Enquanto você está aí no Brasil dançando quadrilha, comendo canjica e mandando correio do amor para o coleguinha, eu estou aqui curtindo o verão europeu. Calma. Eu estou na Bélgica. Então se você imaginou o mar Mediterrâneo, as ilhas gregas, pode “desimaginar”. Aqui, em julho, teve dias que fez 12 graus. E eu ainda estou usando casaquinhos. Ou seja, aqui tem verão, mas é um verãozinho miúdo, minguado, caidinho… Chove muito por essas bandas. O guarda-chuva é seu amigo de todas as horas. Porém, depois de um tempo por aqui, você percebe que mesmo que o verão não seja quente como o nosso, a vida muda completamente nessa época. Bruxelas parece outra cidade, os belgas parecem outras pessoas, existe uma energia boa e positiva no ar. Começam a temporada de churrasco com os amigos, os piqueniques no parque e os festivais de música. E é sobre eles que eu vou falar nesse post. Preparem-se porque é um post puxa-saco-amo-a-Bélgica. Julguem-me outra vez.
No final de junho e início de julho começam os festivais em toda Europa. Na Inglaterra, por exemplo, tem o famoso Glastonbury, um fantástico mundo mágico, uma espécie de Woodstock moderna. Lá, as pessoas vão fantasiadas de maneira muito livre. Quanto mais criativo, melhor. Além de muita música, os participantes fazem atividades artísticas e workshops. Não fui, mas está na lista de desejos. Já aqui na Bélgica, existem vários desses festivais. Acho inclusive que a Bélgica é famosa na Europa por ser uma terra que sabe organizar esse tipo de evento. Já ouviram falar da Tomorrowland, o maior e mais famoso festival de música eletrônica do mundo? Então, esse que teve em São Paulo no ano passado, pois então, é belga. Mais um elemento para a interminável lista de que tudo é belga. Até tentei comprar entradas para ir esse ano, mas mesmo me organizando com mais 10 amigos para isso, não conseguimos. Enfim, outra coisa pra aquela lista infinita de desejos.
Só que nem tudo está perdido, senhoras e senhores, porque consegui comprar para o festival Rock Werchter, o maior festival de música do país. Muito maior que a Tomorrowland, porém não tão famoso internacionalmente, é outro estilo, mais “old school”, típico e bem clássico festival de rock europeu. Falam em 80 mil pessoas participando dos 4 dias de evento, que acontece desde a década de setenta numa fazenda, literalmente com vaquinhas e cheiro de estrume, em uma cidadezinha minúscula que emprestou o nome ao festival, Werchter, que tem quase 3.500 habitantes e fica perto da cidade de Leuven, a 30 km de Bruxelas.
Galocha e capa de chuva, bloqueador solar e roupa preparada para a lama é o look indicado. Porque vai chover, mas pode fazer sol, mas pode fazer calor, mas pode fazer frio. Com o tempo você se acostuma com essa variação climática. Dizem.
Cultura do camping
Europeu tem a cultura do camping, ou acampamento, que nós não temos, ou temos muito pouco. Em todos esses festivais, a maioria das pessoas ficam em campings localizados ao lado do evento. É a opção mais barata e, dizem, a mais divertida. É organizado, com banheiro e chuveiro e os equipamentos não são tão caros como no Brasil. Uma barraca boa custa 20 euros, por exemplo. Ainda não tive essa experiência, mas no ônibus voltando do festival, vi os abraços apertados das pessoas que se conheceram no camping. E é o que dizem mesmo: muitas amizades, pra não dizer amores, começam aí. Será que o amor sobe o “camping”?
Então, vocês devem estar imaginando que só tem gente muito jovem ou adolescentes. Sinto informar que também fiquei surpresa com a quantidade de famílias e casais lá pelos seus 50, 60 e até 70 anos curtindo o festival. Sabe por quê? Porque as coisas aqui são organizadas, tem banheiro com papel higiênico, Brasil! Sempre. Tem mil opções de comidas e bebidas e qualidade nas coisas; isso para não falar na qualidade do som, imagem e pontualidade dos shows.
Podemos falar de reciclagem? Uma das coisas mais sensacionais que existem por aqui: yes, nós temos reciclagem! Com essa multidão de gente, como resolver a questão do lixo? Primeiro, um saco de lixo a cada 30 metros ao longo do caminho até o festival. Eu fiquei impressionada. Juro que era literalmente a cada 30 metros. E dentro do festival existia a maravilhosa, sensacional, salve-salve, troca de 20 copos de cerveja ou garrafinhas de plástico por uma ficha de bebida! Sim, é isso mesmo. Antes de entrar você recebia um saquinho plástico para colocar seu lixo dentro e poder trocá-lo por fichas de bebidas. Não é sensacional? E como não é todo mundo que quer segurar seu próprio lixo, você tem a opção de juntar copos de outros. Tem gente que passa o festival inteiro, bebendo e comendo grátis por conta disso. Claro que eu entrei na onda, troquei copos e bebi altas cervejinhas belgas por conta! Está na hora de rever conceitos, né?
E para fechar, poderia escrever por horas sobre essa experiência, falemos de custos. É barato? Não. Mas se pararmos pra pensar, quanto custariam os mesmos shows no Brasil? Tenho certeza que acabaria ficando muito mais caro. A entrada inclui o bilhete de trem de Bruxelas para Leuven, e de Leuven para o festival há milhares de ônibus saindo e voltando toda hora. Você não chega a esperar mais que 10 minutos. E aí eu te pergunto: qual é o preço de cantar com Paul McCartney, lembrar-se da adolescência com Red Hot Chilli Pepers, colocar aquele “#eufui #eutava” no show do legendário Robert Plant? Tudo isso em uma atmosfera de amizade, felicidade e muita, muita cerveja belga.
P.S. – Deu vontadezinha de vir ano que vem? Dá uma olhada no site do Rock Werchter.
3 Comments
Que delicia de texto! leve e solto. facil de encantar-nos
Olá, Marcela!
Que massa o seu relato sobre o festival. Eu estou indo pra Europa pela primeira vez no próximo verão, acabei de descobrir esse festival. Na época dele eu estarei em Amsterdam, meu último destino. Terei um dia inteiro livre lá e estou pensando, por que não um bate e volta pra esse festival? Na sexta-feira o line-up terão 3 bandas que curto MUITO. Então estou considerando seriamente essa possibilidade.
Porém, tenho que me organizar bastante pra chegar até lá, essa “brincadeira” vai ficar um pouco cara mas acho que poderá ser uma experiência incrível.
Você citou que o ingresso te dá o transporte de Bruxelas até o festival, como funciona? Porque aí eu só teria que comprar o transporte Amsterdam/Bruxelas, e já ajudaria hehe.
Desde já agradeço!
Péterson Carvalho
Olá Péterson,
A Marcela Vitarelli parou de colaborar conosco, mas temos outras colunistas na Bélgica que talvez possam te ajudar.
Você pode entrar em contato com elas deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM