Dessa vez o BPM vai entrevistar a Vanessa Moulin Lopes, ela é fisioterapeuta brasileira na China, de Goiânia, e mora no país desde 2013.
Sua mudança para este país foi para acompanhar o marido. Porém quando ela havia decidido levar a sério a vida de esposa expatriada, bateu na sua porta uma chance de desenrolar seu diploma desse lado do mundo, algo que no inicio a deixou meio assustada. Será?
Superar os limites é algo que acompanha todas as brasileiras pelo mundo que tem nos dado seus depoimentos, e esta moça de sorriso iluminado, cheia de vontade de crescer e ajudar as pessoas a viverem melhor conquistou seu lugar ao sol no Oriente.
BPM: Como tem sido a sua trajetória profissional?
Vanessa: Minha formação como fisioterapeuta se deu em 2008, pela Universidade Católica de Goiás, hoje PUC. Após o término do curso, mudei para Belo Horizonte, onde cursei a pós graduação em Gerontologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Em 2009 realizei o curso de formação em Reeducação Postural Global (RPG) e em 2012, em pilates. No inicio da carreira fui sócia em uma clínica em Belo Horizonte e trabalhei no interior de Minas Gerais. Com isso ganhei experiência em diversas áreas da fisioterapia, pois atendia um publico bem variado, de bebês a idosos com diagnósticos diversos, de pós cirúrgico a dores lombares, além da fisioterapia convencional, pilates e RPG. Em 2013 mudei para a China, assumindo que iria largar a carreira por um tempo, mas as oportunidades surgem sem que possamos prever. Em 2014 comecei a trabalhar em uma clínica internacional em Xangai, onde trabalho até hoje. O processo de contratação após as entrevistas ocorreu de maneira tranquila, somente precisando da tradução juramentada do diploma e das especializações/pós graduação e a carta de recomendação que comprovasse minha experiência anterior, que tinha que ser de no mínimo 3 anos.
BPM: Você fez faculdade ou algum outro curso específico na China?
Vanessa: Na China ainda não, até porque a fisioterapia é algo novo por aqui.
BPM: Como é a sua rotina? A que horas começa a trabalhar e qual é a sua carga horária?
Vanessa: Trabalho de segunda a sábado em duas cidades diferentes: Xangai, onde moro, e três vezes na semana atendo em Suzhou que fica uma hora e meia de carro de Xangai. A carga horária é de 8 horas, mas como varia a demanda dos agendamentos, algumas vezes é possível ter uma flexibilidade.
BPM: Quais as diferenças da sua profissão entre o Brasil e o a China?
Vanessa: Como disse no inicio, a fisioterapia é algo novo na China. Em se tratando de tratamentos alternativos, a Medicina Tradicional Chinesa (TCM) com suas técnicas de acupuntura, mocha, etc é muito forte e não poderia ser diferente, o que gera a falta de conhecimento sobre a real função da fisioterapia; porém como eu trabalho em uma clínica internacional, com profissionais da saúde de várias nacionalidades, a importância da fisioterapia dentro do processo de reabilitação e prevenção é algo conhecido e aceito.
BPM: Que cursos você recomendaria para as brasileiras que queiram ingressar na mesma profissão e seguirem carreira na China?
Vanessa: Além da formação básica de fisioterapeuta, o foco em uma área específica é importante, como ortopedia, por exemplo. Quanto mais experiência e domínio da sua especialização tiver, melhor. Aqui não é um lugar para buscar formação e aperfeiçoamento. Uma outra peculiaridade da vida profissional na China, em especial dentro de um hospital internacional, é a pluralidade de idiomas. Na realidade, o mandarim neste ambiente seria um ‘plus’, mas não é necessário. Já o inglês é obrigatório e quanto mais idiomas o profissional dominar, melhor: espanhol, alemão, francês. O fator é que as pessoas, na hora de uma enfermidade, ao se consultarem com um especialista se sentem mais confortáveis em falar seu próprio idioma.
BPM: Qual a média de salários para uma pessoa iniciante e já no topo da carreira?
Vanessa: O salário vai depender do contrato que o profissional negocia com a clínica. Mas com certeza o salário oferecido na China, principalmente nos hospitais e clínicas internacionais (que atendem os estrangeiros também) é muito mais atrativo do que no Brasil. Uma sessão de fisioterapia pode variar entre RMB 500 a RMB 1800, que fica em torno de 250 a 800 reais, dependendo do caso e da experiência do profissional.
BPM: Como é trabalhar na sua área, em outra língua, sendo mulher na China? Você sente alguma espécie de discriminação?
Vanessa: Ser mulher e trabalhar como fisioterapeuta na China nunca atrapalhou minha carreira. A discriminação, em se tratando de profissionais de saúde, não é comum. Há muitas mulheres trabalhando em diversas áreas dentro dos hospitais, inclusive em cargos de liderança de equipe.
BPM: Qual seria o aspecto mais positivo e o negativo de ser fisioterapeuta, na China?
