Experimente o outono suíço como um local: Kürbisfest e Herbstmesse.
Quando outubro desponta, ele transforma bastante o cenário e começa a deixar a Suíça, de fato, com cara de Suíça: os dias se tornam mais curtos; a luminosidade cede espaço a um cinza azulado; a temperatura vai se acomodando entre os 16°C e 7°C; as folhas das árvores se alternam entre amarelo, marrom e vermelho até se desprenderem e rolarem aos montes até o chão; os casacos leves e gorros começam a circular pelas ruas… E, então, você se indaga: “O que vem pela frente? Halloween, certo?”. Sim e não. É mais aconselhável não se entusiasmar com esta festa pagã na terra do fondue, entretanto, existem opções mais típicas se você quiser se sentir como um local.
Em 2017, o jornal Le Matin realizou uma pesquisa para descobrir o que os suíços pensavam sobre o Halloween e, em geral, para a maioria dos entrevistados o Halloween ainda é visto como uma importação cultural indesejada – 71% dos que responderam ao questionário disseram, inclusive, que esta comemoração tem apelo mercadológico, ou seja, está fortemente impulsionada pelos comerciantes; 76% dos interrogados afirmaram que não fazem nada de especial neste dia; e apenas 20% comentaram que usariam fantasia naquela ocasião. Enfim, a pesquisa evidencia que esta celebração não tem muito espaço na Suíça (72% dos entrevistados concordaram categoricamente com essa afirmação).
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No imaginário suíço, o Halloween não passa de um momento em que algumas crianças, sedentas por açúcar, têm a oportunidade de abusarem das pinturas faciais e da diversão com as lanternas feitas de abóboras (jack’o lanterns), além de poderem gritar ao redor do bairro com os amigos, em busca de uma profusão de açúcar refinado.
Mas, e então? Outubro passa em branco na Suíça? Não! O outono gira em torno de um vegetal: a abóbora. Você já ouviu falar numa expressão chamada de “cultura maluca da abóbora” (pumpkin crazy culture)? Para se ter uma ideia dessa sensação, a abóbora já passou a ser considerada o “novo bacon” nesse entusiasmo outonal que se espalha pelo hemisfério norte. Essas expressões explicam muito do que eu tenho visto por aqui; a começar pelo café expresso aromatizado com abóbora (que não é uma invenção Suíça), passando pelas gôndolas dos mercados e das feiras abarrotadas de abóboras das mais variadas formas e cores, chegando às inúmeras receitas doces e salgadas que levam essa iguaria até terminar na decoração das casas e jardins.
O que não deveria passar desapercebido nessa estrondosa ascensão da abóbora é que ela, por si só, não é uma comida muito apetitosa, é uma fruta densa e fibrosa que requer muito açúcar e/ou especiarias antes de se tornar especialmente saborosa. Como uma ferramenta de marketing, no entanto, a abóbora é perfeita para os glutões saudáveis da atualidade, pois os seus benefícios são consagrados: tem baixa caloria, aumenta a saciedade, possui baixo índice glicêmico. Esse alimento ganha até conotações virtuosas, pois quando você pensa em abóbora vem à cabeça a imagem de algo cultivado e saudável, o que acaba tornando a indulgência do açúcar e tempero até permissíveis. Enfim, o outono não é somente associado à queda das folhas, tem também a cultura da abóbora, que aqui na Suíça supera em muito as aterrorizantes lanternas jack-o e as celebrações do Halloween.
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Mas, reflexões à parte, a onipresença nostálgica da abóbora e do outono são fatos da vida suíça. E, para se sentir um local, nada melhor do que experimentar dois eventos na região de Basel: Kürbisfest e Herbstmesse.
