Maio é o mês das mães no Brasil e em diversos outros países. Na Finlândia o dia das mães também é comemorado no segundo domingo de maio. Por conta disso e movida pela empolgação de celebrá-lo como mãe pela primeira vez este ano, vou compartilhar com vocês um pouco de minha experiência pessoal neste país, que depois de três anos consecutivos liderando o ranking mundial como o melhor país para ser mãe, perdeu este ano uma posição para o vizinho Noruega, por uma diferença estatística mínima (para ver o ranking clique aqui e vá para página 9).
Ao descobrir estar grávida, o primeiro passo é ligar para o departamento de planejamento familiar do centro de saúde de sua municipalidade e marcar a primeira consulta com a neuvola, uma profissional especializada em controle pré e pós natal, que irá monitorar a gestação, tirar suas dúvidas e passar informações importantes. Ela também acompanhará o desenvolvimento de sua criança até os 5 anos de idade e administrará todas as vacinas.
Até a 29ª semana de gestação, as consultas são mensais. Da 30 ª até a 36 ª, duas vezes por mês. A partir da 37 ª até o nascimento do bebê, no mínimo uma vez por semana, podendo ser mais, dependendo da necessidade.
Durante as consultas é feito um exame de urina, o monitoramento dos batimentos cardíacos do bebê e de sua posição, das dimensões da barriga, peso e pressão da gestante. A consulta dura em média uma hora e todos os sintomas são discutidos. No caso de alguma anormalidade, a mãe é encaminhada a um médico especialista.
Todo este serviço é 100% gratuito, estando inclusos também dois check ups médicos, duas ultrassonografias, todos os exames necessários, inclusive os testes cromossômicos opcionais, o parto e todos os exames pós-parto.
A primeira ultra é feita entre a 10 ª e a 14 ª semana de gestação. Neste primeiro exame identifica-se o número de fetos e se estão vivos e normais. É possível calcular com melhor precisão o tempo da gravidez e a data do nascimento do bebê. Para quem opta pelos testes cromossômicos, uma série de exames são feitos entre a 9 ª e a 10 ª semana e a ultra é feita na 12 ª semana.
A segunda ultra é feita entre a 18 ª e a 21 ª semana. Nela, os pais que desejarem poderão saber o sexo do bebê. São feitos também exames para detectar a possibilidade de anomalias estruturais na formação do feto.
A não ser em casos de emergência, não há necessidade de mais ultras. Caso a gestante queira fazer por opção, deverá procurar uma clínica privada.
A dois meses da data prevista para o nascimento do bebê, a gestante poderá requerer o äitiyspakkaus (pacote-maternidade). Uma caixa com um enxoval completo, totalmente gratuito. O único pré-requisito para o seu recebimento é ter comparecido a todas as consultas pré-natais. Caso não queira a caixa, a mãe pode optar por receber 140 euros. Veja aqui os ítens do pacote-maternidade.
Na 24 ª semana é hora de escolher o método do parto. A cultura local prioriza o parto normal. Apesar da cesária ser uma opção, ela normalmente só é feita em casos de necessidade específica. A mãe pode optar também pelo parto natural (sem anestesia), neste caso, é possível ter o bebê em casa.
Eu escolhi parto normal no hospital. Respeito a escolha das mães que preferem ter o bebê em casa mas, no meu caso, preferi minimizar qualquer possibilidade de problemas, pois cada minuto é crucial no caso de complicações.
Com 39 semanas e três dias, meu filho nasceu. Acordei pela manhã e percebi que estava vazando um pouco de água. Ligamos para o hospital. Como moramos perto, fomos instruídos a ir quando as contrações estivessem acontecendo a cada 5 minutos, ou no máximo até 4 horas depois de a bolsa estourar, se não houvesse contrações. Há um número de telefone pelo qual todo o processo pode ser monitorado. Meu filho estava com tanta pressa de vir ao mundo que minha bolsa estourou às 12:30, às 13:15 minhas contrações já estavam acontecendo a cada 5 minutos, às 14:00 eu já estava com 4cm de dilatação, tarde demais para anestesia. O parto foi natural e às 16:30 meu bebê estava em meus braços, 100% saudável.
A equipe médica é formada apenas pela parteira e por um médico. Se tudo ocorrer normalmente e sem problemas, o médico só participa da fase final. No meu caso, ela chegou na última meia-hora.
Na Finlândia as parteiras são enfermeiras que após 4 anos de faculdade, fazem mais um ano e meio de especialização. Minha experiência foi muito boa. Apesar da dor que eu jamais esquecerei, me senti muito apoiada e segura.
