Tive o prazer de entrevistar duas brasileiras de talento que estão invadindo o mercado norte-americano com um dos doces mais queridos pelos brasileiros, o brigadeiro. Silvia Aronson e Pietra Diwan são sócias da Samba Gourmet, e nesta entrevista vocês irão saber um pouco sobre a trajetória delas, além dos desafios de trazer ao mercado norte-americano um produto completamente novo.
Fale um pouco sobre vocês:
Silvia: Eu cursei faculdade de Relações Públicas no Brasil e decidi me mudar para os EUA por um ano para aperfeiçoar meu inglês e por consequência, obter melhores oportunidades de emprego no Brasil. Durante o meu primeiro ano aqui, comecei a trabalhar na rede de franquias da “Au Bon Pain – The Bakery Cafe”, como gerente administrativa. A rede possuía três lojas na época, e hoje tem mais de 20 lojas operantes no Sul da Flórida. Essa jornada na Au Bon Pain, me proporcionou adquirir grande experiência para empreender, abrir negócios nos EUA e entender sobre todos os trâmites administrativos relacionados a “small businesses” na Flórida. A partir daí, dar início e administrar a Samba Gourmet foi uma jornada difícil no principio, porém muito interessante. Os desafios diários de ser uma pessoa bem sucedida e empreendedora em um país do exterior são os grandes motivadores para seguir caminhando e subindo a escada da vida. Desde o inicio eu acreditei no produto, e sempre, desde o primeiro dia, senti que o nosso brigadeiro iria ser o produto estrangeiro mais famoso e desejado por todos os americanos.
Pietra: Antes de me mudar para os Estados Unidos, eu trabalhava há mais de 10 anos no Brasil como pesquisadora e editora de imagens com diversas editoras de revistas e livros didáticos. Sou formada em História com mestrado na mesma área pela PUC/SP. Tinha uma carreira bem estabelecida quando me mudei para Miami em 2007. A razão: meu marido foi transferido e eu vim, grávida de sete meses. Aqui, após o nascimento da minha filha em 2007 mesmo, comecei a procurar uma maneira de me manter trabalhando apesar da barreira do idioma. Comecei a dar aulas de português para executivos e a fazer freelancers em projetos grandes para editoras no Brasil, como Folha de São Paulo e O Estado de Sao Paulo. Silvia e eu nos encontramos no processo de rompimento da minha primeira tentativa há três anos – com outra sócia – de abrir uma empresa de doces. Silvia adorou a ideia imediatamente e, desde então nos complementamos em todos os aspectos do negócio.
Como é a Samba Gourmet em termos de produção, funcionários, distribuição?
Começamos pequeno, cozinhando em casa. Depois alugamos um espaço numa cozinha comercial e há um ano estamos num espaço de 280m2. Temos duas funcionárias e alguns temporários para momentos de alta na produção. Distribuímos de diversas maneiras: por intermédio de distribuidoras ou empresas de food-service.
Como é ter sua empresa fora do Brasil, e vendendo um produto típico brasileiro?
Silvia: os desafios de vender um produto estrangeiro, totalmente desconhecido no mercado são infinitos. O que está a nosso favor é o fato da surpresa do consumidor. Ele nunca sabe o que esperar – e sempre arregala os olhos e solta um suspiro de satisfação depois da primeira mordida. Temos um alto grau de satisfação do consumidor – quase 100% “try & buy” (experimentam & compram). O lado negativo é ter que fazer campanhas de “tasting” , investir constantemente fundos com marketing para podermos superar a barreira do desconhecido.
Pietra: O fato de morar fora do Brasil foi crucial na escolha do produto e na concepção dessa empresa. Talvez pela saudade, ou pela vontade de se sentir pertencente ao Brasil, sempre optei em trabalhar aqui com coisas relacionadas as minhas raízes. O desafio é trabalhar num mercado totalmente novo, educando as pessoas sobre esse doce divino que é o brigadeiro. Os americanos estão se apaixonando pelo doce ícone do Brasil!
Vocês acham que teriam tido as mesmas oportunidades estando no Brasil?
