Histórias de mulheres brasileiras na Nova Zelândia.
Através de meus artigos contando minha história aqui no BPM, tenho recebido muitas mensagens de mulheres que se sentem tocadas de alguma maneira. Como já disse anteriormente, sou muito curiosa e resolvi ir atrás de mulheres brasileiras, na faixa dos 50 anos, que também moram aqui na Nova Zelândia.
Tive a oportunidade de conhecer algumas dessas mulheres através de um bate papo muito prazeroso, que encheu meus ouvidos de alegria e admiração. Partilhar com vocês um pouco da trajetória destas mulheres, desvendará alguns medos, tabus e certamente abrirá os olhos para um mundo de novas oportunidades àquelas que possuem os mesmos sonhos. Para preservar suas identidades, não poderia se não dar à essas mulheres nomes de flores, como homenagem para celebrar tanta bravura, coragem, amor e determinação.
Rosa, 75 anos, formada em Filosofia, trabalhou como maquiadora profissional no Brasil. Está a 24 anos na Nova Zelândia.
Uma das mais antigas brasileiras moradora de Hamilton, migrou para Nova Zelândia em 1995. O motivo que a fez atravessar o mundo e vir morar aqui na “terra da grande nuvem branca” (como a Nova Zelândia é chamada) foi o mais sublime dos sentimentos – o Amor.
Sua história começou assim: Rosa tinha ido visitar sua filha na Austrália, numa viagem turística. Em um de seus passeios por lá, conheceu o homem que mudaria a sua vida, um carismático holandês residente na Nova Zelândia. Se corresponderam por um tempo, mas a distância não ajudava e, em 1995, permitindo-se viver esse grande amor e decidiu mudar para cá.
Desde então muita coisa mudou em sua vida. Rosa ficou viúva, venceu um câncer, descobriu novos talentos e encontrou um novo amor. Foram muitos desafios, mas eles vieram acompanhados de muitas alegrias também.
Ela teve a oportunidade de trabalhar com intérprete, motorista carregando turistas, organizou eventos e até hoje sempre encontra tempo para ajudar voluntariamente brasileiros recém chegados, ou mesmo refugiados nos centros de imigrantes.
Feliz, adaptada, corajosa, alegre, adora tomar café com as amigas e atualmente, só faz planos a curto prazo. Dona de uma energia contagiante, Rosa é uma daquelas pessoas especiais que demanda páginas e páginas para contar as suas maravilhosas experiencias, que tanto me enriqueceram .
Leia também: Como é ser mulher na Nova Zelândia
Margarida, 50 anos, formada em eventos. Há 3 meses na Nova Zelândia.
Margarida sempre teve um sonho, aprender inglês. Mesmo fazendo cursos no Brasil, sempre sonhou em fazer um intercâmbio. A oportunidade apareceu tarde, somente este ano, mas ela não se intimidou, agarrou e veio aqui realizar o tão esperado sonho.
Mas por que a Nova Zelândia, pais que Margarida mal tinha ouvido falar?
Ela participava de um grupo de troca cartões postais e fazem amizade pela internet. Através de um convite de um desses amigos que mora aqui, resolveu encarar o desafio, atravessar o oceano e mergulhar na tão sonhada língua.
Margarida morou em Tauranga, uma linda cidade praiana. Disse que viveu uma experiência única nestes três meses de estudante aqui na NZ.
Conheceu pessoas de muitas partes do mundo. Pode experenciar uma vida bem menos agitada e com muito mais segurança. Terminou seu intercâmbio em maio e voltou para o Brasil com um sentimento de felicidade por ter conhecido um país lindo, diverso, seguro e com um nível altíssimo de qualidade de vida. Viver essa nova experiência abriu seus olhos e hoje se considera uma nova mulher aberta para outras oportunidades que, com certeza, ainda virão.
Hortência, 57 anos, formada em Psicologia. 15 anos na Nova Zelândia.
O convite de se mudar para a Nova Zelândia surgiu através da filha mais velha, que depois de fazer um intercâmbio, se apaixonou pelo país e, algum tempo após voltar para o Brasil, decidiu que gostaria de viver aqui. Em seus planos ela incluiu a mãe, Hortência, e a irmã na bagagem.
Hortência decidiu encarar o desafio de vir morar num país tão distante com duas filhas (a menor com 10 anos), sem falar o idioma e nenhuma ideia do que iria enfrentar.
A primeira providência foi arranjar um emprego e, a exemplo de muitas pessoas que chegam num país sem poder se comunicar direito, Hortência foi trabalhar num bar, num café e depois num restaurante. Foi um tempo de muito aprendizado e novas experiências.
