Nos EUA tudo gira em torno de marketing
Quando passamos a morar em outro país, passamos também a enxergá-lo com mais profundidade, longe da superficialidade encantada do olhar de turista. Isso aconteceu comigo e minha família, no país desejo de milhares de pessoas pelo mundo: Estados Unidos da América.
Eu gostaria de ser mais romântica e afirmar para vocês que tudo aqui é lindo e funciona perfeitamente, infelizmente não é verdade, aliás, acho ingenuidade pensarmos que existe esse reino encantado em algum cantinho do planeta.
Assim que chegamos de mala e cuia, tomamos um choque de cidadania, que desconhecíamos no nosso país. Infelizmente no Brasil as coisas são tão disfuncionais, que assim que aterrissamos por aqui e lidamos com o funcionamento de algumas coisas, percebemos o quanto nossa terrinha ainda está aquém do equilíbrio social.
Porém, a rotina e o desgaste do dia a dia, nos faz perceber que por aqui também existem rachaduras sob a superfície aparentemente perfeita.
Vamos lá! Os Estados Unidos deveria ganhar o prêmio de primeiríssimo lugar do mundo em marketing! Como assim marketing?
Segue abaixo a definição, desse termo inglês, que não tem tradução na nossa língua portuguesa:
Marketing
Resultado de dicionário para marketing
/’mɑɹkɪtɪŋ/
substantivo masculino
MARKETING
- estratégia empresarial de otimização de lucros por meio da adequação da produção e oferta de mercadorias ou serviços às necessidades e preferências dos consumidores, recorrendo a pesquisas de mercado, design, campanhas publicitárias, atendimentos pós-venda etc.
- o conjunto dessas atividades; composto de marketing.
- conjunto de ações, estrategicamente formuladas, que visam influenciar o público quanto a determinada ideia, instituição, marca, pessoa, produto, serviço etc.
(Fonte: Dicionário Google)
Absolutamente TUDO gira em torno de marketing na terra do Tio Sam. Eles foram os descobridores dessa ferramenta poderosíssima de influenciar e lucrar em cima de desejos e vidas alheias, criando necessidades e oferecendo soluções, e sobretudo vendendo globo afora, a ideia de perfeição.
Até as relações cotidianas, como entre vizinhos, é pautada pelo marketing. Todo mundo, parece vender, o tempo inteiro, a ideia de vida perfeita. Vários bairros e desenvolvimentos urbanos são metodicamente planejados, os famosos “subúrbios” – grande paixão nacional, que parecerem cenários. Casas simetricamente construídas, com janelas e portas iguaizinhas, jardins manicurados e ruas arborizadas. Um sonho não?
Carros poderosos nas garagens e filhos sorridentes caminhando para a escola pública. De fato é assim, na grande maioria do país. Mas essa “perfeição” toda leva à uma certa monotonia, uma falta de personalidade e sobretudo à uma superficialidade, que sufoca pessoas como eu, que costumam divagar até sobre as asas das borboletas…
Muda o cenário e vamos às cidades. As coisas parecem mais naturais. Casas e prédios divergem um pouco mais, assim como a população. Para mim foi um grande alívio, poder respirar esses ares de diversidade. Porém o marketing continua lá. Em cada ação cotidiana, em cada conversa à toa na porta da escola, em cada reunião com colegas de trabalho.
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Meu marido e eu costumamos comentar, como sempre parece que estamos em um filme, onde cada fala e ação é previamente pensada.
Nós brasileiros, somos os campeões do improviso, da impulsividade, das decisões de último minuto. Vejam bem, sou ciente que esse comportamento do nosso país é danoso em muitas situações. Já aqui, o extremo oposto é fato! A espontaneidade não é o forte dos nossos amigos gringos. E isso rege a vida em todas as suas esferas. Costumava creditar esse comportamento à uma forte herança cultural, mas creio que o buraco é mais embaixo. Nos Estados Unidos, a população vive e respira devido a ações de marketing.
Um exemplo: estações do ano são vendidas! Como assim? Mal acabam os dias de março e flores de plástico, cafés com sabor de “cherry blossom”, decorações em tonalidades pinks, etc, etc. invadem todos os lugares por onde você passa. É a primavera que chegou, ainda que você esteja tremendo de frio sob a neve! O mesmo se dá com o verão, o outono e o inverno. Nada me irrita mais, do que nos dias finais de agosto, com o termômetro ainda batendo nos 30 graus Celsius e começamos a ser soterrados por propagandas de casacos flanelados, botas castanhas, cappuccino com sabor de mapple e tudo alaranjado. Querem nos empurrar o outono goela abaixo.
Pode parecer exagero, mas isso influencia comportamentos. A onda verde sustentável é a grande moda da atualidade. Para ser “cool”, até empresas como MacDonald e Walmart têm investido nesse segmento. Porém, ao contrário do que deveria ser, o objetivo nunca é a diminuição do consumo, mas sim fazer com que esse pareça “mais” consciente e engajado em boas causas.
Quando se trata de marketing direto e claro, como propagandas e panfletos, eu chego a ficar horrorizada! Diariamente minha caixa de correio é entupida com as mais variadas ofertas. Meu telefone celular, toca ao menos 5 vezes por dia, só com ações de telemarketing. Isso sem falar na enormidade de outdoors que poluem visualmente as grandes cidades. Hello Broadway!
A ideia em tudo e em todos os lugares é: consuma para ser feliz, para ser alguém, para atingir o sucesso, para se espiritualizar, etc. Claro que isso é a lógica do capitalismo e no Brasil essa também é a tônica da vida cotidiana. Mas aqui, se ganha o Oscar disparado de país do marketing.
Inevitavelmente, tudo isso acaba expandindo suas consequências para a vida pessoal e os comportamentos e relações são movidos por esse prisma.
O antídoto? Ser atento! Não deixar que dirijam as suas necessidades – na medida do possível – pois creio que é uma tarefa quase impossível. Consumir com sabedoria, se educar, se informar e ficar ciente de suas reais necessidades. Auto-conhecimento, sempre!
Creio eu, que nesse momento histórico em que vivemos, com tudo pautado no ter e pior, no “parecer ter ” para ser feliz, é preciso que se dê um passo para trás.
Principalmente para àqueles que estão criando as crianças das próximas gerações. Nosso planeta, nosso futuro e principalmente nossa sanidade mental e moral, agradecem!
Mais autenticidade e menos marketing!
Até a próxima.