Quais seriam as opções para as pessoas vegetarianas ou veganas na Suíça? Sem dúvida, se fosse para se fazer uma associação rápida, a imagem da Suíça estaria muito mais ligada aos laticínios e aos produtos de origem animal… Isso não é apenas por causa da cultura das vacas que, com seus sinos no pescoço, descem e sobem as montanhas todos os anos, mas também pela tradição de queijos e do chocolate que derrete na boca, que leva manteiga (melt-in-the mouth chocolate). Dessa forma, os pratos mais clássicos da Suíça – como o fondue de queijo e o raclette – não são notáveis pelo seu veganismo. Talvez, na lista das receitas típicas do país, em termos de veganismo, o Rösti possa vir a ser uma opção, desde que se escolha uma receita que não conte com manteiga, nem venha coberta com ovos, queijo e um tipo de creme de leite (sour cream) e também não seja acompanhada de linguiças. E para os ovo-lacto vegetarianos, como opção para o café da manhã e o brunch, existiria o Birchermüesli – composto por salada de frutas, cereais e iogurte, uma receita do Dr. Maximilian Bircher-Benner, que data dos anos 1900.
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Ainda assim, as notícias são bem animadoras e a Suíça foi, recentemente, considerada o “berço vegetariano da Europa” pelo site de comparações The Eco Experts. Neste estudo, que visava medir o nível de ‘simpatia’ vegetariana de um país, foram analisados três itens, em 26 países: o número de restaurantes vegetarianos (ou com cardápio “vegetarian friendly”), o consumo anual de carne por pessoa e a média do preço de 1 kg de carne. E, segundo este estudo, a Suíça foi oficialmente considerada o epicentro europeu do vegetarianismo, pois o país possui a maior densidade de restaurantes vegetarianos na Europa, com 165,94 estabelecimentos a cada 100.000 pessoas. De igual modo, no quesito de quantidade de carne consumida ao ano, a população suíça também ocupou a oitava posição com a menor quantidade (com apenas 74,7 kg por pessoa, ao ano). Além do que, contribui também o fato de que o país tem um custo de vida infinitamente maior do que muitos outros lugares, por isso não é surpresa que a pesquisa tenha apontado que a Suíça tem a carne mais cara da Europa. E, curiosamente, o site The Eco Experts chega a dizer que os vegetarianos na Suíça economizam, em média, 31,64 francos suíços por cada quilo de carne que deixam de comer.
Com essa premiação honrosa, que envolve um grande número de restaurantes vegetarian friendly, então, você poderia se perguntar: afinal, com o preço da carne nas alturas, a maioria da população do país é vegetariana? Eu diria que, nem tanto. Em 2017, a Veggie Survey apontou que apenas 14% dos suíços são vegetarianos ou veganos (mais precisamente: 11% vegetarianos, 3% veganos). Entretanto, 17% da população se considera como um flexitariano, ou seja, pratica o vegetarianismo alguns dias da semana e, em períodos alternados, consome carne em sua dieta. Somados, esses números demonstram que aproximadamente um terço da população (31%) estaria consciente acerca de uma dieta sem carne ou com menos carne, ao passo em que 69% da população ingere regularmente carne vermelha e/ou carne branca e seus derivados, ainda que em menor quantidade se comparado à outros países da Europa.
Com isso, não é desprezível a grande oferta de produtos orgânicos ou bio em redes de supermercados do país, bem como de comidas prontas vegetarianas e veganas. Por exemplo, a rede de supermercados Coop tem a sua linha de sortimentos chamada Karma, e no Migros pode-se encontrar a linha dos produtos Alnatura. Tanto em Zurique quanto em Berna existem unidades da Eva’s Apples, uma loja de produtos veganos, que também vende online. E, outra opção para compras online é na Fabulous, que se autonomeia “o shopping vegano da Suíça”.
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Quanto aos restaurantes, o destaque fica por conta do Hilt, que foi fundado em Zurique, no ano de 1898, e está no livro do Guiness como sendo o restaurante vegetariano mais antigo do mundo, e que até hoje continua sendo comandado pela mesma família já estando na sua quarta geração. Tradicionalmente, além do próprio restaurante no sistema de buffet self service, o Hilt também vende produtos vegetarianos e oferece aulas de culinária. Eu conheci o Hilt numa experiência muito legal pois, no verão existem os restaurantes da estação que são abertos ao redor do lago de Zurique; e após um banho de sol e de água doce, o Hilt em Mythenquai, por exemplo, combina alimentação saudável e apetitosa com uma vista belissíma e preços razoáveis para o padrão da Suíça.
Outra opção seria o Tibits, que é uma cadeia de restaurantes vegetarianos com uma certa inspiração na culinária asiática, e que por isso conta com pratos temperados com várias especiarias e tipos de pimenta, todos muito coloridos e saborosos. O Tibits funciona como se fosse um buffet self-service por quilo e tem tanto pratos quentes quanto frios, bem como sobremesas, sucos e cafés. O que mais me encanta nesse restaurante é a sua atmosfera leve e acolhedora de todas as tribos, nacionalidades e idades. Outros dois pontos louváveis são que – pelo menos em Basel – o Tibits tem um espaço kids, o que é bem raro nos restaurantes suíços e deve ser bastante valorizado; e a cozinha do restaurante não fecha entre o almoço e o jantar, assim, se você estiver pensando em fazer aquele almoço após às 14h ou jantar após às 20h, o Tibits realmente é uma ótima opção, pois a grande parte dos restaurantes na Suíça geralmente fecha mais cedo. Além de Basel, eu já estive também no Tibits em Berna (que fica dentro da estação de trem) e a qualidade da comida e a variedade é a mesma, bem como o astral do restaurante é bastante aconchegante.
Se a preferência for pelos sanduíches e saladas, minha sugestão é o B.Good, que tem unidades tanto em Basel quanto em Zurique, e cujo próprio estabelecimento diz oferecer comida com “raízes”, ou seja, cultivadas com sustentabilidade e com parceira com produtores locais, aproveitando para incluir no cardápio os legumes e saladas conforme a época da respectiva colheita.
Além desses restaurantes especializados, é muito comum que os demais restaurantes coloquem em seus cardápios pratos vegetarianos como, por exemplo, o Vapiano, que é famoso por suas massas e pizzas; e o Zic Zac, que tem um menu bem variado entre saladas, massas e sanduíches e pratos bem fartos.