Tenho 62 anos, era Analista Químico de Petróleo da Petrobrás aqui no Brasil, me aposentei e tenho tudo que preciso…Graças a Deus (Amém!).
Visito os Estados Unidos e Europa desde 1999 e nunca tive nenhum problema, de nenhuma natureza.
Acontece que, quando estávamos em Miami em 2017, eu e esposa, Miami teve aquele problema do Furação Irma e diante desse quadro o hotel achou conveniente que todos saíssem dali(na Collins). Assim fizemos e fomos para Orlando no Hotel Day’s Inn, e lá, acabamos dando ouvidos para uma determinada pessoa (brasileiro) que propôs que nós assistíssemos a uma palestra num Hotel com café da manhã gratuito e tudo mais.
Caí na armadilha…depois de tantos anos de estrada.
Assinei um contrato de TimeShare que é um tempo de uso compartilhado em Hotel de 1a. qualidade no mundo inteiro e, verdadeiramente, o é.
Depois que havíamos assinado o contrato de TimeShare no valor de 38 mil dólares é que nos foi dito que só se poderia cancelar após 7 ou 10 dias.
Assim sendo, e haja vista, que teria 10 anos para pagar penso em não mais efetuar os pagamentos, ficando dessa forma negativado nos Estados Unidos.
Então, vc saberia me informar se esse “score”, digamos, “negativo” pode fazer com que meu visto não seja mais renovado sendo que ele vence em 2021?.
Para finalizar, nunca pretendi ou pretendo morar em USA e nem preciso de financiamento para casa, até porque eu estava, de fato, comprando um apartamento em Miami sem financiamento.
Em suma, gostaria tão somente, de continuar voltando vez ou outra para USA bem como para outros Países.
Se tiver a resposta, fico-lhe grata e, se não, tb agradeço e desculpe por ter feito vc ler este texto. Se ainda mora em USA que seja cada dia mais feliz junto com seus familiares.
Abcs
Oi Monica, aqui na Inglaterra eh exatamente a mesma coisa, como voce sabe. No inicio ate que voce faca o teu nome ter algum link eh complicado e leva tempo, mas, ha sempre maneiras como as lojas, que voce mencinou, e comecar com credito baixo. Depois de anos, eh mesmo como voce disse, as ofertas nao param…o dificil eh nao gastar 🙂 bj
Oi Ann….sabe que nao tive problema algum ai em Londres….abri conta em banco, cartao de credito veio logo, sem problemas. Aqui achei a coisa muito mais complicada!
Bj
Aqui no Mexico é igualzinho. Só agora que já completamos 2 anos aqui as coisas melhoraram. Parabéns pelo texto. Informações valiosas para quem está se mudando a outro Pais. bjs
Muito bom!!!
Oi Monica! Acho um inferno pedir cartão de crédito em qualquer país!!! Pedi na Irlanda – inferno para chegar. Quis pedir nas Filipinas, mas as exigências são tantas que desisti!!! Hehe! Parece que a coisa nos EUA é ainda pior! 😉 OK, entendo que os bancos precisem saber se somos confiáveis ou não, mas se tenho emprego (e recebo pelo banco), não consigo entender o motivo pelo qual meu crédito não pode ser aprovado!!!
Ótimo texto! É legal saber que os EUA não são somente a terra do consumo, mas tem um reasoning behind the madness (or before it…)!
Beijos
Muito bacana o texto, Monica. Dicas super importantes para quem pensa em se mudar para os EUA com a ilusao do consumo imediato. x F
Eu nao tive nenhum problema, entao logo me empolguei e comecei a aplicar para todos os cartoes que me ofereciam e ai vieram os gastos. JAh paguei todos e agora soh uso um e pago ao dia, senao vc se enforca com os juros.
Entao acho melhor assim comecar pouco a pouco.