Vanessa: O aspecto positivo é o financeiro, sem sombra de dúvidas, e a oportunidade de ter em minha sala pessoas de várias nacionalidades e culturas diferentes. Quando eu paro para pensar que estou tratando gente do Nepal, Austrália, Itália, Japão, às vezes no mesmo dia, é algo emocionante. O aspecto negativo é não ter acesso fácil a cursos de aprimoramento voltados para essa área, assim como mestrado e doutorado e até mesmo congressos de fisioterapia. Se quiser me aprimorar tenho que buscar em outro país. Mas isso pode mudar.
BPM: Você acha que teria as mesmas chances na carreira se estivesse no Brasil, ou o fato de estar na China lhe proporciona mais opções profissionais?
Vanessa: No Brasil, desde que me formei trabalhei na minha área. E acredito que estaria nela até hoje, pois amo muito o que faço. Só que tenho consciência que não estaria ganhando nada próximo do que ganho na China. A valorização do profissional de saúde aqui está infinitamente à frente da que temos no Brasil, mesmo para início de carreira. Este é um fator decisivo para continuar aqui: trabalhar no que gosto, ser respeitada, reconhecida profissionalmente e remunerada adequadamente pelo meu trabalho.
10 Comments
Que legal seu blog!
Estou sempre procurando conhecer e entender esse povo e sua cultura.
Trabalho no Brasil em empresa chinesa e tenho amigos chineses. São desconfiados inicialmente, mas depois da confiança adquirida mutuamente, tornam- se grandes amigos. Aprendo diariamente com eles e são gratos por terem pessoas que os ajude a também entender nossa cultura. Estou entusiasmada com a ideia de visitar esse pais milenar…
Continue nos inteirando…
Yǒngbào
Olá Lucélia/ Yongbao!
Que bom que encontrou aqui bastante informação sobre esse país e cultura. Além de escrever aqui tenho ummblog pessoal onde só falo da China, se quiser conhecer também srá um prazer. O nome é ‘China na minha vida’.
E aqui, mensalmente eu coloco novos tópicos que mostram a China com meu olhar. Adoro desmistificar e mostrar para as pessoas um lado da China que poucos conhecem!
Abraço e continue nos acompanhando.
Christine,
Quanto ao ponto negativo que a Vanessa menciona, no sentido de não haver oferecimento de cursos de aperfeiçoamento na área dela, sugiro à ela procurar estudar outras técnicas chinesas que poderiam contribuir ou serem aliadas no tratamento de fisioterapia, a exemplo da acupuntura.
Beijos, Li.
Olá Li,
Obrigada pelo comentário, vou passar para a VAnessa. Mas acho que ela tem essa possibilidade em mente. Só que a referência que ela cita são de cursos de aperfeiçoamento diretamente ligados à especialização com que trabalha.
Abraço.
Adorei sua publicação! Tenho 18 anos e irei cursar Fisioterapia na Universidade Federal da Paraíba(UFPB). Antes mesmo de visitar o seu blog, já tinha em mente, trabalhar ou visitar à China por um longe período de tempo,mas não sabia que já existia o curso de Fisioterapia na China, além do mais, é bem mais valorizada do que no Brasil. Pretendo muito ir à China, atuar na área que eu optar e ser valorizada não apenas pelos chineses, mas por muitas pessoas de todo o mundo. Ajudou bastante, sucesso! Beijos
Olá MAriana,
Obrigada pelo comentário e visita ao BPM.
Vamos esclarecer duas coisas:
1. Não existe curso de fisioterapia, como no Brasil, na China. Aqui é possível se especializar em técnicas da medicina chinesa, como acupuntura, do-in entre outras, que ajudam muito no trabalho da fisioteria em muitos casos. Sou leiga, mas isso é o que a Vanessa me falou e outros conhecidos que tenho no Brasil que são medicos ou fisios e que gostam muito de usar a medicina chinesa como um ‘plus’, um tratamento que auxilia nos resultados.
2. A Vanessa veio para cá formada e com mais de 2 anos de experiência comprovada. Sem isso ela não conseguiria entrar no mercado aqui, num hospital internacional.
Então continue seus estudos, quem sabe você possa vir a China para fazer um curso de Medicina chinesa (existem alguns que duram 2 meses, ou até menos). Ou inicie sua carreira, tenha sua experiência comprovada para poder tentar uma vaga de trabalho aqui.
Mas de todo o jeito, visitar a China, mesmo como turista, será uma experiência inesquecível e produtiva para você.
Abraço e boa sorte!
não há necessidade de validar diploma?
Ola gostaria de fazer uma pergunta a Vanessa, tenho interesse de dar aula de pilates nos Estados unidos, gostaria saber se precisa ser fisioterapeuta, se se tem algumas dicas para me dar. obrigada
Ola!
Tambem sou fisioterapeuta e gostaria de saber sobre o campo da Fisioterapia Respiratoria na China.
Obrigada
Olá Isabella,
A Christine Marote, infelizmente parou de colaborar conosco.
Obrigada,
Edição BPM