Festivais de verão no Japão.
Estamos em pleno verão, o sol castigando o país. O verão japonês é um dos elementos que mais me deixou assustada logo que cheguei ao Japão.
Os japoneses até hoje me questionam: “Mas o Brasil não é um país tropical?”
Sim, tropical, minha gente, mas lá temos ar e conseguimos respirar! O verão japonês é marcado por altas temperaturas e alta umidade, o que nos faz suar muito e leva centenas, milhares de pessoas para a emergência dos hospitais, vítimas de hipertermia.
As pessoas sofrem do tal netsuchusho熱中症 (hipertermia), não apenas quando expostas ao sol. Muitos são os casos de pessoas que chegam a morrer dentro de casa, cujas vitímas principais são os idosos que vivem sozinhos. É triste, pois muitos não possuem ar condicionado. Quando possuem, não ligam o aparelho por simples esquecimento ou por economia, devido à baixa renda, fato comum entre muitos aposentados, então acabam desmaiando dentro de casa e na falta de alguém para socorrê-los, vão a óbito.
Devido ao país ser altamente industrializado, ao meu ver, parece um pequeno inferno nessa época do ano! Que o digam os operários das metalúrgicas e os que trabalham expostos ao sol (construção civil, manutenção de linhas de trem, etc.). Outro caso que eu realmente acho um absurdo são os estudantes serem obrigados a praticar esportes – principalmente o beisebol – nos horários mais quentes do dia como se fosse um treino de resistência, resultando em internações de emergência e eventualmente, mais mortes. Muitas vezes, as escolas simplesmente emitem uma nota de pesar e ponto. Não vou comentar isso neste artigo, mas deixá-lo para um outro post!
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O mês de junho até o começo de julho é marcado pela época de chuvas aqui conhecida como tsuyu. Em seguida, começa o calor (pense em uma sauna) e logo a temporada de tufões que se entende até setembro. Eu sei que o cenário aqui descrito por mim parece uma catástrofe, mas depende, pois tem muita gente que curte esse clima de churrascaria humana e lotam piscinas, praias, montanhas e parques.
No verão temos as férias escolares – quase dois longos meses – porém os alunos que praticam algum esporte não estão isentos dos treinos que continuam regularmente. Em agosto temos um dos 3 principais feriados do país, o Obon Yassumi (finados). Seguindo a crença budista, essa é a época do ano em que os ancestrais voltam para visitar seus entes queridos. Os japoneses colocam uma espécie da lâmpada nas portas das casas para sinalizar e guiar seus ancestrais até o local e depois, ao final do feriado, colocam também esses tipos de lâmpadas em rios e praias para iluminar o caminho de volta dos ancestrais ao mundo dos espíritos.
Do mesmo modo como fazem no Brasil, as pessoas visitam os túmulos, lavando-os e colocando flores e incensos. Aqui, novamente devido a suas crenças, alimentos são colocados não só no cemitério, mas também nos altares mantidos em casa. Vários festivais, Matsuri祭り, comemoram a volta dos ancestrais com danças típicas como o bon dori. Época de festivais de verão e de fogos de artifício, o Hanabi花火 é uma das atrações que atrai multidões todos os anos pela beleza dos desenhos projetados no céu, além de outro fator cultural, pois, diz a lenda que os fogos eram usados para afastar os maus espíritos. Se você tem boa resistência e não tem problemas com o calor, é uma ótima estação para visitar o país, que nesta época tem uma agenda repleta de eventos.
Durante os festivais de verão as pessoas aproveitam para vestir seus trajes tradicionais, como o yukata (versão light do quimono). Além das danças e as várias barraquinhas com comidas típicas como o queridinho yakisoba e o takoyaki (espécie de bolinhos assados e recheados com pedacinhos de polvo), acontece uma procissão budista onde é carregado o mikoshi (palanquim) que só sai do templo nessa época do ano. Os japoneses ficam incrivelmente alegres durante esses festivais, talvez pelo efeito do excesso de cerveja consumido devido ao calor. Além, é claro, da comilança (eta povo que adora comer!), acho que foi aqui que nasceu aquela expressão, magro de ruim! Brincadeiras à parte, isso pode ser mesmo a genética aliada ao chá verde. Enfim, os festivais de verão têm um jeitinho de festa junina oriental.
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Cada cidade tem uma data para o evento. Os Matsuri, basicamente a grande maioria, ocorre no mês de julho, e tem em média duração de 2 dias, normalmente, sábado e domingo.
Alguns cuidados que eu recomendo durante o verão no país se referem primeiramente às praias: muita atenção mesmo que esteja dentro da linha de segurança, pois as marés de retorno e os buracos mar adentro pegam qualquer banhista de surpresa, digo isso por experiência própria! Nos rios, cuidado com a correnteza que pode se tornar, repentinamente, mais rápida. Caso o tempo indique chuva, melhor evitar o passeio. No mais, aproveite a beleza das cores dos festivais e as delícias vendidas nas barraquinhas.
2 Comments
Oi Alessandra!
Eu amooooooooooo comer… E amo takoyaki… E manju – o de Miyajima é fantástico – e todas as comidas japos…
Achei que o festival mais importante era o do princípio de maio, com o dia dos meninos, etc… Mas é curioso!
Amei o Japão! E vou voltar!
Poxa que pena ter perdido essa oportunidade de ti encontrar por aqui mas, com certeza haverá outras! Takoyaki e manju vejo que você tem mesmo o paladar oriental, o Obon yassumi acabou semana passada agora entramos na estação de tufões, você veio e foi em boa hora! Um abraço e até a próxima!