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Adorei seu texto. É isso mesmo que acontece. Acredite, já tenho quase 9 anos de EUA e até agora sofro com esse tal de credit history. Tudo tem o nome do meu marido como principal e eu como dependente dele. Recebo mais de 4 convites para cartão de crédito pelo correio por semana, todas em meu nome. O engraçado é que cada carta da mesmo sendo da mesma companhia coloca meu nome de forma diferente, como se fosse 3 pessoas diferentes. Tentei fazer um de companhia aérea, já que recebo as cartas de oferecimento e mesmo assim sou recusada. Tentei fazer vários cartões nas lojas, sempre sou barrada. Depois de mais ou menos 4 tentativas na Macys, consegui um com o valor bem baixo, consegui no mesmo dia ganhar os descontos na loja, pois o objetivo dos vendedores é esse. Você vai lá comprar alguma coisa e te oferencem abrir um cartão para poder nos dá descontos. Falarão que eu iria receber o cartão em casa, até hoje ele não chegou kkkkkkk Tenho conta em um banco só com o meu nome há mais de 4 anos, tentei fazer o cartão, mas uma vez fui barrada e a gerente americana da minha conta, nem pra me ajudar, não dava dica de nada, só me mandava fazer cartão de crédito de posto de gasolina. Até que um outro dia, já que minha gerente não estava no banco, fui atendida por uma funcionária da América do Sul, e que ficou com pena de mim, resolveu me ajudar. Ela disse, se você depositar uma boa quantia na sua conta, tentaremos um cartão pra você, mas pra isso teria que esperar três meses para fazer, pois eu havia acado de ser recusada, para variar kkkkk. Então, voltei no banco três meses depois, depositei a bendita quantia, que não era baixa, e finalmente recebi meu primeiro cartão de crédito só com o meu nome, o valor do crédito baixo, mas já é alguma coisa. E isso tudo porque eu já possuo vários cartões de crédito como dependente do meu marido. Se você é dependente de alguém, isso não conta nada para o seu crédito. Tem que ser tudo no seu nome. Fica a dica. Desculpa pela resposta longa kkkkkk, Bjs,
Maggie, é realmente o parto da montanha. Muito dificil no inicio. Mas é isso, limite bem baixo no inicio para poder “criar uma history”!, Obrigada pelas dicas dadas ao leitores!
Oi Monica
Estive em Los Angeles no final do ano passado e fiz um plano pré pago na Sprint de 1 mês. Agora estou recebendo e-mails dizendo que devo para eles e que colocarão meu nome nesse credit history. A única coisa que eles possuem é meu e-mail, endereço de onde me hospedava na data e nome pois não paguei com cartão de crédito e sim com dinheiro. Será que tem algum problema se eu não pagar? Afinal não devo nada de verdade.
Fabiana, sugiro que voce entre em contato com a Sprint, por telefone ou por email, e explique o mal entendido. Nao sei ao certo o que eles fazem neste caso, mas ja ouvi casos de pessoas que foram multadas durante a vistia, nao pagaram a multa e depois tiveram problemas na imigracao, quando retornaram. Enfim, melhor resolver o problema pois com acesso onde voce se hospedou eles podem ter acesso a dados como passaporte, etc. O link de contato eh este: https://mysprint.sprint.com/mysprint/jsp/landingPage/contactus.jsp, voce pode inclusive falar atraves do chat. Boa sorte!
Oi Monica! Meu marido é cidadão americano e estamos planejando ir morar nos EUA em breve. Ele tem uma proposta de trabalho em andamento, mas nada concreto ainda. Como ele tem uma conta nos EUA com endereço dos EUA, estava pensando em pedir um cartão de crédito (e pagar algumas coisas com ele aí) para ir construindo o histórico. Eu sei que já faz tempo, mas vc se lembra se quando aplicou para o Capital One eles pediram comprovante de renda? Você se lembra qual cartão da CO vc pediu? Grata, Angeline
Olá. A Monica deixou a colaboração do blog. Procure textos de nossas outras colunistas nos EUA para redirecionar sua pergunta. Obrigada
Edição BPM