No hospital
A cultura finlandesa presa pela independência. 45 minutos depois do parto, fui tomar banho sozinha e quando voltei, meu filhote estava “empacotadinho” num moisés com rodinhas esperando por mim, para irmos para o quarto. Uma enfermeira me mostrou onde estavam as coisas, me deu algumas dicas sobre posições para amamentar, ensinou a mim e a meu marido a trocar fralda e limpar o bebê e pronto.
No hospital tudo fica disponível em prateleiras: fraldas, camisolas, roupas de cama, toalhas, calcinhas descartáveis, absorventes, você não precisa usar nada seu.
Infelizmente, por conta do número de nascimentos no mesmo dia, não conseguimos um quarto familiar, tive que dividir com outra moça. Das 8:00 às 21:00, no entanto, o pai pode fazer companhia. O bebê fica com você o tempo todo e o moisés com rodinhas serve para que você possa carregá-lo para onde for enquanto estiver só.
Os dias em que você fica no hospital são pagos. A diária custa 32 euros, o dobro no caso de quarto familiar, com direito a tudo o que mencionei no parágrafo anterior e três refeições. No refeitório o tempo inteiro há algo para lanchar, caso você sinta fome entre as refeições. Também há uma sala de estar com televisão para as pacientes.
No dia seguinte ao nascimento o bebê tem sua primeira consulta com o pediatra e na mãe é feito um exame pós-parto. Se estiver tudo ok, ambos recebem alta no dia seguinte pela manhã. No meu caso, tive que ficar um dia mais, pois meu filho teve uma queda de peso que o deixou com um pouco menos de 3kg (ele nasceu com 3,3kg). Isso pode acontecer com qualquer bebê, mas na Finlândia eles tendem a não liberar se o peso for menor do que 3kg.
Licença-maternidade
Início: no mínimo 50, no máximo 30 dias antes da data marcada para o nascimento. Caso tenha profissão considerada perigosa para o bebê, o médico determina o início. Durante todo o período o dinheiro recebido pela mãe é pago pelo governo.
Ela é dividida em três fases:
1- Äityisloma (licença-materninadade oficial):
– Duração: 105 dias-úteis.
– Valor a ser recebido pela mãe: aproximadamente 70% do valor médio de sua renda. O valor mínimo pago é de 24,02 euros por dia, de segunda a sábado, para o caso de mães desempregadas ou estudantes.
2- Vanhempainvapaan (opcional e pode ser tirada tanto pela mãe quanto pelo pai ou ser dividida entre os dois)
– Duração: até 158 dias úteis
– Valor a ser recebido: o mesmo que a primeira fase.
3- Kotihoito (também opcional e pode ser dividido entre o pai e a mãe).
Duração: o tempo que os pais quiserem até a criança completar 3 anos de idade.
Valor a ser recebido: varia de acordo com a quantidade de crianças até três anos que a família tiver. A média recebida é 342,43 euros por mês, para famílias com apenas uma criança até 3 anos.
Toda criança até os 17 anos de idade recebe 94 euros por mês de ajuda de custo do governo.
Até os 17 anos, nenhum serviço de saúde ou educação é pago.
17 Comments
Relato perfeito e claro 🙂
Filha querida;
Adoro sua forma de relatar os fatos é objetiva, sintética e simples para que todos entendam. Acho prazeroso ler seus textos. Parabéns mais uma vez.
Beijos,
Mams.
Ótimo texto. Acrescento apenas que no período de acompanhamento pré – natal , há uma aula com fisioterapeuta para obter dicas de como fortalecer os músculos pélvicos, consulta odontológica, e um curso de preparação de pais. Também é possível agendar uma visita ao hospital de escolha, onde irá ser o parto.
Parabéns pelo lindo bebê!
Obrigada pelo acréscimo! Eu não fiz nenhum dos cursos porque tinha muito trabalho na época e os horários não eram bons para mim. Como eu já conhecia o hospital, também não fui na apresentação do espaço. Como temos limites de caracteres em nossos textos e eu já havia ultrapassado muito com o meu, não escrevi sobre a parte que não experimentei. Obrigada mesmo! Abraços
Hyvää iltaa. Estou tentando aprender o finlandês por conta própria, mas estou encontrando muitas dificuldades, em especial com aquela gramática mais pesada (adverb, pronomini, yhdessä ja verbintaivutusvirheitä estão sendo as principais dificuldades). Para piorar, minha compreensão oral está horrível. Como fino-brasileira, você teria dicas para me dar de como aprimorar o aprendizado do meu finlandês? Técnicas de estudo, memorização ou pronúncia, sites com bom conteúdo (Duolingo, Livemocha, Babbel, estes eu já conheço)? Vale a pena eu tentar aula particular ou curso?