Silvia: Os EUA sempre foram o país da oportunidade. Os benefícios de um sistema econômico sólido sempre contam a favor quando se abre uma empresa do zero. Aqui, a paixão, o suor e a dedicação contam muito quando se está iniciando um empreendimento. As portas tendem a se abrir automaticamente.
Pietra: Essa questão é interessante. Quando eu morava no Brasil o processo para abrir uma empresa era super burocrático. Acho que é até hoje, com a diferença de que o poder de consumo dos brasileiros aumentou imensamente. Já nos Estados Unidos, para abrir uma empresa é muito fácil. Só é preciso ter claro que o pagamento de imposto é sagrado. Mas você abre uma empresa de um dia para outro, da mesma maneira como fecha.
Vocês fizeram cursos para se iniciarem como empreendedoras?
Silvia: Sim, durante meus 15 anos de EUA eu ja fiz vários cursos de Quickbooks, contabilidade básica e administração financeira (“bookkeeping”), cursos de fotografia profissional e excelência em Photoshop.
Pietra: Fiz diversos cursos. How to Open a Small Business, Quickbooks, Photoshop e inúmeros cursos de cozinha. Adoro aprender. Quando vejo um curso que me interessa tento encontrar uma maneira de aplicar esse conhecimento no negócio.
Quais foram as barreiras que vocês enfrentaram no início da Samba Gourmet?
Silvia: A principal barreira foi trazer para um mercado estrangeiro um produto desconhecido.
Pietra: Diversas barreiras, mas a principal delas é conhecer o mercado com que estamos trabalhando. Como estrangeiros não sabemos exatamente quem é o nosso público. Então, encontrar um caminho de comunicação efetivo para atrair a atenção para o seu produto (que ninguém conhece) é um desafio muito grande. Na verdade, essa já não é mais uma barreira, mas é um desafio constante.
É verdade que vocês venderão brigadeiros no canal QVC? Como vocês irão vender brigadeiro pela TV? E quando poderemos assistí-las?
A nossa relação com o QVC foi feita através de um processo longo e muito difícil. QVC recebe centenas de ofertas de novos produtos e o nosso foi escolhido. Nos sentimos honradas e hiper felizes. Criamos um produto especial para o QVC, que inclui uma caixa com 36 brigadeiros, com três bandejas de sabores diferentes. Sabemos que nós iremos vender o brasileiríssimo brigadeiro em princípios de outubro. A distribuição será nacional. Então todos os brasileiros com vontade de comer brigadeiro e os americanos dispostos a provar algo totalmente novo ao paladar deles, terão essa oportunidade.
Quais conselhos práticos vocês dão a alguém que queira abrir uma empresa nos EUA?
Silvia: Nao tenha medo. Nem tudo é tão complicado quanto parece. O sistema aqui é extremamente inteligente e funcional, e fazendo tudo corretamente, as portas se abrem. Tenha paixão de sobra para aguentar os desafios e confie no seu produto. Tente se rodear das pessoas certas. Ter uma pessoa para dividir as alegrias, tristezas e incertezas é essencial para o desenvolvimento da empresa.
Pietra: Se você tem um sonho, pense, pense e repense. Depois, dê um passo de cada vez. Espere o tempo das coisas. É preciso muita dedicação. Muita! Há dias que você quer largar tudo, mas persista. Se seu produto for bom, feito com dedicação e atenção aos detalhes – pois o mercado é extremamente exigente – vai dar certo. Além disso, o fator sorte é essencial. A sorte pode acelerar as coisas. Última coisa, mas não menos importante: não tenha medo de se expor ou de começar pequeno.
Deixem uma mensagem para os leitores do Brasileiras pelo Mundo:
Silvia: Tudo é possível. Nao é fácil se estabelecer e brilhar em um país que nao fala a sua língua. Mas com força e muita coragem, o mundo fica pequeno embaixo dos seus pés.
Pietra: Sonhe. Faça o que te faz feliz. Persista, e leve a vida como se ela fosse o brigadeiro mais gostoso que você já comeu!
Fotos: Silvia Aronson/Samba Gourmet
3 Comments
Sem dúvida, uma história deliciosa.
Que lindas!! Uma lição de vida. Abraços, Mônica!
Parabens 2 guerreiras!Sucesso Sempre ! Vencer é sonhar sempre!Pietra mamis te ama minha linda!