Autodidata ela aprendeu inglês ouvindo música, lendo livros, jornais e vendo TV. Nunca frequentou nenhum curso de inglês.
Assim se passaram 8 anos, se reinventando e recriando uma nova mulher.
Numa linda noite de ano novo, num jantar em um restaurante, ela conheceu um homem muito especial que faria sua vida muito mais feliz e completa. Tudo aconteceu muito rápido, apenas 75 dias e já estavam dividindo a vida, e hoje comemoram 9 anos dessa união.
Hortência relata que durante a sua jornada teve que conviver com algumas frustrações, como comemorar os 15 anos da filha mais nova sozinha e não da maneira como havia sonhado. Teve um quadro de depressão e após vencer essa crise, decidiu ingressar na Universidade e concluir o curso de Counselor.
Durante todo o período da Universidade, trabalhou com o marido que sempre esteve junto, apoiando e dando suporte para que ela realizasse o seu sonho.
Hoje Hortência tem o seu próprio espaço para realizar as suas terapias e conta com uma carteira de mais de 80 clientes. Generosa, ela destina parte de seu tempo fazendo atendimentos gratuitos e ajudando a comunidade.
Planos? Além de viajar e curtir os netos, Hortência quer organizar um grupo de mulheres na nossa faixa de idade onde, através da troca de experiências, possamos nos ajudar e a exemplo dela, possamos nos reinventar a cada dia mais.
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Lírio 49 anos, trabalhou como agente de intercâmbio e vive há 10 anos na Nova Zelândia.
A Nova Zelândia foi um dos lugares que essa mineira de Belo Horizonte, pode experienciar através de suas andanças pelo mundo.
A sua primeira mudança aconteceu após o seu casamento. Ela e seu marido foram trabalhar no Iraque. Apenas alguns meses dessa mudança e também um pouco antes da guerra do golfo estourar, eles tiveram que deixar o país vivendo uma experiência um tanto quanto conturbada naqueles dias.
Muitas pessoas, assim como eles, tiveram dificuldade com o visto de saída. Ela saiu de uma base militar para a Jordânia e em seguida para o Brasil, mas o seu marido levou 2 meses para se juntar à ela.
Passados 4 meses no Brasil, por conta do trabalho, se mudaram para o Canadá. Meses depois já estavam de malas prontas para Japão e lá Lirio teve o seu primeiro filho. Foram 2 anos em terras japonesas, quando decidiram voltar para o Brasil.
Uma vez no Brasil, ela e seu marido, professor de inglês, decidiram abrir uma escola de idiomas e intercâmbio, e assim passaram 15 anos e tiveram mais dois filhos.
Um dia, num bate papo com um aluno que veio fazer intercâmbio aqui na Nova Zelândia, ficaram impressionados e curiosos sobre esse lindo país e decidiram planejar a mudança para cá.
Ao longo desses 10 anos, Lirio e seu marido construíram uma vida agradável entre trabalho, filhos e lazer. Lirio trabalhou 10 anos como AIDE Teacher. Feliz e adaptada, adora viajar e ainda com planos de estudar, costuma dizer que o mais importante é não ter medo e que sempre é tempo para recomeçar.
Saber quem são, o que fazem, o caminho que tiveram que enfrentar para chegarem até aqui, enche meu coração de admiração e respeito por essas brasileiras tão corajosas, destemidas e determinadas, que transformaram seu sonho em realidade fora do Brasil.
E como disse Lulu Santos em uma música: “Hoje o tempo voa, amor, escorre pelas mãos, mesmo sem se sentir. Não há tempo que volte, amor. Vamos viver tudo que há pra viver. Vamos nos permitir…”
4 Comments
Obrigada Sandra inspirador!
Obrigada por sua história inspiradora, Sandra!
Você põe me indicar alguém ou uma agência que apoie esse processo para imigração?
Grande beijo!
Analú
Amei e me emocionei com seu texto e os relatos de tantas mulheres corajosas e guerreiras. Tenho 36 anos e, no momento, sonha e planejo num futuro breve mudar do Brasil para outro país e a Nova Zelândia é uma das opções que mais me agrada. Força, Vida e Esperança pra todas nós, mulheres pelo mundo!
Há gostaria de saber o endereço de algum site ou contato de algum grupo que dá algum tipo de suporte ou orientação para brasileiras/os na Nova Zelândia,
Olá Violeta,
A autora não faz mais parte do nosso time de colunistas. No momento, não temos ninguém escrevendo da Nova Zelândia para lhe responder.
Agradecemos pela visita.
Equipe BPM