Imagem, vaidade ou transformação?
Acho que não é segredo para ninguém de que as mulheres brasileiras são consideradas e estão entre as mais vaidosas do mundo. De acordo com dados publicados pela ABIHPEC – Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, o Brasil é o quarto país que mais consome produtos de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos perdendo apenas para Estados Unidos, China e Japão – e isso não é pouca coisa.
Independente de faixa etária e classificação social, o fato é que nós, mulheres, nos preocupamos desde muito cedo com nossa aparência física. Aprendemos que ter uma boa aparência é importante para manter a autoestima elevada além de em diversas situações, ser também um dos requisitos para se conquistar uma vaga no mercado de trabalho, por exemplo.
Costumo dizer que beleza é algo extremamente subjetivo, pois o que é bonito para uma pessoa pode não ser para outra – mesmo sabendo que há diversos padrões impostos às mulheres através das mídias e pela própria sociedade. Se, porventura seguirmos esse equivocado raciocínio de imposição, para que uma mulher possa ser considerada bonita nos padrões atuais, ela deve ser: magra, alta, de pele clara, cabelos longos e tenha um corpo escultural só me faz refletir que é justamente por esse tipo de referência de beleza usualmente imposta que diversas mulheres sentem uma pressão irreal e enlouquecedora em busca de tal modelo – muitas vezes levando-as a cometer exageros. Quantas vezes nos deparamos com notícias a respeito de mulheres que morreram em uma mesa de cirurgia em nome da vaidade?
Imagine pensar em ir à praia usando biquíni estando 2kg acima do peso considerado o ideal, sair de casa com a “cara limpa”, ou seja, sem maquiagem, passar uma semana sem fazer as unhas e ficar sem tingir ou escovar os cabelos. Não estou dizendo que ser vaidosa seja um pecado ou que tais questionamentos não possam ser levados em consideração por alguém, mas devo confessar que com o passar do tempo, vou tendo a sensação de que nós, brasileiras, nos preocupamos demais com indagações desta natureza e ainda nos culpamos quando algo relacionado a nossa aparência não esteja dentro dos padrões que, de alguma forma, “aprendemos ou acreditamos” ser a “perfeita”. Com isso, vou tendo a certeza de que estamos totalmente fora da curva ao nos cobrarmos excessivamente nesse aspecto.
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Transformações
De uns tempos para cá, tenho notado tanto aqui nos EUA como em outros países europeus, que cada vez mais mulheres vêm realizando algumas transformações que em um primeiro momento poderiam ser consideradas estranhas para muita gente, contudo, devo confessar que tenho achado tais movimentos bem interessantes. Por exemplo, mulheres usando cabelos extremamente curtos ou raspados, usando cabelos tingidos com cores consideradas exóticas, assumindo os cabelos brancos, executivas deixando de usar sapatos de salto e por aí vai.
Eu mesma sempre tive muita vontade de cortar meu cabelo curtíssimo e depois de muita reflexão, ainda no Brasil, cortei deixando-o exatamente como na foto que vocês poderão visualizar ao lado da minha biografia no final do artigo. Voltei para casa leve, feliz e sempre soube que o mais importante era estar me sentido bem, independente de quaisquer reações e/ou comentários que pudesse receber, embora tenha plena consciência de que somos julgados pela aparência quase que o tempo inteiro.
Com meu novo visual, notei certa decepção na cara de algumas pessoas que, sem se darem conta, deixaram transparecer suas inquietudes com meu corte fora de padrão. No entanto, o mais maluco para mim, foi ser questionada sobre a opinião do meu marido quanto a minha mudança. Naquele momento, tive certeza de que tais questionadores não tinham a mínima noção do quão machistas estavam sendo, pois talvez achassem que eu deveria ter pedido autorização, aprovação e quem sabe um documento registrado em cartório para que meu marido chancelasse minha decisão, algo totalmente desconexo, ao menos para mim.
No último dia internacional da mulher, assisti uma entrevista dada por um representante de uma marca de calçados dizendo que a empresa havia identificado uma queda considerável na venda de sapatos de salto e, em razão disso, estavam investindo em calçados mais confortáveis e sem salto. Quando ouvi tal depoimento, pensei: que máximo! Apesar de gostar e achar sapatos de salto lindos, também acho muito importante prezar pelo conforto.
Morando nos EUA, vou percebendo que além das americanas também serem práticas no que se refere às “coisas de mulherzinha”, vou constatando de que não existe uma preocupação excessiva com a aparência como talvez se tenha no Brasil. Especialmente no inverno, não é raro ir ao supermercado por aqui e ver pessoas usando calças de pijama assim como mães esperando seus filhos na porta da escola. Não é tão incomum ir a um restaurante e ver uma garçonete de cabelo rosa com o braço todo fechado de tatuagens servindo normalmente sua clientela. E sabem o que importa? Que eles estão bem, felizes, confortáveis e não estão nem um pouco preocupados com o que qualquer pessoa tem a dizer sobre isso, aliás, são escolhas pessoais que realmente não dizem respeito a vida de mais ninguém.
Não vou negar que uma das coisas que mais sinto falta morando fora é de fazer minhas unhas semanalmente como fazia no Brasil, pois além de ser um serviço caro, o jeito de se fazer as unhas por aqui está longe de ser como a que aprendemos a gostar. Por esse motivo, vejo três possibilidades:
- Ou ficamos mais desencanadas e nos adaptamos à cultura local – aceitando o estilo de como as unhas são feitas em terras estrangeiras;
- Ou aprendemos a fazê-las sozinhas;
- Ou ainda, encontramos uma compatriota que faça o trabalho – nem sempre é possível e não deixa de ser uma alternativa.
No meu caso, aprendi a fazer minhas unhas sozinha e assumo que não fica a mesma coisa, mas a vida continua e nunca me senti mal por isso.
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Não estou querendo dizer em hipótese alguma que devemos nos descuidar, porém, o que questiono é o peso dessa cobrança e o quanto isso pode consumir, inclusive emocionalmente, da vida de uma pessoa. Acredito que deveríamos refletir até que ponto realmente vale a pena nos cobrarmos tanto por algo que nos é imposto.
Vejo mulheres lindas de todos os jeitos no mundo inteiro e cada vez mais vou me convencendo de que devemos sempre respeitar nossas características físicas sem descuidar da saúde e, acima de tudo, estarmos felizes da forma que escolhemos estar – no final das contas, isso sim é o mais importante.
Um abraço e até o próximo post!
6 Comments
Liliane, otimo texto! E adorei seu visual. ????
Fico feliz em saber que tenha gostado, Valéria.
Muito obrigada pela mensagem.
Um abraço,
Liliane
Oi Lica é impressionante como somos impostas a ser o que querem e não o que realmente queremos, parto do mesmo princípio primeiramente me respeitando e me amando, fazendo o que me deixa bem. Amei seu rico texto!!
Sarita,
Assim como você, eu também acho que devemos SEMPRE nos respeitar e fazer escolhas sem se importar com a opinião alheia.
Fiquei feliz em saber que você gostou do meu texto.
Muito obrigada!
Beijo com carinho,
Lili
Adorei, Lili! Resolvi deixar meus fios brancos mais livres, mas se eu quiser pintar também, tudo bem. Beijos, querida!
É exatamente isso, Vivi.
O importante é estarmos felizes do jeito que escolhemos ser e estar 🙂
Obrigada pela leitura e comentário.
Beijo grande!