O Festival da Abóbora (Kürbisfest) ocorre na fazenda Mathis-Hof, em Bottmingen (região de Baselland). O evento, que dura apenas um final de semana, é bem popular na região de Basel e conta com uma feira repleta de inúmeras variedades de abóboras e múltiplas decorações feitas dessa iguaria. No local também é possível provar a sopa de abóbora e gengibre, o sorvete de abóbora, além das famosas salsichas. Para as crianças, existe um parquinho e o Maislabyrinth (labirinto de milho), que é realmente construído em meio à plantação de milho. Veja aqui as fotos do labirinto tiradas do alto.
Como prova de que a cultura da abóbora está em vários lugares na Suíça recomendo a leitura do post já publicado no BMP chamado “Halloween na Suíça – Jucker Farm e a tradição das abóboras”, que conta a experiência de uma outra fazenda que também costuma ser a sensação desta época do ano.
A Herbstmesse é uma das feiras de outono (autumn fair) mais antigas da Europa, diz a lenda que: era uma vez um prefeito de Basel que decidiu viajar até Roma para visitar o Papa Pio II, ele faria alguns pedidos a Sua Santidade e, dentre eles, estariam a permissão para fundar uma universidade e a autorização para realizar uma festança anual. Em seguida, o Papa fez uma carta de recomendações ao Imperador Frederick III, e as reivindicações foram atendidas alguns anos mais tarde: a University of Basel foi criada em 1460, e a feira de outono se iniciou em 1471. Em suma: uma festa mais antiga do que a própria descoberta da América (de 1492), e que atrai mais de um milhão de visitantes, que gastam em média 75 francos por pessoa entre diversões, lembrancinhas, comidas e bebidas.
Em 2018, a 548° edição da Herbstmesse se iniciará em 27 de outubro e se encerrará em 11 de novembro. Normalmente, a feira ocorre ao mesmo tempo em diversos lugares espalhados pela cidade de Basel: Barfüsserplatz, Peterplatz, Münsterplatz, Messeplatz, Rosental, Claraplatz e Kaserne; e os horários de funcionamento, em geral, são das 12:00hs às 23:00hs (mas, podem haver variações, por isso é melhor checar antes de sair de casa). Em cada uma dessas praças são montados pequenos parques de diversão para as crianças – alguns bem tradicionais como a roda gigante, em Münsterplatz; a torre giratória, em Messeplatz; ou o polvo gigante, em Barfüsserplatz – e em outros pontos são organizadas feirinhas com peças de artesanatos, cerâmicas, bijouterias, como em Peterplatz, quando já é até possível se antecipar para comprar presentes de Natal. Veja aqui as principais atrações e luzes dessa feira.
Espalhados também pela Herbstmesse encontram-se os quiosques com comidas típicas para aquecer os finais de tarde outonais como raclette (queijo derretido), flammkürchen (ou também conhecida como tarte flambée na região da Alsácia, que se assemelha a uma pizza de massa bem fina com cobertura de creme de leite, bacon e cebola), crepes recheados e bratwurst (salsichas). E existem também as iguarias doces tradicionais dessa feira e também da região: mässmogge (doce açucarado com recheio de avelã), magenbrot (biscoito doce que se assemelha ao gingerbread), beggeschmutz (creme doce coberto por chocolate e povilhado com coco) e, Basler Läckerli (um biscoito à base de mel, avelãs, amêndoas, kirsch, e com açúcar salpicado, cuja tradução aproximada seria “Delicinha de Basel”).
As famílias com filhos pequenos já devem se preparar com sapatos confortáveis, pois a diversão da criançada é exatamente percorrer as diversas praças no mesmo dia. As distâncias entre esses locais não é muito grande, pode ser percorrida à pé – principalmente entre Barfüsserplatz, Münterplatz e Peterplatz, ou – se o cansaço bater – pode-se pegar o bonde. Durante o dia não há a magia das luzes dos brinquedos que se refletem em todos os cantos mas, ao menos, a festa é um pouco mais vazia. Não perca a cidade de Basel vista do alto da roda gigante, pois este é um dos cartões postais da região.
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meu sonho sempre foi conhecer a suíça