Grandes festivais de cinema sempre chamaram a minha atenção, desde que era pequena. Talvez fosse toda a ideia de glamour envolta no tapete vermelho ou a simples ideia de participar de um evento que parecesse exclusivo, festivais como Cannes e Berlim sempre fizeram parte do meu imaginário. E, por isso, quando voltei para a Europa, tinha decidido que uma das coisas que faria quando me estabilizasse seria ir, um dia, ao Festival de cinema de San Sebastián.
Para quem desconhece, o Festival de San Sebastian – ou Donostia Zinelmadia, como é chamado em basco – é um dos maiores festivais de cinema internacional do mundo: é um dos 14 festivais classificados como categoria “A”, a mais alta segundo a Federación Internacional de Asociaciones de Productores Cinematográficos (FIAPF) e é tão importante para o cinema quanto seriam os Festivais de Cannes e Berlim. Classificado como um festival competitivo de cinema, por suas telas estrearam filmes como “Um Corpo Que Cai” (Vertigo), de Hitchcock, e “Melinda & Melinda”, de Woody Allen, ademais de ter impulsionado carreiras de diretores de prestígio, como Francis Ford Coppola e Pedro Almodovar. Em poucas palavras, para quem gosta do mundo do cinema, esse é um dos festivais para se frequentar.
A cidade anfitriã do festival tem o mesmo nome e é linda. Localizada junto ao mar Cantábrico, no País Basco, Donostia/San Sebastián tem uma população de menos de 200 mil pessoas e, durante a semana do festival, borbulha com a presença de estudantes de comunicação e cinema, com jornalistas do mundo inteiro e com diretores e atores, tanto os de renome quanto aqueles que esperam a fama, além de curiosos e amantes de cinema.
Esse ano, o festival foi palco da estreia mundial de “Regressão” (Regression), o mais recente thriller psicológico de Alejandro Amenabar, o diretor de “Os Outros”. A estreia desse filme na Sessão Oficial marcou a abertura da 63ª Edição do Festival que exibiu mais de 200 filmes dividido em diversas categorias nos seus 7 dias.
A verdade é que é preciso um pouco de planejamento para aproveitar o festival. Embora muitas das sessões estejam reservadas para jornalistas e estudantes credenciados, há muitos filmes que estão disponíveis para o público geral. O problema é que pela fama que tem o festival, os ingressos dirigidos para o público geral tendem a se esgotar com semanas de antecedência: eu mesma queria assistir a um filme taiwanês de artes marciais chamado taiwanês Nie Yinniang (The Assassin, em inglês) e não pude porque estava esgotado.
Os filmes apresentados no festival estão divididos por sessões, das que se destacam a “Oficial”, com estreias mundiais de filmes que podem optar por concorrer a Concha de Ouro, o grande prêmio do festival, “Perlas”, que conta com filmes inéditos na Espanha e podem concorrer ao Prêmio do Público, “Horizontes Latinos”, que conta com produções latino-americanas dirigidas por cineastas latinos ou de grande influência nas comunidades latinas ao redor do mundo que concorrem ao Prêmio Horizontes e o “Nuev@s Director@s”, com produções de novos diretores do cinema e que concorrem ao Prêmio Kutxa-Nuev@s Director@s.
A cidade que respira a sétima arte durante essa semana vira palco de discussões sobre o último filme exibido ou o que virá. Diretores e atores – novos ou já renomados – circulam nas festas organizadas durante o festival e assim fazem seus contatos. As pessoas não tão envolvidas nesse mundo também se divertem e, entre pintxos e txacolí, a próxima sessão, discutindo nos bares sobre a fotografia de um filme que recém assistiram ou as apostas para aquele que será o ganhador do Concha de Ouro, a premiação máxima do festival.
Aliás, abro parênteses em todo o tema do festival: pintxos são os aperitivos típicos do País Basco e são vendidas por unidades; txacolí é um vinho típico da região. Tradicionalmente, se costuma buscar o bar com a maior quantidade de papéis no chão e pedir alguns pintxos e algo para beber, seja txacolí, tinto de verano ou a simples cerveja. Para mim, no entanto, ir de bar em bar provando diferentes tipos de pintxos é algo que deve ser feito não somente durante essa semana, no intervalo de um filme a outro, mas também por qualquer pessoa que visite a região. Afinal, a gastronomia da cidade é reconhecida mundialmente: a cidade tem 14 estrelas Michelin, mas se come bem em qualquer bar de pintxos espalhados pela cidade que oferecem não somente iguarias tradicionais, como huevos rellenos ou pintxo de tortilla de patatas, mas também criações locais, como a incrível magdalena de chorizo que tive a oportunidade de provar.
Fechando os parênteses gastronômicos e de volta ao tapete vermelho, o grande vencedor da Concha de Ouro desse ano foi o filme islandês/dinamarquês/croata “Sparrows”, que conta a história de um menino que se muda da capital Reykjavík para o interior da Islândia e tem que lidar com um pai que não via há anos e antigos amigos de infância.
A verdade é que a cidade tem muito que oferecer e, entre filmes, pintxos e txacolí, opções de entretenimento não faltarão para o amante da sétima arte que decidir visitar San Sebastián nessa época… Bem, em qualquer época de qualquer ano, para ser sincera!
E, como se diria em basco, eskerrik asko! Muito obrigada!