Olá Matheus!
Finlandês é uma língua muito complexa, eu não acredito mesmo que seja possível adquirir fluência estudando por conta própria. Há diversos detalhes e casos que não possuem nenhuma conexão com outros idiomas, sem alguém para te ajudar a compreender isso, você nunca vai entender a lógica da língua.
A prática oral também é crucial para o prendizado de qualquer idioma.
Eu nunca usei nenhum site para aprender finlandês, por isso não sei te indicar nada. Acho que se você realmente tem vontade de aprender, deveria procurar um professor particular. Esta é a minha opinião, espero que te ajude a decidir. Obrigada pelo comentário, um abraço!
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Realmente seus textos são claros e tiram quaisquer dúvidas e medos que possamos ter! Sou brasileira também e me casarei com um finlandês mês que vem. Nossa primeira residência será em Helsinki e estou cheia de dúvidas, medos e incertezas. Muito obrigada por esclarecer tão bem algumas questões que são tão permeadas de preconceitos e opiniões.
Parabéns pelo neném!
Muito obrigada!
Abs.,
Luisa
Olá Luisa,
Muito obrigada por seu comentário. Fico muito feliz em saber que meus textos ajudam. Este é meu objetivo principal quando escolho o tema a ser tratado. A questão da maternidade realmente é de extrema importância. Meu próximo texto, a ser publicado ainda em janeiro deste ano, falará sobre a volta ao trabalho depois da licença. Acho que pode ser interessante para voc~e também. Um abraço
Mayla,
Esses direitos à maternidade ( atendimento hospitalar , exames ) são para qualquer pessoa com residência na Finlândia ? Com social secutity number ? Ou precisa ser casada com finlandês e ter o kela card ? Grata, SAbrina
Sabrina,
O Kela card é o seu social security number. Você não tem que ser casada com um finlandês para ter o social security number, mas tem que ter sua residêcia permanente adquirida dentro das regras da imigração. Para saber se você tem direito ao cartão você precisa se informar no KELA. Sem o KELA card você não tem os benefícios. Abs.
Oi Maila, tudo bem? Sou jornalista e gostaria muito de entrevistá-la para uma matéria sobre as caixas para bebês, mandei uma mensagem para você no Face. Aguardo sua resposta. Obrigada. Abraços.
Olá Melissa, será um prazer conversar com você. Não recebi nenhuma mensagem sua no Face. Será que você poderia me enviar um e-mail de contato? Obrigada
Em primeiro lugar, parabéns pela publicação, me tirou quase todas as dúvidas! Especialmente sobre as consultas e ultras.
Estou noiva de um finlandês, estou me mudando semana que vem, e para a nossa surpresa, o nosso bebê está a caminho!
No início fiquei muito preocupada, porque eu ainda moro em Dublin e achei muito estranho a primeira consulta ser a partir da 12 semana.
Mas a minha dúvida é: quais os exames de sangue que serão necessários ?
Olá Vitória,
Primeiramente, parabéns pelo bebê!
Quanto a primeira ultra, se você quiser fazer antes por conta própria, num consultório particular, pode fazer sem problemas. A gratuita, paga pelo governo é feita próximo ao fim do pimeiro trimestre para minimizar as despesas, considerando as estatísticas de que a maior parte das mulheres que perdem o bebê perdem neste período. Também porque uma ultra antes disso só serve para mostrar se o feto está vivo. A partir da 12 semana outras coisas como o teste cromossômico, a medida do pescoço, tudo isso já pode ser feito durante a ultra, minimizando os gastos para o governo.
Não sei o nome do exame de sangue que fiz, mas é um exame cujo resultado é cruzado com os resultados da medição do diâmetro do pescoço do feto, para que se possa estimar as probabilidades da Síndrome de Down. Este teste não é oferecido gratuitamente a todas as mulheres, somente às que têm idade superior a 35 anos de idade. Eu engravidei aos 37.
No sistema particular, no entanto, você pode fazer todos os exames que quiser.
Quanto aos seus direitos exatos, peça ao seu noivo para ir ao KELA e ter certeza se você terá direito ao cartão de seguro social, que dá direito ao atendimento médico gratuito, antes de se casar. E diga para ele perguntar também, antes de você chegar aqui, qual o período de carência para você ter todos os direitos. Caso você tenha seguro particular, aconselho você a mantê-lo, pois acho que você irá precisar. Boa sorte e um abraço.
Gostei muito, obrigado por este conhecimento.
De nada! Obrigada pelo comentário!